Suplício de uma saudade

Por Gerson Nogueira

Não dá para saber ao certo se a saudade é do açaí, da maniçoba, da chuva vespertina ou da conversa fiada. O certo é que já faz algum tempo que os jogadores paraenses negociados com clubes de outros Estados não conseguem se estabilizar lá fora. Saem de Belém, mas continuam com o coração ligado na terrina e, assim que podem, voltam ao ninho.
Moisés, que tem sido anunciado como reforço do Paissandu (e até do Remo), saiu daqui com boas perspectivas de arranjar vaga no Santos de Neymar e Ganso. Não emplacou na Vila Belmiro e foi emprestado inicialmente ao Náutico, passando depois um chuvisco no futebol mineiro, sem maior brilho.
Rafael Oliveira teve experiência ainda mais meteórica, ficando menos de dois meses na Portuguesa de Desportos. A saudade foi tanta que, entre disputar posição no Canindé e reassumir seu posto na Curuzu, não pensou duas vezes.
Antes dele, Tiago Potiguar viveu situação parecida. Transferiu-se para o futebol chinês, sofreu num time cheio de pernas-de-pau e voltou correndo para o Paissandu, admitindo dificuldades de adaptação à língua e à culinária orientais.
Para os exemplos bem sucedidos de transferências duradouras para outras praças, como Vânderson, Wellington Saci, Landu e Magnum, sempre há casos como o do garoto Fabrício, que jogou no exterior por um ano e meio, teve chance de fazer carreira lucrativa, mas sucumbiu à saudade. Na volta, não se encaixou no Paissandu, andou pela Águia e hoje está no interior.
Existem muitas teorias soltas por aí tentando decifrar esse banzo que acomete nossos atletas. Penso que a razão mais provável é a própria insegurança de meninos recém-saídos da casca do ovo, que saem de Belém sem qualquer preparação para as agruras competitivas nos clubes de fora. Ao menor prenúncio de insucesso, preferem voltar para casa, comportamento que a psicologia explica bem.
O fato é que o efeito bumerangue irá persistir até que os clubes formadores, principalmente Remo e Paissandu, se estruturem para cuidar direito de seus atletas, ensinando-os a enfrentar qualquer situação, inclusive o fracasso – possibilidade que faz parte da vida de qualquer desportista.
 
 
O embate entre Remo e Cametá, decidindo o Campeonato Paraense, ganhou um ingrediente a mais desde sexta-feira. O que seria uma disputa restrita ao título passa a ser uma briga de foice pela participação no Brasileiro da Série D. É que a boa notícia anunciada pela CBF – custeio das despesas com deslocamentos (aéreos e rodoviários) dos clubes da Série D – traz uma perda para o Pará, que só terá direito a uma vaga na competição. No sistema anterior, era quase certa a desistência de representantes de Roraima e Rondônia, abrindo uma segunda vaga para o futebol paraense.
Vale dizer que um dos maiores batalhadores por essa ajuda da CBF foi o presidente da FPF, coronel Antonio Carlos Nunes.
 
 
Quarenta mil pessoas devem prestigiar o GP de Atletismo neste domingo. Juntando-se aos 40 mil de Remo x Águia e igual público de Paissandu x Coritiba, chegaremos à marca significativa (e cada vez mais rara) de 120 mil espectadores no Mangueirão no período de uma semana apenas. Se juntarmos a segunda-feira, quando Remo e Cametá jogam pela decisão do Parazão, esse montante atingiria a casa de 150 mil.
Duvido muito que outra capital brasileira seja capaz de tal façanha – e isso vale para todas as eleitas, por Ricardo Teixeira e João Havelange, como sedes da Copa do Mundo de 2014. 
 
 
Direto do blog:
 
“Muito bom saber que a Série D será bancada pela CBF. Assim sobra mais grana para reforçar o elenco do Leão, que, passando pelo Mapará, vai atropelar todos no Brasileiro. E é bom que dessa vez o Paissandu suba de divisão porque o Leão está chegando e aí não quero ver choro”.
De Agenor Filho, inteiramente convicto da presença remista na Série D.  
 
