Um freio no besteirol

Por Gerson Nogueira

A categórica resposta do atacante Hernán Barcos a um repórter metido a gaiato pode estabelecer novas regras de convivência entre atletas e imprensa esportiva no Brasil. Faz algum tempo que, influenciados pela estratégia da TV Globo de transformar fatos em futricas e jornalismo em comédia, uma geração inteira de jornalistas brasileiros passou a tratar informações jornalísticas na área esportiva como algo superficial.
Como se o futebol (e qualquer outro esporte) não fosse coisa séria para muita gente. No fundo, a questão é de enfoque e oportunidade. Não se pretende que toda notícia deva ter abordagem carrancuda. Existem assuntos que, visivelmente, pedem um tratamento mais leve e brincalhão. O problema está no excesso e na generalização.
A brincadeira, por exemplo, com o boneco “João Sorrisão” virou uma praga nos campos de futebol. A cada gol, jogadores correm logo para as câmeras a fim de reproduzir a dança idiota. Às vezes, esquecem de comemorar com a própria torcida. Essa mesma tendência gerou inspiração para outras coreografias ridículas, como a do “bonde sem freio” e do “trem descarrilado”, centradas no abominável funk carioca.
O futebol, de fato, tem costas largas. Serve de escada para todo tipo de oportunista. Quase todo mundo, de empresários a artistas, se aproveitam de sua indiscutível força popular. Chato é observar que o jornalismo, cuja missão básica é informar, se rende a macaquices do gênero, sujeitando-se a esculachar com sua própria razão de existir em troca de alguns minutinhos de audiência.
Vai daí que os programas esportivos na TV resumem-se hoje a um desfile interminável de presepadas sem graça, em sua imensa maioria. Atletas riem de qualquer pergunta tosca e, com isso, estimulam os repórteres a exagerar na dose. Por vezes, é visível o constrangimento dos entrevistados, que se submetem porque sabem do risco de ir para a lista negra.
Pior do que o despreparo do repórter que abordou Barcos foi o posicionamento de seu chefe imediato, Tiago Leifert, um dos papas da nova onda, que defendeu a estratégia de tentar arrancar piada a fórceps. Aliás, diga-se, uma tendência exclusivamente brazuca. Pela resposta firme, Barcos demonstra ter uma consciência profissional acima da média. Não é mais um alienado em busca de exposição na mídia. Houve quem considerasse grosseira a sua reação. Não foi. Reagiu como um cidadão zeloso pela sua imagem.
Mais politizados que seus colegas brasileiros, os boleiros argentinos são acostumados a fazer valer seus direitos e já realizaram inúmeras greves para protestar contra abusos de dirigentes. O uruguaio Loco Abreu, do Botafogo, também já andou desconcertando repórteres desavisados. Além da longa vivência no futebol, Abreu é jornalista profissional e sabe muito bem distinguir fato de embuste.
E que ninguém pense que os maus hábitos que rondam a cobertura esportiva na TV são exclusividade da Globo. Como sempre ocorre, os vícios são copiados (às vezes, para pior) por quase todos os programas das demais redes nacionais. Já era tempo de alguém dizer que o besteirol não agrada a todos e que nem todo jogador é “boludo” (babaca).

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O jogo-treino de sábado, contra o Comercial, apesar do placar de 3 a 0, deve ter deixado o técnico Flávio Lopes assustado. O time do Remo precisa de reparos urgentes e o campeonato já recomeça na próxima semana. De positivo, apenas o inesperado aproveitamento de Jônathas no meio-campo. Sinomar passou seis meses no comando e nunca botou o garoto para jogar.

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Do músico Alcyr Guimarães, ontem, no Bola na Torre: “Tem jogador que tira nota 10 num jogo, enche a gente de esperança e tira 5 na partida seguinte. Como é instável, ficamos sem saber se é um cara normal que, de vez em quando, tira um 10 ou se é um craque que às vezes tira 5”. Além de cantor, compositor, biomédico e professor, Alcyr jogou bola como profissional e, portanto, sabe o que diz.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 20)

7 comentários em “Um freio no besteirol

  1. Gerson e amigos, tenho me agradado muito com o Flávio Lopes, nesse início de trabalho, no Remo. Pelas entrevistas dele, o comparo com técnicos preparados para enfrentar clubes de massa. Não vai atrás do que falam, pois tem opinião própria. Me fez lembrar Giva, Edson Gaúcho e Giba, pela postura profissional, inclusive diante da mídia.
    – Dizer se vai dar certo no Remo, é outra história. Um bom técnico se conhece, pelas disposições táticas de sua equipe em campo e, na hora das mexidas, durante o jogo, e outras coisas mais.
    – Só penso que as contratações estão demorando muito.Hoje, se apresentou o Volante André, agora, escuto o Caxiado falar que 2 meias devem chegar, hoje. Acredito que 5 ou 6, já eram pra estar aqui.

