Por Gerson Nogueira
Os conselheiros do Remo reelegeram Sérgio Cabeça para mais dois anos de mandato. Na eleição de ontem, Cabeça recebeu 88 votos contra 24 dados ao candidato de oposição, Roberto Macedo. Muito mais do que aclamação ao presidente, cuja primeira gestão termina sem maiores triunfos (principalmente no futebol), o acachapante resultado traduz a ausência de novas lideranças no clube.
A limitação de eleitores não contribui para que surjam alternativas aos nomes de sempre. Durante todo o processo, enquanto conselheiros e beneméritos votavam, um grupo de jovens torcedores protestava do lado de fora da sede remista, em tom pacífico, mas determinado. As faixas eram eloquentes na cobrança por eleições diretas no clube.
Entre as promessas assumidas por Cabeça na campanha está justamente a de instituir o pleito direto, como já ocorre no Paissandu. Mas, antes de efetivar a mudança nos estatutos, proteladas há quatro anos, o presidente terá que convencer a elite que manda no Remo há décadas.
Nem todos os aliados de Cabeça são simpáticos à ideia de dividir espaço com os sócios. Tanto tempo influindo nos destinos do clube alimentou uma mentalidade retrógrada entre os “cardeais”, que não veem com bons olhos a possibilidade de abrir as portas do clube para uma nova geração de eleitores.
O problema é que as mudanças são inevitáveis. A recente eleição no Paissandu confirmou o acerto da adoção do voto direto dos sócios. Além de aumentar a legitimidade da escolha, escancara o clube a novos sócios. Como se sabe, os dois grandes clubes paraenses têm torcidas imensas, mas pouquíssimos sócios.
Essa incoerência tem uma explicação: sempre prevaleceu nessas agremiações a vontade inabalável de uma elite dominante, hostil à menor ameaça de alternância de poder. No fundo, a mentalidade reinante é mais condizente com clubes aristocráticos, que cultivam seletos frequentadores. Óbvio que essa visão não se aplica à força popular que move e mantém viva a história dos dois velhos rivais.
Clubes de massa exigem representatividade à altura da popularidade e da paixão que despertam. O Paissandu já se adaptou aos novos tempos. Resta ao Remo, sob o comando de Sérgio Cabeça, seguir a mesma trilha. Por mais resistências que venha a enfrentar, o presidente reeleito não pode mais recuar. Além das providências urgentes no futebol, este talvez seja o principal marco de sua nova gestão.
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Adesão de cardeais foi decisiva
A vitória tranquila de Sérgio Cabeça foi garantida pela união de esforços dos grupos mais influentes na vida política do Remo. Reticentes quanto à candidatura, só aderiram ao projeto de reeleição nos últimos dias. O apoio público de ex-presidentes, como Ubirajara Salgado, Roberto Porto e Rafael Levy, foi decisivo para a votação obtida pelo presidente. Cabeça conseguiu, ainda, agregar nomes importantes, como Ronaldo Passarinho, Aldemar Barra e Antonio Carlos Teixeira.
Parte da forte rejeição despertada pela chapa de oposição veio da insistência na tese de mudança, sem informar o que exatamente pretendia mudar. Além de desavenças antigas com alguns beneméritos, Roberto Macedo sofreu o desgaste de ter entre seus apoiadores o ex-presidente Amaro Klautau, cuja passagem pelo clube quase levou à perda do estádio Evandro Almeida.
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Atacante bicolor com um pé no Baenão
O dia de ontem foi marcado por uma onda de boatos acerca de contratações no Remo. Até o nome de Tiago Potiguar chegou a ser lembrado como opção de reforço para os azulinos, embora os dirigentes tenham negado interesse no jogador.
Por outro lado, outro bicolor pode atravessar a Almirante Barroso: o atacante Moisés, aparentemente fora dos planos do Paissandu, iniciou entendimentos com os azulinos. Tudo ficou praticamente acertado, dependendo apenas do aval do técnico Flávio Araújo, que só deve se manifestar amanhã. Há, ainda, a possibilidade de que Héliton também se entenda com os remistas, voltando ao clube que o revelou.
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Lista reduzida no Papão
Vandick Lima, que na prática já trabalha como presidente do Paissandu, segue buscando acordos de renovação com os jogadores que interessam ao clube para a campanha na Série B 2013. A lista não é muito extensa. Com a consultoria do técnico Lecheva, o presidente tenta garantir de imediato a permanência de Alex Gaibu, Fábio Sanches, João Ricardo e Rodrigo Fernandes. Dos demais, talvez fiquem Kiros, Leandrinho, Ricardo Capanema e Marcus Vinícius.
Tiago Potiguar, que tem propostas de outros clubes, dificilmente permanecerá na Curuzu. Pesa também o fato de que, logo depois do jogo final contra o Icasa, tenha criticado publicamente o atraso salarial, irritando dirigentes e conselheiros.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 07)