Por Gerson Nogueira
Na última rodada do Brasileiro, um indisfarçado cenário de anticlímax. Afinal, como é praxe em campeonatos de pontos corridos, o título estava entregue há cinco rodadas. Faz tanto tempo que a gente quase esquece quem levou o caneco. De emoção (?) restou a palpitante disputa pelo vice-campeonato, entre Atlético-MG e Grêmio.
São encerramentos melancólicos como o de ontem que conspiram contra o lado cartesiano da atual forma de disputa. Os defensores do modelo costumam argumentar com o exemplo europeu. Há, ainda, a relativa questão da regularidade e do prêmio ao mérito.
É verdade que o campeonato é mais justo e certinho, mas tenho dúvidas se realmente elege os melhores. Acompanhei nos últimos anos jornadas horrorosas de times que se sagraram campeões. O São Paulo de Muricy ganhou pelo menos dois títulos no piloto automático, ganhando por meio a zero e sem maior brilho.
O Corinthians, no ano passado, abusou do recurso da retranca e do contra-ataque. Como tinha elenco mais numeroso, levou o caneco. O Fluminense deste ano tem craques indiscutíveis, mas pratica um futebol econômico e prático, à imagem e semelhança do ex-beque Abel. Chutões, faltas seletivas e raríssimas goleadas (duas, no total).
Este é o campeonato idealizado por muitos e que aceitamos como o melhor. Talvez para o futebol europeu seja de fato a melhor fórmula. Para o Brasil pode ser o caminho para a mesmice e a decadência. Com reflexos no jeito como a Seleção Brasileira joga.
Fico espantado quando vejo críticas virulentas à forma mecânica e à europeia que a Seleção apresenta há algum tempo. Poucos atentam para o fato de que o time nacional é representação cristalina do futebol praticado pelos grandes clubes.
Todos, praticamente sem exceção, adotam esquemas medrosos, povoados de volantes e apostando tudo em contragolpes e bolas aéreas. Qualquer semelhança com o jogo bruto praticado na Inglaterra e outros países não é mera coincidência.
A verdade é que copiamos tudo dos europeus, desde os pontos corridos até o gosto pelo futebol de resultados. Bons alunos, exageramos na dose e criamos um monstrengo que assombra até a Seleção.
A título de comparação, assisti à tarde um movimentado clássico entre Bayern e Borussia Dortmund, pelo certame alemão. Terminou empatado, mas foi um jogo aberto e veloz. E com um punhado de bons jogadores empenhados em fazer o melhor. Bem diferente do que se vê por aqui, onde um goleiro (Cavalieri) periga ser escolhido o craque do campeonato.
Claro que a fórmula que defendo – com cruzamento final entre vencedores de turnos e times que mais pontuaram – não é a solução para todos os males. Mas, seguramente, faria o torneio ficar menos chato e previsível.
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Tempo de recomeço
O Remo começa a temporada oficialmente hoje, com a apresentação do técnico Flávio Araújo e sua comissão técnica. Talvez ainda não haja jogador em número suficiente para armar um coletivo, mas é fundamental que o trabalho se inicie.
Faltam 40 dias para o Campeonato Paraense, competição mais importante da agenda remista em 2013. O desempenho no estadual determinará o futuro do clube no resto do ano. Araújo sabe disso e foi ver o Santa Cruz golear o Castanhal, sábado, ciente de que terá no time salinense um dos principais obstáculos à conquista da vaga à Série D.
Os jogadores listados, indicados pelo novo técnico, se enquadram na política salarial do clube. A expectativa a partir de agora é para ver se rendem o suficiente para transformar o Remo em candidato real ao título paraense. Quanto a isso, o torcedor terá que conter a ansiedade por algumas semanas.
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Sem sinal de mudança
Sérgio Cabeça e Roberto Macedo disputam o pleito presidencial no Remo. São representantes vindos do mesmo núcleo que domina o clube há um século. Integram aquele grupo que se convencionou chamar de elite azulina, cujos integrantes são definidos como cardeais. Nenhum ostenta a bandeira da mudança.
Ambos simbolizam algo que a imensa torcida azulina começa a rejeitar de maneira radical. É comum ouvir nas ruas e arquibancadas afirmações agressivas em relação à casta que controla a vida política remista. Ao invés de serem lembrados como figuras de relevância, conselheiros e beneméritos passaram a ser definidos como “múmias”.
O conceito é até injusto em relação a muitos baluartes do clube, mas o torcedor exprime uma revolta pelo tempo de permanência desse agrupamento no clube, com resultados – pelo menos nos últimos 20 anos – de baixíssima significância.
Pena que, para efetivas mudanças, o clube precise esperar pelo menos mais dois anos, quando finalmente deve seguir o exemplo do rival Paissandu e adotar o voto direto dos sócios como prática.
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A Série B é de paulistas e catarinenses
Uma curiosidade: dois Estados contribuem com metade dos disputantes da Série B 2013. Nada menos que seis times paulistas (Palmeiras, São Caetano, Guaratinguetá, Bragantino e Oeste de Itápolis) e quatro catarinenses: Figueirense, Avaí, Joinville e Chapecoense. Todos na rota do Paissandu.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 3)