Sob ameaça de extinção

Por Gerson Nogueira

Querem matar um craque – no caso, o único jogador incontestável nesse momento de curva decadente do futebol brasileiro, Neymar paga alto preço pela ousadia. A confiança no próprio taco faz com que não se intimide diante dos zagueiros carniceiros e da excessiva brandura das arbitragens.
Mostra-se desassombrado ao arriscar o drible em velocidade. É corajoso nas arrancadas em direção ao gol. O jogo que se pratica hoje não tolera tanto destemor. A intolerância se exprime de diversas maneiras. A diferença está apenas na intensidade e freqüência dos golpes.
Ao longo do tempo, a prolongada ausência de talento nos gramados pariu uma estranha inversão: ao craque é vedado exibir livremente seus recursos, pois isso parece ofender os despossuídos. Até mesmo os árbitros, que deveriam preservar os bons, bandearam-se para o lado dos infiéis, que desfrutam de ampla liberdade para matar e esfolar. No Brasil pentacampeão, apanhar em campo é o castigo por jogar mais que os outros.
Tradicional fábrica de craques, o Santos tem vasta experiência no assunto, desde os tempos de Pelé & cia. Investido dessa autoridade histórica, resolveu botar a boca no trombone para resguardar sua jóia mais preciosa.
Reúne imagens de jogos para repassar às principais instâncias do futebol a prova do crime: os times praticam acintosamente o rodízio de faltas para conter Neymar. É o velho artifício de usar vários jogadores para bater e, com isso, evitar advertências e expulsões.
Uma observação a respeito daquele surrado argumento de treinadores e jogadores violentos, segundo o qual a falta é recurso normal do jogo. Conversa furada. Falta é arma dos incompetentes, uma anomalia, jamais expediente legítimo.
Como o futebol é um esporte de choque, faltas são aceitáveis até certo ponto. Quando usadas deliberadamente para combater o talento, devem ser punidas com rigor. Federação Paulista de Futebol, Confederação Sul-Americana e Fifa receberão o dossiê santista, mas o bom senso recomenda que a CBF e os verdadeiros apreciadores do futebol também se aliem a essa cruzada. É uma luta maior, que diz respeito à sobrevivência do craque.
De temperamento altivo, o camisa 11 santista não teme a brutalidade. Tem resistido bravamente aos ataques. No meio da semana, contra o Comercial, recebeu dez entradas violentas sem que o árbitro mostrasse um cartão vermelho aos seus algozes.
Pelé, Garrincha, Zico, Ronaldo e Romário também sofreram marcação implacável e até desleal ao longo de suas carreiras, mas poucas vezes se observou tanta truculência contra um jogador como a que hoje ameaça Neymar.
Algo precisa ser feito, já, para que o melhor jogador brasileiro chegue inteiro a 2014.
 
 
No segundo turno do Parazão, o Remo de Flávio Lopes deve jogar assim: Adriano; Balu, Diego Barros, Sosa e Aldivan; André, Jonathas, Betinho e Marciano (Jaime); Fábio Oliveira e Cassiano.
Mais do que mudar peças, o técnico Flávio Lopes vem procurando modificar as características do time. Do estilo retraído e lento do primeiro turno, a equipe tem sido mais rápida nos treinos.
Reina um quase desespero nos arraiais azulinos, cuja temporada depende da conquista desta fase e do próprio campeonato. Cada jogo será uma decisão. As observações de Lopes renderam duas boas descobertas: Jonathas como volante e Betinho mais adiantado. E prestigiaram uma fracassada invenção de Sinomar: Cassiano como titular. Nem se pode dizer que o tempo vai mostrar os efeitos das mudanças. O Remo não tem tempo.
 
 
O Paissandu, ainda sob o comando de Nad, entra no returno com: Paulo Rafael; Pikachu, Douglas, Tiago e Jairinho; Vânderson, Billy, Robinho e Cariri; Adriano Magrão e Bartola (Héliton).
O torcedor foi compreensivo com o fraco primeiro turno, mas o Paissandu não passará pelo returno imune a pressões. O projeto que deu vez aos jogadores da base corre sérios riscos se o time não engrenar. É certo, porém, que misturar a qualidade dos reforços – Magrão, Harrison e Potiguar – ao ímpeto dos novos pode ser uma boa receita.   

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 26)

5 comentários em “Sob ameaça de extinção

  1. Fui ensinado pela escola da vida e pelos meus pais a respeitar ,criticar de forma construtiva se for o caso e a elogiar se o objeto ou sujeito alvo merecer.O blogueiro é de longe o maior colunista paraense, sem menosprezo aos demais . O diferencial é sua veia poética.Escriba-poeta.
    Quem tem inveja ( os amigos e verdadeiros comentaristas sabem a quem me refiro) que desenvolva essa arte de escrever fazendo poemas tal qual outro Nogueira , Sandro Moreira e Joao sem medo.O nosso ponto de encontro é muito bom, democrático até às raias do limite tênue da linha que separa da Anarquia( ainda bem que existe moderação, a defesa legal dessa diferença).Esse ponto de encontro ,chamado de boteco virtual pelo escriba-poeta-roqueiro deve ser mantido sempre em alto nível.Simples assim!
    Para finalizar outro bordão: Certeiro como flexa que acerta o alvo!Parabéns pela coluna nobre baionense!

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  2. Com ceteza , gosto muito do Elias Ribeiro e do Sergio Noronha e outros, mas no quesito coluna futebolistica voce realmente tem esse estilo poético de escrever.Antigamente o Ivo Amaral tbm tinha esse estilo ,mas nunca MAIS li a coluna dele.
    Em suma o Pará realmente tem bons profissionais , diferenciados ,no jornalismo esportivo.Noronha é sucinto ,objetivo e sem firulas, FerreIra tbm.Mas esse estilo de desfilar verborragia poética é raro no país todo.

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  3. Gerson, sobre o paragrafo Neymar, ontem o arbitro expulsou tres da Ponte Preta, por cometerem jogo brusco… assim a integridade do mesmo fica protegida…o Kleina deitou falação…aí o pobre do mediador (he he he ) fica entre a cruz e a espada….

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