Por Gerson Nogueira
Há quem não tenha notado qualquer queda no rendimento do Paissandu nos últimos jogos. Alguns dos baluartes da coluna – entre os quais, o amigo Ney Messias – observaram apenas um pequeno desvio de rota na partida de quinta-feira no Parque do Bacurau, quando o time venceu, mas ficou devendo atuação mais convincente.
Pode ser que seja apenas uma sensação de declínio, mas é fato que o próprio técnico Lecheva mostrou-se incomodado com o desempenho da equipe, tanto que partiu para mudanças radicais (bem sucedidas, no fim das contas) no começo do segundo tempo.
Com um meio-de-campo que não se conectava com o ataque, o Paissandu em nenhum momento se sentiu dono do jogo em Cametá. Levou um gol no primeiro tempo, em falha do goleiro Zé Carlos.
Conseguiu o empate após cobrança de escanteio e virou o marcador, graças à categoria de Eduardo Ramos e ao oportunismo de Djalma, quando tudo indicava que o jogo terminaria empatado.
A grande exibição do Paissandu na temporada foi há duas semanas, quando goleou impiedosamente o Águia e esbanjou entrosamento no meio-campo, aproximação entre laterais e atacantes, além de altíssimo índice de acertos no passe. Atuação quase impecável.
Logo em seguida, veio o Re-Pa e era natural que o time tivesse mais dificuldades. E teve. Mesmo sem atuar mal, deixou a desejar no quesito objetividade e acabou castigado com um gol no final.
Alguns jogadores – Pikachu, principalmente – acusaram o golpe e demonstraram certo abatimento em relação ao clássico. Ousado nos dribles e arrancadas, o jovem lateral mostrou-se inibido diante da plateia cametaense, cumprindo uma de suas piores jornadas desde que virou profissional.
Contra a Tuna, neste domingo, o Paissandu comemora seus 99 anos (transcorridos ontem) e tem a chance de voltar aos trilhos. São dois os motivos dessa expectativa positiva: volta a jogar diante de sua torcida e enfrenta o pior time da competição.
A Tuna de tantas tradições atravessa um de seus momentos mais precários. Conquistou um ponto apenas (na estreia contra o Águia) e não fez gol ainda. Samuel Cândido, sem jogadores de qualidade no elenco, deixou o comando técnico. Por três dias, o clube correu em busca de um substituto e ninguém topou. A responsabilidade acabou recaindo para o auxiliar Marajó.
Contra um Paissandu mais arrumado, com Iarley reforçando a ofensiva, a Tuna não tem como resistir. E Lecheva ganha fôlego para reorganizar o time, já mirando as semifinais do turno.
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Bola na Torre
Tiago Galhardo, meia-armador do Remo, é o convidado do programa de hoje. Guerreiro comanda, com participações de Tommaso e deste escriba baionense. Logo depois do Pânico na Band.
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Depois do leite derramado…
Uma comitiva de dirigentes do Remo, com endosso da Federação Paraense de Futebol e orientação jurídica de Osvaldo Sestário, prepara-se para apelar ao STJD na próxima semana. A ideia é reverter a perda de mandos para garantir que o jogo contra o Flamengo pela Copa do Brasil seja confirmado para o estádio Edgar Proença. A possibilidade de uma renda superior a R$ 1 milhão move os azulinos, embora as chances de êxito da empreitada sejam mínimas.
Mesmo levando em conta que o próprio Flamengo tem interesse em jogar na capital e dispõe de inegável força política nos bastidores, o STJD teria que contrariar várias decisões anteriores para atender ao pleito do Remo. Não se deve esquecer, ainda, que o clube paraense é useiro e vezeiro em punições do gênero, por obra e graça de torcedores mal educados e fiscalização negligente nos estádios.
O Remo sonha com a anistia pura e simples ou a conversão da sentença em pena de alcance social. Se conseguir ser atendido, pode se considerar desde já presenteado por Papai Noel.
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Uma questão de Estado
A violência das torcidas no Brasil, tema sempre atualíssimo, ganhou parecer interessante e que merece reflexão. Em artigo publicado na sexta-feira, o professor Gustavo Pires cita os termos da Constituição portuguesa – segundo a qual, todos os cidadãos têm direito à cultura física e ao desporto, além de tratar da prevenção contra a violência. A situação aflige diversos países, inclusive o nosso. A educação formal entra como fator decisivo no processo, figurando como responsabilidade primordial do Estado.
Como o esporte é potencialmente gerador de violência, observa Pires, a educação tem por objetivo – através da prática desportiva – promover a aprendizagem do autocontrole da agressividade própria dos seres humanos. O Estado, portanto, deve ter uma intervenção decidida através de um projeto amplo de educação desportiva. Se não agir assim, o Estado será forçado a aceitar o papel limitado de repressor, como se nota hoje no Brasil e, particularmente, no Pará.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 03)