    – Imitando o amigo Gerson:

    FRASE DO DIA: ” Hoje,pela classificação que aí está, o Cametá e a Tuna já estariam na série D”.
    – De Charles Guerreiro, técnico da Tuna, mostrando o quanto está ligado nos critérios de classificação à série D, desse ano. Te dizer…

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  2. De uma felicidade ímpar as argumentações do artigo de hoje em sua coluna Gerson. Chega de presepadas, macaquices e quejandos. Futebol, esportes… o jornalismo, em suma, são coisas muito mais sérias do que possamos imaginar. Onde está, por exemplo, o jornalismo investigativo de certas emissoras ao não apurar as ações perdulárias e danosas da madrasta CBF em relação à Copa 2014 e ao futebol nacional como um todo, tão notórias que mesmo o termo “investigativo” de possíveis reportagens, matérias e pautas sobre tais temas seria mero acessório decorativo? Nossos tempos são medíocres, de fato.

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  3. Voltando mais cedo de um sítio de um amigo e já lendo a coluna do ilustre baionense.COLUNA merecedora do prêmio : Certeiro como flexa que acerta o alvo ou Como ponte sobre rio turbulento.
    Corroboro e em todos os apectos semânticos, simióticos e gramaticais e mais ainda no ponto jurídico do texto.
    Quando comecei aqui a defender que os excessos de ofensas pessoais e à intituições tenham que cessar , muitos achavam e acham que eu exagero.
    A imagem da pessoa é constitucionalmente protegida. Louco Abreu já havia realmente dado respostas atravessadas á reporteres incautos e aqui nesse democrático blogue há aqueles que aprendem por imitação a escrever sem saber ou sem saber o peso legal das palavras não imaginam o quanto isso é sério.
    Senti-me feliz que enfim algumas alas do jornalismo sério e responsável possam de fato esclarecer para os leigos o quanto NÃO se pode brincar ou ofender a honra e a dignidade bem como a imagem de uma pessoa ou instituição.

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  4. Continuando: Ofensas à imagem e honra das pessoas e intituições passíveis de reprimendas legais, sanções cíveis e criminais.Se Barcos quissesse poderia processar o tolo reporter porque a brincadeira da comparação física com outra pessoa tinha um próposito bem cristalino: depreciar, desdenhar, humilhar sua plástica individual.E até Zé Ramalho tbm poderia pedir que o tal reporter se explicasse .Infelizmente só ler nosso código civil quem estuda Direito.Claro profissionais da ComunicaÇÃO, ALGUNS.
    Se as pessoas soubessem os riscos que correm , leriam mais a CF/88 , os códigos, cívil, processual, penal,CC.

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  5. Gerson, eh claro que esses jogadores riem de qualquer pergunta tosca. Pois esse eh o universo vivido por esses bando de “burros com dinheiro”. Afinal percebe-se que ter dinheiro, mas, mal e porcamente ter o primario completo, no final pesa na balanca.
    Gerson, você consegue conversar alguma coisa inteligente com um jogador de futebol atual?
    Eu ja tentei.. Rsrs!
    O Mundo desses caras eh dancar pagode…rsrs!

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  6. Infeliz de quem ( Qual é teu nome demônio?) desperdiça sua vida e sem amigos e sem ninguém viva solitariamente multifacetado monologando consigo mesmo.
    Amigos verdadeiros do blogue bom dia.Que essa quarta não seja de cinzas, mas sim de esperança tal qual a fênix que ressurgiu,renasceu firme e forte.
    E que JESUS na sua PERENE sabedoria expulse todos os demônios de nossas vidas e faça uma limpeza espiritual em todos nós, nos proporcionando saude e paz.

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