A perda da hegemonia

Por Gerson Nogueira

O sinal de alerta foi ligado ainda no ano passado quando a Seleção Brasileira patinou feio na Copa América e os clubes nacionais tiveram resultados decepcionantes nas competições continentais. Houve uma época em que os problemas só surgiam nos clássicos tradicionais contra os argentinos, principalmente.
Uruguaios, paraguaios, equatorianos, chilenos, colombianos, bolivianos e até bolivianos dificilmente criavam dificuldades para equipes brasileiras. Quando isso acontecia, era zebra pura. Hoje, porém, a sequência de insucessos já desaconselha denominar derrotas como resultados surpreendentes.
O torcedor brasileiro passou a conhecer e teve que aprender a respeitar na marra times de quase nenhuma tradição, como LDU, Universidad de Chile, Once Caldas, Unión Española, Deportivo Tachira, Libertad, Junior Barranquila e Real Potosi.
Na verdade, essa nova realidade se esboça claramente há pelo menos seis anos, a partir da Copa do Mundo de 2006, e ganhou ares de rotina com as crescentes dificuldades nos confrontos regionais.
Em termos de conquistas na Copa Libertadores, o Brasil não faz feio e tem ido a finais com freqüência nos últimos 12 anos, mas chama atenção o nivelamento geral da competição. Ao contrário de outros tempos, qualquer adversário, por mais modesto que seja, enfrenta os representantes brasileiros em pé de igualdade dentro do Brasil.
A derrota do Vasco para o Nacional de Montevidéu, quarta-feira, em São Januário, é apenas o mais recente insucesso de um grande clube brasileiro no principal torneio do continente. Mais preocupante foi o desassombro que os uruguaios demonstraram, partindo ao ataque desde os primeiros minutos.
Em contraste com as hesitações táticas do Vasco, o Nacional fez um jogo planejado e esbanjou entrosamento. Os setores mostraram aproximação e o toque de bola rápido e envolvente chegou a lembrar, guardadas as proporções, o estilo empregado pelo Barcelona de Pep Guardiola.
Todo mundo sabe que a qualidade do passe aumenta quando os jogadores encurtam as distâncias. Essa condição exige treinamento e muita disciplina tática. Os times chilenos e uruguaios, principalmente, vêm apresentando essa evolução na maneira de jogar.
Nas equipes uruguaias merece registro – desde a campanha da Celeste na Copa do Mundo, na Copa América e do Peñarol na Libertadores do ano passado – a assumida prioridade pelo bom futebol e o abandono do anti-jogo. Antigamente, jogar contra os uruguaios era certeza de quebra-pau no apito final. Hoje, redescoberto o gosto pelo futebol bem jogado, eles voltaram a disputar (e vencer) as competições mais importantes.
 
Quem diria… Nada como uma boa vitória para fazer esquecer erros cabeludos e atuações pouco convincentes. O fato é que, depois do triunfo sobre o Águia, Sinomar Naves está nos braços da galera remista. Execrado pela sequência de três derrotas (Paissandu, Tuna e São Francisco) e a complicada classificação às semifinais do turno, o técnico fez as pazes com boa parte da torcida do Remo, que resolveu apoiá-lo incondicionalmente. Com direito a ataques furiosos aos críticos do trabalho de Sinomar, fechando os olhos até para os erros mais primários na escalação da equipe e a indefinição tática do time.
Nas ruas, no trabalho e nas redes sociais já é visível essa mudança de sentimentos da torcida em relação ao treinador. Atitudes que antes eram combatidas por todos passaram a ser observadas por outro prisma. Até mesmo a crônica insistência com os volantes Felipe Baiano e Adenísio já não é alvo de tantas restrições.
Na prática, o torcedor entende que o momento é de abraçar a causa, nem que para isso seja preciso aturar o técnico. A palavra de ordem é tolerância – pelo menos até o desfecho da semifinal, amanhã. 
 
 
Geovanni, craque revelado pela Tuna e que brilhou no Santos e no Barcelona, é o convidado do programa Bola na Torre de amanhã, às 21h, na RBATV. Comando de Guilherme Guerreiro.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste sábado, 11) 

17 comentários em “A perda da hegemonia

  1. E Gerson, como diz minha querida mae: ” Meu filho, as vezes nos somos obrigados a engolhir sapo feito file`. Infelizmente a situacao do Remo neste momento ainda e muito delicada, a unica coisa a fazer neste e apoiar o time, independente da opcao do treinador, o clube e mais importante do que a vaidade e a falta de clarevidencia do Sinomar.

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  2. Gerson, meus cumprimentos pelo artigo, oportuno e bem tecido. Preocupo-me com o Brasil de 2014. Para melhorar, muita coisa
    tem que mudar. Muita coisa boa tem de acontecer. Se não, vamos
    “inaugurar” de novo o Maracanã.

