Pensando bem, foi melhor assim. Paulo Henrique Ganso fica de fora do escrete (a lista de espera é apenas protocolar), mas pelo menos não corre o risco de encarar um treinador hostil, que o convocaria a contragosto, somente para ficar bem com a torcida. Temos exemplo recente e bem próximo de nós que respalda minha opinião. Em 1998, na Copa da França, o também paraense Giovanni foi chamado por insistência de Zico, contra a vontade de Zagallo.
Giovanni sentiu na pele o azedume e o caráter destrutivo da oposição de Zagallo. Foi posto a marcar o ataque da Escócia logo na estréia do Brasil, para espanto geral e deleite de Galvão Bueno, que desceu a lenha no talentoso meia-armador, jogando a torcida contra ele. A arapuca tinha um autor óbvio e uma vítima desprevenida.
Só depois de ser substituído, execrado pela atuação desastrosa em função que não conhecia, Giovanni entendeu o quanto custa não ser alguém do agrado do chefe. Ainda nos vestiários foi insultado e humilhado por Zagallo diante dos companheiros – e de Zico. Estava fechado, em verde e amarelo, o curtíssimo ciclo do Messias no escrete.
A história é bem conhecida dos que acompanham os bastidores da Seleção. Ganso talvez a conheça, pois é amigo/pupilo de Giovanni. A essa altura, mesmo frustrado por não poder defender a Seleção, deveria sentir até certo alívio. A explicação é simples: se fosse chamado, dificilmente jogaria. Se jogasse, estaria sujeito a altíssimo risco de sabotagem, pois é notório que Dunga não morre de amores por jogadores habilidosos e alimenta pinimbas pessoais que lembram os métodos de Zagallo.
Jogador de força, eterno brucutu, Dunga tem até motivos para ressentimentos. Foi alvo de campanhas implacáveis como símbolo do futebol-força depois da Copa de 90 e não conseguiu limpar totalmente a imagem nem mesmo com a conquista de 94. Seu apego aos operários “patriotas” e à lealdade bovina traem esse recalque.
Doni é bom exemplo desse tosco padrão de avaliação. Em rede nacional, Dunga informou que o goleiro vai à África do Sul porque teria se rebelado com seu clube (Roma) para servir à Seleção. A verdade é outra. Doni perdeu a posição para outro goleiro, brasileiro também, Júlio Sérgio. O técnico ignora critérios técnicos e premia a suposta lealdade.
Curiosamente, Diego, que também comprou briga pública com seu time de então (Werder Bremen), foi esquecido. Titular e principal jogador da Juventus, foi preterido na convocação. Seu desprendimento não comoveu Dunga. Talvez porque seja um armador clássico. Se fosse volante…
Sobre o show midiático de ontem, duas observações. A mãe de Dunga é sofrível professora de história (não ensinou ao filho nada sobre escravidão e ditadura). E a lista, previsível, tem a maior quantidade de jogadores comuns de uma Seleção Brasileira em Copas: Doni, Michel, Gilberto, Gilberto Silva, Josué, Felipe Melo, Kleberson, Julio Batista, Grafite…
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 12)