Por Gerson Nogueira
Jogadores jovens dão muita canseira. São difíceis de domar e preparar. Poucos técnicos gostam, verdadeiramente, de trabalhar com eles. No mundo imediatista do futebol, nem se pode culpá-los por preferirem as chamadas cobras criadas. Entre esperar um garoto se firmar, e render o esperado, apelam a veteranos cheios de manhas (e vícios), tentando arrumar logo a casa e garantir vitórias.
Gente que se preocupava com os moleques, como Cilinho e Telê, é cada vez mais rara. Neymar, magrelo como um palito, foi praticamente descartado há três anos por ninguém menos que Vanderlei Luxemburgo. Com a empáfia habitual, o treinador tascou até um apelido no futuro craque: “Filé de borboleta”. Apressado, Luxa pensou, obviamente, que o jovem atacante não tinha lá muito futuro.
Infelizmente, Luxemburgo não é exceção. Quando técnicos rodados são contratados estabelece-se, de imediato, um conflito de interesses. Os clubes sabem, mesmo os mais atrasados – como os nossos –, que a formação de atletas é o grande pulo do gato para sobreviver no complicado mercado da bola.
A equação é simples: meninos oriundos das divisões de base custam pouco e podem ser negociados por milhões, em curtíssimo espaço de tempo. O problema é que os dirigentes enchem os olhos quando ficam sabendo de transações lucrativas, mas esquecem de investir em estrutura e condições de preparo da garotada.
Nesse meio, prevalece, ainda, a abnegação de desportistas de verdade. É o que ocorreu, por exemplo, no Remo. Todos os meninos que estouraram idade em 2011 e subiram para o time profissional foram selecionados por esforço e dedicação de Armando Correia, conselheiro e baluarte da boa formação de atletas.
Mas, quando não há um Correia por perto, os garotos ficam à mercê de preparadores nem sempre competentes. Acabam vitimados pelas mazelas internas dos clubes e, muitas vezes, caem nas mãos de mercadores da bola. A Tuna, referência durante décadas como berço de jogadores, enredou-se em tantos erros de gestão que hoje, ao invés de exportar, importa jogadores de outros clubes.
No Paissandu, onde a necessidade forçou o aproveitamento da prata-da-casa, a expectativa é por investimentos que permitam revelar novos Pikachus, Tiagos, Netos e Bartolas. Como deu para notar neste começo de temporada, basta estímulo, boa vontade e trabalho sério para que os meninos virem lobos.
O primeiro desenho de time esboçado por Roberval Davino traz uma óbvia preocupação com o futebol ofensivo. Nos treinos, o técnico insiste em compactar, aproximando os jogadores e facilitando a troca de passes. Investe em Potiguar como uma das alternativas, tendo a companhia de Héliton, Rafael Oliveira ou mesmo Adriano Magrão.
A chegada de Kiros, centroavante alto, revela também a estratégia de explorar o jogo aéreo, como acontece com todos os times de Davino. No meio-de-campo, os garotos Billy, Neto e Djalma começam com boas chances, ao lado do recém-contratado Fabinho. Quem viu os primeiros treinos coletivos ficou impressionado com o estilo quase didático do treinador.
Davino, aliás, é o convidado especial do “Bola na Torre” de hoje, às 23h45, na RBATV HD. Comando de Guilherme Guerreiro.
A experiência vai se acumulando, mas os clubes não aprendem. Marciano, bom jogador, foi dispensado através da internet, na sexta-feira. Nenhum diretor do Remo tomou a iniciativa de procurá-lo para a devida comunicação. Profissional de bom nível (formado em Direito), o atacante deixa Belém ressentido com o clube. Esperava ser tratado com mais respeito e educação.
A torcida, através de diversas manifestações durante os últimos dias, lamentou a dispensa. Sérgio Cabeça, com aval do técnico Flávio Lopes, teria optado por Cassiano, jogador de trajetória irregular e que nunca empolgou a massa azulina.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 20)