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  3. Mais do que certeira como flexa que acerta o alvo a coluna do nobre baionense.Sem entrar nos detalhes o escriba elucidou o que está nos atrasando taticamente.Primeiro nossa forma de jogar .Os técnicos gostam de usar dois e até tres volantes.Aqueles marcadores que só sabem dar botinadas nos adversários e não tem criação de jogadas.Um armador que lance ao estilo de Ganso é raro nos nossos times , parece até que somos a Lapônia ,tal a escassez de bons armadores.Postei aqui em dezembro ou novembro após uma coluna do jornalsita-roqueiro nos mesmos moldes dessa que os times uruguios, chilenos, estão implantando aos poucos esse estilo de jogo com tendências e predileções ao bom futebol , ao sistema ofensivo.O que é uma vergonha para nós.Como disse naquela época ,meses atrás , repito o Brasil corre risco de sofrer outro maracanazzo ou ,pior ainda nem chegar lá no maraca.Pois só irá jogar lá se chegar à final.

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  4. Segundo ponto crucial para nossa estagnação é a falta de planejamento e prioridade às bases.A morte do menino lá nas peneiradas do Vasco diz muito sobre isso.Um clube centenário e famoso no mundo inteiro ainda não valoriza a importância de uma base bem estruturada.Não é só nossos clubes paraenses que não enxergam a necessidade de uma base bem firme em alicerces sólidos.

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  5. O problema do futebol brasileiro começa nas divisões de base onde a pressão por resultados faz com que os técnicos priorizem a força em detrimento da habilidade. O maior ícone desse problema é o atacante Souza do Bahia que passou com sucessopelas seleções de base do Brasil, destacando-se por conta do seu porte físico avantajado. Porém, o referido jogador fracassou nos grandes clubes por onde passou devido a sua flagrante deficiência técnica, isso prova que foi mal trabalhado nas divisões de base.

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  6. Mariano este é um dos problemas .Não o problema.
    Exigir resultados faz parte do negócio.Mas é preciso que haja condições de trabalho para os meninos da base e para profissionais.Lembre-se que o Carlos Dorneles ,hoje no Papão deu entrevista em 2009 eu acho afirmando que não recebia salários fazia muito tempo.Nem lembro quantos meses sem receber , mas muitos meses.Ele sobrevivia do salário de outras fontes.Quer dizer os dirigentes não tentam soluções , apenas empurram para um cantinho qualquer.No caso do vasco por exemplo deu-se uma oportunidade para uma criança fazer testes sem nenhuma bateria de testes cardíacos, físiscos e etc.Já deram um cala-boa para o pai do menino porque isso é sério demias,merece punição e está tipificado no ordenamento juridico.Negligência.
    E falar em Souza do Bahia essa vai para o amigo Columbia: Amanhã tem BA-VI lá em Salvador.Sabe quem são os técnicos dos dois times ? Falcão de um lado e Cerezzo de outro.Eis porque estamos na serie C e sem divisão e eles bem à frente da gente.

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  7. * Muito bom convidar o Giovani ex craque santista, pois o mesmo dependendo da entrevista poderá dar fim nesta frieza que há entre ele e a imprensa paraense desde que o mesmo foi jogar fora do estado.

    **O Santos o time que mais revelou craques para o futebol brasileiro contrtatou um tal de Fucile.
    Aí está um dos principais agravantes para que o futebol brasileiro vá perdendo terreno para os times vizinhos.

    Estão trocando nossas revelações por “craques de fora”, quase todo time tem um, aqui no pará não é diferente.
    Nos principais clubes brasileiros as vezes tem mais de dois.

    Aí na hora de formar uma seleção cadê os craques?
    Os que vem de fora são europeus e estão podre de ricos e os daqui estão sem moral, poucos escapam.

    Enquanto isso tem garoto de 14 anos morrendo no treino do Vasco.

    Não sou contra os estrangeiros, mas esta “invasão” está demais.

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  8. O engraçado disso tudo amigos e que, para que servem então os clubes entermediários, médianos, emergentes, se os campeonatos parecem que foram feitos apenas para os clubes denominados GRANDES. Penso totalmente o contrário a essa lógica que teima sempre em mostrar, que os outros clubes não devem ter vez, muito menos devem sorrir.
    – Vou usar o exemplo do nosso futebol paraense, que desde que foi iniciado, à quase 100 anos atráz, apenas três clubes se revezavam a conquistar titulos em nosso estado, Paysandu, Remo e Tuna Luso. Eis que no ano passado, o INDEPENDENTE de Tucuruí, quebrou está sequência, está hegêmonia de apenas clubes da capital ter o prazer desta conquista.

    Eu acho, que se não ouvesse outros clubes para fazer frente aos clubes tidos como GRANDES, era melhor deixar apenas os três jogando entre sí, sem à intromissão dos chamados emergentes.

