O jornalista, cronista e escritor Ivan Lessa, 77, não queria ser enterrado. Respeitando o cuidado com a privacidade, o corpo dele será cremado em uma cerimônia privada em Londres. A data ainda não foi marcada. Lessa morreu na tarde de sexta-feira (8) em Londres, onde morava com a mulher e a filha desde 1978. Até as 14h30, o corpo ainda passava por autópsia e a causa da morte não havia sido divulgada. O escritor sofria de enfisema pulmonar e estava com problemas cardíacos. Sua mulher, Elizabeth, 73, afirmou à Folha de S. Paulo que Lessa estava se tratando há um ano e que já não saia mais de casa. Uma estrutura foi montada na residência para que ele não fosse hospitalizado. Mesmo muito debilitado, Lessa fazia questão de continuar escrevendo para a BBC Brasil.
Dono de uma rara e requintada ironia, Lessa costumava zombar de si mesmo, fazendo, inclusive, referência a sua doença. “Um amigo erudito, que ocasionalmente vem visitar meu enfisema” foi o início de sua crônica para a BBC de 21 de maio, chamada “Palavras, palavras, palavras”. No último texto, escrito por ele na sexta, pouco antes de morrer, cita Millôr Fernandes – a quem chama de mestre. Millôr, que morreu em 27 de março aos 88 anos, era amigo de Lessa e participou com ele da fundação do jornal “O Pasquim”.
Junto de Paulo Francis, Sérgio Cabral e Tarso de Castro, foi um dos principais colaboradores do jornal durante a resistência à ditadura militar brasileira. Criou, junto com o cartunista e amigo Jaguar, o ratinho Sig – inspirado no psicanalista Sigmund Freud -, baseada na anedota “Deus criou o Sexo, Freud criou a sacanagem”. O ratinho se tornou símbolo de “O Pasquim”. No “Pasquim”, ele escreveu, entre outras, as colunas “Gip! Gip! Nheco! Nheco!”, “Fotonovelas” e os “Diários de Londres”. Ivan Pinheiro Themudo Lessa era filho do também escritor Orígenes Lessa. Tinha três livros publicados: “Garotos da Fuzarca” (1986), “Ivan Vê o Mundo – Crônicas de Londres” (1999) e “O Luar e a Rainha” (2005).
Ele também trabalhou na TV Globo e foi colaborador de diversas publicações brasileiras, entre elas as revistas “Senhor”, “Veja” e “Playboy”, e os jornais “Folha de S.Paulo”, “O Estado de S.Paulo” e o “Jornal do Brasil”. Lessa era colaborador da BBC Brasil desde janeiro de 1978, quando deixou o Brasil, com a mulher e a filha, para morar na capital britânica. Quando Millôr morreu, Lessa escreveu : “E agora, por ser fim de semana, descansemos todos e deixemos, principalmente, os mortos, em paz”.
Todo bom jornalista sempre passa pelo Globo.
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