Depois de grande suspense, a Série C suspendeu o campeonato na sexta-feira depois do expediente, concedendo uma pequena vantagem ao Paissandu: o aumento do tempo para que o novo treinador, Andrade, se familiarize com os jogadores e tente dar ao time feições táticas próprias. No geral, a paralisação da disputa é ruim para todos os clubes envolvidos.
Na verdade, ainda irão se passar muitas luas até que o cidadão comum, fã do futebol sem maracutaia, entenda de verdade o que ocorreu com o grupo E da Série C. Afinal, até a última rodada da etapa anterior, tudo corria às mil maravilhas, com a disputa restrita ao campo de jogo.
O Rio Branco cumpria excelente performance, classificando-se com louvor (e uma rodada de antecipação), quando foi abatido em pleno vôo. Ação judicial para reabrir o estádio Arena da Floresta foi interpretada como insulto à CBF, uma das instituições mais vingativas de que se tem notícia no país. Ocorre que o Rio Branco interpelou decisão da Procuradoria Geral do Acre, não contra a confederação. De nada adiantou essa alegação.
Defenestrado, o Rio Branco assumiu de repente o papel de zumbi, assombrando a todos com sua determinação de não desistir da vaga legítima no desdobramento da competição. Em espetacular finta de natureza jurídica, digna do drible do vento que o chileno Valdívia gosta de aplicar, o RB fingiu obter liminar na Justiça do Acre para na verdade centrar esforços no instrumento concedido pela Justiça do Rio.
O truque deu certo e obrigou a CBF a lançar mão de todas as armas, legítimas ou não, para derrubar a liminar. Confronto entre Davi e Golias nos bastidores do futebol. O desfecho – talvez ainda não definitivo – da história foi a paralisação dos jogos, anunciada anteontem. Volta-se à estaca zero, mas o Rio Branco não perdeu a parada.
A valentia do clube, produto de mobilização geral no Acre, é digna de aplausos. Mais ainda porque todos sabem o que pode advir desse enfrentamento com a entidade presidida por Ricardo Teixeira. América (MG) e Gama (DF) estão aí mesmo para provar que o destemor pode custar muito caro.
Ao Paissandu, que não passa de mero espectador das escaramuças, resta torcer como nunca pelo Rio Branco, cuja presença na chave é ainda a melhor alternativa para conquistar o acesso à Série B.
No primeiro treino que comandou na Curuzu, na sexta-feira, Andrade confirmou tudo o que já se sabia dele. Tranqüilo e tímido com os torcedores, mostrou-se à vontade na conversa com os jogadores. Essa característica é apontada, desde o Flamengo, como sua maior virtude. Aproximou-se de todos, produzindo de imediato a reintegração de alguns renegados, como Alexandre Carioca e Allax.
Sua maior ousadia, porém, foi eleger Josiel como seu interlocutor e homem de confiança no elenco. A escolha é natural, pois ambos se conheceram no clube carioca. O aspecto complicado dessa escolha é a rejeição da torcida ao atacante, depois de ofensas às mulheres paraenses e à cidade de Belém – desmentidas sem muita firmeza.
Por tudo isso, a provável escalação de Josiel como titular talvez seja o gesto mais ousado do conciliador Andrade no Paissandu. A conferir.
O grande absurdo dessa Copa cercada por medidas esquizóides se materializou na quinta-feira com a virtual exclusão do estádio do Maracanã da rota mais interessante do torneio. Não há sentido lógico no esvaziamento do principal palco do futebol no país em todos os tempos, ainda mais diante dos altos custos de sua reforma.
A histórica vocação de Ricardo Teixeira para atos de retaliação (fato já mencionado no primeiro comentário) talvez explique o inexplicável boicote ao Maraca, que corre o sério risco de não sediar um jogo da Seleção Brasileira, enquanto Fortaleza tem duas partidas confirmadas.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 23)