    Já pensaram amigos, se não houvessem seleções a fazer frente a nossa “fortissima” seleção brasileira, não haveria competitividade e a meu ver não teria graça nenhuma entra em uma competição, onde nunca seriamos derrotados. Sempre a de haver, clubes, atletas, pilotos, etc…A competirem com total chance de vencer e conquistar titulos.

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  9. Vou tomar o Paysandu como exemplo em outra situação, o mesmo perdeu dentro de Belém para o Cruzeiro de (BH) na copa dos campeões, foi a Fortaleza em um estádio neutro e reverteu a vantagem do time considerado grande e bastante superior ao nosso Papão, assim como fez com o Boca Jr°s na Argentina, vencendo o mesmo na “bombonera” feito considerado por muitos, como ínedito, pois o BOCA JR°s em seus dominios e considerado quase imbativel, mais naquele ano o Paysandu provou que não havia ninguém imbativel ou invencivel e fez história.

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  10. Em relação ao Geovanni, pouco se comenta que o mesmo antes de se transferir para o Santos, teve uma breve passagem pelo Paysandu, juntamente com o Ageu Sabiá, que brilhou com as camisas de Tuna e Remo, no Papão o “barriga de cavalo” como era chamado por colegas, foi apenas discreto.

    Lembro-me de um jogo envolvendo o meu Paysandu contra a Tuna Luso no Mangueirão, isso quando o mesmo ainda era o bandolão do Benguí. Onde o promissor jogador, fez um golaço concluindo uma jogada do Ageu e, foi comemorar mostrando sua genitalia para a torcida bicolor, acho que a RBA deve ter essas imagens obscenas envolvendo o Geovanni.

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  11. Quanto ao Remo há que se dar um desconto para a torcida. Afinal, quem tem de criticar e encontrar erro até nas vitórias são os cronistas. A torcida não, vaia quando perde e aplaude quando ganha. na verdade. Valeu Fenômeno!

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  12. Não existe má vontade, faz parte do modo de ser do Giovani. Vivi a experiencia de entrevista-lo (eu e o Valmir Ridrigues) no programa
    Cadeira Cativa da extinta Mais TV. Seu acanhamento natural e a sua ligeira gagueira tornan-lhe arredio. Só isso.

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  13. Efeito colateral de Gaúcho, Robinho e Neymar. Todo garoto quer pedalar e dar show, ou seja, precisamos formar 10s e 8s, como Zico, Falcão, Sócrates, Rivaldo, Alex cabeção. Não à toa Ganso carrega tanta esperança. Habilidade, malabarismo não são fundamentos, precisamos de passe e criação, deslocamento e tabelinhas como antigamente.

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  14. Gerson, tive a mesma impressão sua ao ver o jogo dos vascaínos. E essa flagrante defasagem técnica e tática de nossas equipes frente aos centros menos tradicionais – e mesmo ao centros tradicionalíssimos – do futebol continental e mundial começa a descontentar e incomodar até mesmo a técnicos e jogadores. As declarações de Cristóvão (sobre a transição entre defesa-meio-ataque), Juninho Pernambucano (sobre o time vascaíno ser muito pesado) e Neymar (que muitos associaram apenas ao seu condicionamento físico mas que, na verdade, referia-se à facilidade proporcionada pelo Botafogo de Ribeirão Preto ao ataque santista) são significativas nesse sentido. Mas não tenhamos tanta esperança, pois a mudança que urge acontecer, a reconciliação do futebol brasileiro com sua própria história, também requer mudanças estruturais, e isso os dirigentes, os clubes e suas estruturas administrativas, e os que pagam a fatura mensal do futebol (anunciantes, CBF, as inúteis federações estaduais, as tvs e etc) não estão dispostos a fazer.

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  15. O Giovanni certamente foi, até agora, o maior jagador paraense em todos os tempos. Por ser avêsso a mídia, por questões pessoais, não é badalado pela imprensa local. Sou ouvinte da Clube deste criancinha e tem certas coisas que não esqueço, e essa gostaria de ter gravado. Na Copa de 1998 na França estréia do Brasil, Giovanni titular, pasmem de segundo volante, desde esse dia detesto o Zagalo, no primeiro tempo o Brasil não foi bem o GIGGIO foi queimado, e é aí que entra a Clube, comentarista de plantão Carlos Castilho, este, sentou o pau no nosso conterrâneo, defendendo a entrada do pomada do Leonardo no lugar do Giovani, se tenho raiva do Zagalo imaginem o que acho do Carlos Castilho, inclusive fiquei admirado da eloquência do “cacá” justificando a substituição naquela ocasião, interessante que hoje ele fala o contrário, por isso que disse antes que gostaria de ter gravado

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