Por Gerson Nogueira
Marcelinho Paraíba, que foi apontado como jogador do Paissandu sem nunca ter sido, arrumou as malas e já deixou para trás o projeto de ser o mais bem pago jogador do futebol paraense em todos os tempos. Iria embolsar, por um pacote de sete jogos (que talvez se resumisse a cinco), a quantia de R$ 60 mil, mais carro e hotel. Em menos de 24 horas desabou a lona do circo armado pela diretoria, desmanchando as ilusões do já tão atormentado torcedor alviceleste.
Sob a alegação de que a CBF não permitiria a contratação – respaldada no artigo 49 do Regulamento Geral das Competições, que proíbe a um jogador atuar por mais de dois clubes em quaisquer das séries do campeonato brasileiro numa mesma temporada –, o presidente do Paissandu convocou entrevista ontem para justificar a monumental trapalhada.
Sem argumentos para explicar a patetice no processo de contratação de atleta tão caro, a diretoria tratou de desviar o foco do tema central, aproveitando para reclamar do regulamento criticar comentários pontuais deste escriba sobre o imbróglio Marcelinho Paraíba. Até imagens do blog e da coluna foram mostradas pelo presidente Luís Omar Pinheiro.
O cartola negou que o valor acertado com o jogador fosse R$ 60 mil. A quantia era mais modesta, garantiu, ressalvando que não tinha como comprovar números. Mais ainda: disse que havia dinheiro para o pagamento antecipado, ao contrário do que informei aqui.
Como Jack, vamos por partes. Em primeiro lugar, a quantia negociada pelos sete jogos é exatamente a anunciada pela coluna na quarta-feira – R$ 60 mil, que deveriam ser pagos em espécie. Anteontem, por sinal, nenhum dirigente desmentiu a informação da coluna, que foi repassada por fonte ligada à própria diretoria e integrante do Conselho Deliberativo.
Quanto às dificuldades para viabilizar o pagamento, o fato se tornou quase público quando dirigentes e abnegados do clube foram procurados para ajudar na coleta. Até a noite de quarta-feira, apesar dos esforços, a diretoria não havia obtido a quantia para cumprir o acordo com Marcelinho.
Quando todos esperavam que o jogador se apresentasse para o primeiro treino na Curuzu, emergiu a versão do impedimento legal. Diante do fiasco da transação, a justificativa baseada no regulamento da CBF atenuou o mico da anulação de um negócio amplamente anunciado.
Nas circunstâncias, pode-se considerar que o bendito artigo 49 do RGC caiu do céu, pois, mesmo mal interpretado, como admitiu Luís Omar Pinheiro, permitiu o desmentido quanto à falta do dinheiro e ainda deu a senha para suspender um negócio de alto risco, que já era bombardeado até por seus aliados no clube.
O que espanta, mesmo para os padrões botocudos da nossa cartolagem, é a completa irresponsabilidade na condução do negócio. Contratar um jogador famoso sem saber se ele pode jogar é um erro primário, mesmo para quem insiste em não sair da várzea. Depois deste novo vexame, cujas despesas serão todas bancadas pelo Paissandu, o consolo para a torcida é que deve ter sido a última das lambanças da gestão atual – embora, pelo histórico, seja prudente não duvidar.
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Na entrevista à imprensa, LOP foi apenas ele mesmo, até nas inverdades, papagaiadas e ofensas genéricas. Incapaz de esclarecer a lerdeza para interpretar corretamente o Regulamento Geral das Competições, partiu para a incontinência verbal, a grosseria gratuita e os tropeços gramaticais.
Ocorre que a verborragia beócia não consegue mais engabelar nem mesmo o torcedor mais distraído. Até nos insultos molambentos o presidente do Paissandu não consegue ser original. Repete sem criatividade discursos de falsa valentia que Eurico Miranda usou e abusou no passado.
Por experiência própria, já devia saber que gritos e xingamentos não amedrontam ninguém, muito menos silenciam profissionais independentes. E, caso se considere prejudicado pelas informações, que procure as instâncias cabíveis. Do contrário, que silencie e respeite quem não se submete a gritinhos histéricos. A mais desgraçada das invenções recentes do futebol é a figura do bobo da corte que julga ser rei.
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Enquanto o Paissandu rompe os grilhões do passado e anuncia eleições diretas para o final do ano, o Remo continua enredado nas antigas arengas internas e sem ter a coragem necessária para modificar seu jurássico estatuto. O problema é que a centralização do poder político ainda encanta algumas cabeças coroadas do clube.
Quanta às candidaturas, o quadro começa a se definir. Com a desistência de Aldemar Barra, que preferiu não alterar projetos pessoais, a disputa fica mais ou menos restrita a Roberto Macedo e Raphael Levy, embora Marcelo Carneiro continue articulado.
Quanto aos estatutos, a expectativa é de que o Remo sinta-se desafiado pelo posicionamento do maior rival e decida também sair do atraso.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 28)