 
Bola na Torre terá como convidado o árbitro Dewson Fernando Freitas. Apresentação de Guilherme Guerreiro. Programa vai ao ar às 23h30, na RBATV, logo depois do “Pânico na Band”.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 06)

17 comentários em “Suplício de uma saudade

  1. Gerson e amigos, quanto a coluna de hoje:
    1- O amigo Gerson foi muito feliz quando fala sobre falha na preparação desses garotos psicologicamente,.. a quando de suas formações nas categorias de base. Eles só são bons, com a bola nos pés, o que seria a única coisa necessária, para se jogar uma peladinha de fim de semana e ser chamado de craque do pedaço. Agora, pouco, mas muito pouco, para seguir uma carreira profissional.
    – É por isso (não que pense ser o correto) que muitos empresários investem num garoto desse, compram seu passe, dão dinheiro pra familia dele e, o levam para outros centros, com o objetivo de ganhar dinheiro e, quando chega em um determinado lugar, o garoto quer voltar. Muitos choram de saudades de casa e, o empresário vê seu dinheiro investido, ser jogado fora e, muitos abandonam esses garotos por lá, tamanho o prejuizo que tiveram.
    – Quanto ao Cametá, agora, querer participar, duvido muito, pois aqui no Parazão ele ganha muito mais do que a CBF vai dar e, está como está. Aliás, se o Presidente do Cametá não tivesse assinado algum documento para o Remo, desistindo da série D, o Remo aceitaria divisão de Renda? Se vale como valorização do espetáculo, ótimo, mas na minha opinião, o Remo já está na série D, independente do resultado e, que na minha opinião, o Remo, se continuar a jogar seu bom futebol apresentado até aqui, será o campeão Paraense de 2012. Anotem.
    É a minha opinião.

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  2. Gerson, não acho que o problema do Rafael Oliveira seja saudade, acho mesmo que ele não joga nada, absolutamente nada, pelo menos nos dois jogos contra o Coritiba não ví assim nada que justificasse sua contratação por outro time, até porque, não considero a Portuguesa time grande.

    Sobre a decisão Remo x Cametá, como torcedor paraense, embora torça pelo Paysandu, não me conformo com o fato do jogo ser realizado na segunda-feira. Decisão de campeonato paraense, pricipalmente envolvendo um dos maiores rivais, tem que ser jogada em dia de domingo.

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  3. Gerson

    Há tempos eu penso nessa historia de jogador que sai de do Pará e não da certo em outras praças.Acho que em alguns casos o fator técnico conta muito,as vezes um jogador que é tido no nosso fraco futebol como um craque fora de série,la fora é só mais um armandinho ou perna de pau.

    Thiago Potiguar e Moisés chegaram a ser chamados de Messi aqui em Belém.Geralmente esses atletas não acertam também por falta de vontade de vencer no futebol,estão acomodados com a nossa realidade ou as vezes eles costumam botar culpa nos outros,como foi o caso do Velber que não deu certo em nenhum time em que jogou fora do Pará e ainda disse que foi boicotado pelo Rogério Ceni. Nos anos 90 o futebol paraense foi melhor divulgado pelos nossos atletas,Geovani ,Arthur e Alex Dias são bons exemplos.Acho que na verdade falta profissionalismo e as vezes futebol mesmo.

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    1. São questões que merecem ser consideradas, amigo Marcelo. De fato, muitas vezes o insucesso dos boleiros paraenses tem a ver com más influências e apego às barcas de Belém, se é que me entende.

