Pelo segundo ano consecutivo, o Campeonato Brasileiro inicia a reta decisiva sob total indefinição quanto a favoritos ao título. Vasco? Corinthians? São Paulo? Botafogo? Fluminense? Flamengo? Qualquer um dos seis primeiros (todos de Rio e São Paulo) pode-se considerar no páreo para a conquista do título. A diferença entre o líder Vasco e o sexto colocado, Flamengo, é de míseros seis pontos.
Do ponto de vista da emoção e do interesse das torcidas, o êxito da disputa é indiscutível, mas do ponto de vista técnico esse equilíbrio todo não é sinal de excelência. Muito pelo contrário. A realidade é que os clubes estão nivelados no comportamento errático ao longo da disputa e nas limitações técnicas de seus jogadores.
Os seis primeiros os que mais venceram, mas sem sustentar uma sequência de bons resultados que assegure confiabilidade. Quanto ao encanto, é moeda em desuso neste torneio. Aliás, só houve um jogo realmente encantador até agora: aquele Santos e Flamengo na Vila, com vitória rubro-negra por 4 a 3 e show particular de Ronaldinho Gaúcho.
O Corinthians liderou por mais rodadas, mas é também um dos mais imprevisíveis, capaz de se impor diante de Vasco, Santos, Flamengo e Botafogo, mas de atuações bisonhas frente a adversários mais frágeis. O Flamengo chegou a ameaçar embalar, mas ficou nisso: parou na incrível série de 10 jogos sem vitórias. Ainda assim, aproveitando-se dos ziguezagues inimigos e já encostou novamente no pelotão da frente.
Neste campeonato com pinta de Rio-São Paulo de luxo, o Vasco desponta como o menos irregular de todos, mas também sujeito a apagões inexplicáveis. Por estar garantido na Libertadores – venceu a Copa do Brasil –, parece mais leve e descompromissado que os demais. Foi também buscar forças extras na união dos jogadores e diretoria a partir do drama envolvendo o técnico Ricardo Gomes.
O São Paulo, ainda sem contar plenamente com seu maior reforço (Luiz Fabiano), se mantém lá no alto até por força da tradição em certames nacionais e pelo grande elenco. O Botafogo é a imagem mais cristalina da incerteza reinante. Faz bons jogos, ensaia engrenar, mas tropeça nas próprias pernas e frustra seus torcedores.
Quanto ao Fluminense, campeão de 2010, vem comendo pelas beiradas e já tem a melhor campanha do returno. Mais que isso: tem vencido jogos com valentia, demonstrando força para atropelar nos momentos decisivos. Tem peças de reposição e um técnico experiente (Abel). Dependendo das próximas rodadas, pode se credenciar como novo favorito ao título. Isto se não vacilar, como os demais.
Em programa esportivo de um canal fechado, na segunda-feira, Carlos Alberto Parreira teceu loas a Mano Menezes, dizendo que seu trabalho na Seleção está no rumo certo. É justamente isso que dá medo. Quando o popular Pé-de-Uva acha que algo vai bem, pode tirar o cavalo da chuva. Seu único acerto na carreira foi a Copa de 1994. Antes e depois, rigorosamente nada. É, por assim dizer, um Lazaroni com sorte.
Da série “o futebol é uma festa”: Corinthians faz planos de estrear Adriano, aquele que já foi Imperador e hoje é rei do chinelinho, por 30 minutinhos em campo no próximo domingo, contra o Atlético-GO. Para quem fatura mais de R$ 800 mil todo mês, o robusto atacante até que se esforça para combater o ócio.
Jorge, um paraense
Cordato e gentil, apesar do pouco estudo. Dono da chamada polidez natural, justamente a mais valiosa de todas. Assim era o Jorge, porteiro por ofício, gente fina por natureza. Morreu ontem, aos 42 anos, num leito do PSM da 14 de Março, derrubado por doença que fingimos não existir mais: tuberculose. Cidadão comum, sem plano de saúde ou parentes importantes, não detectou a doença em tempo hábil. Diante da notícia, que chegou no meio da tarde, presto esta pequena homenagem ao bom amigo que parte em silêncio, como tantos outros brasileiros. Que Deus o tenha.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 5)