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  4. Gerson, no caso do Rafael Oliveira, segundo dito pelo próprio e não desmentido por nenhum dos atingidos, o retorno, e exatamente para onde se deu o retorno, não teria decorrido de saudade. Teria sido motivado por ele ter sido enganado pelo empresário, não ter recebido nenhum tostão na Portuguesa e ainda ter créditos salariais retidos no rival. Aliás, no clube luso o Rafael jogou e chegou até a marcar gol.

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  5. Acredito que seja melhor para o atleta ele está atuando que se certa forma é uma vitrine do que o mesmo ir precosimente para um centro maior ir ficar esquentando um banco ou até mesmo não ser relacionado para o jogo, isto em, um ano ou mais o seu futebol desaparece e fica esquecido da midia e com isso o seu valor despenca, o que seria promessa de craque vira um tremendo perna de pau pela falta de oportunidade e no caso do Moisés talvez aquele pró verbio popular se enquande bem. Eu era feliz e não sabia.

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    1. Menos digo eu, Otávio. Não misture paixão com análise, camarada. Landu permaneceu jogando lá fora, em times medianos, mas não bateu e voltou logo pra casa, justamente o tema da coluna.

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  6. Impressionante como o Coronel se empenha em causas do interior, em especial quando contrárias ao Remo. Quando foi criada a tal série D, não vi um esforço sequer do Coronel em garantir a vaga do Remo em 2009. Em 2005, conseguiu mexer os pauzinhos para colocar o Abaeté na Série C e em 2010, o Cametá na Série D. Coronel é assim mesmo, gosta de interior…

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  7. Acredito que com a conquista do campeonato, o mais querido subirá facilmente para a terceira…. Ano que vem tem REXPA na terceira. Por isso o desespero dos listradinhas…

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  8. Não só despreparo psicológico, na grande maioria deles é deficiência técnica mesmo. No Pará, qualquer um que se destaque um pouquinho mais, jogando contra adversários de qualidade técnica questionável, já é considerado um ‘craque’ ou coisa assim.

    O cara, quando é bom mesmo, igual a Giovani, não tem essa de voltar por saudade da terra ou porque não se adapta lá fora.

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  9. Não é só isso, meu caro Cássio Andrade. O empenho do coronel é pelos times do interior sobretudo quando não há nenhum prejuízo para o Paissandu.

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  10. O que o Gerson disse, no poste de número 6 resume bem a realidade de nossos jogadores – “quase todos” os jogadores que atuam no futebol paraense, são oriundos de futebol pelada, logo, muitos deles são adpetos de um bom copo de cerveja bem gelado, além disso, quando os mesmo aportam em clubes como Paysandu e Remo, sempre se deparam com as famosas cobras criadas e são levados para as barcas da felicidade, onde acontecia muito isso, era no Paysandu, sob os cuidados de Sandro (talagada) Goiano, Vanderson (copo cheio) e Lecheva ( alanbique). Então, esse jogadores como poderiam ter o caminho do bem, se os mesmos se deparavam com o mal.
    Penso, que falta personalidade e carater ao ser humano, primeiro deveriam se dar valor, não ser pessoas influênciaveis ou de fácil manipulação, o Welber foi um doas maiores exemplos como jogador qualificado por nossas bandas, porém o seu passado de peladeiro, o fez voltar as raizes, onde preferiu viver em meio as barcas e seu retorno ao futebol paraense foi eminente.

    Um caso diferente é o do bom meia ROGÉRINHO que saiu do Riacho doce e que começou a carreira de jogador no REMO, é depois passou com extremo brilho pelo meu Paysandu.
    O mesmo já rodou meio mundo, mais ainda tem mercado Brasil a fora, para evitar um retorno precoce a nossa capital. Assim e que deve ser, primeiro tem de pensar na carreira, para depois começar a farra eterna.

    Exemplos como o de Charles Guerreiro, Geovanni, Arthur, Aldo, e outros devem ser seguidos, não recomendo seguir os passos de Sandro, Vanderson, Welber, Albertinho, Landu, Alex Oliveira e muitos outros biriteiros de carteirinha.

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