A paella do Lula

Por Clóvis Rossi

Jornalista da minha geração estranha quando vira notícia. Eu, a bem da verdade, estranho até quando vejo meu nome na capa da Folha, encimando um texto, como se o nome fosse a notícia, não o texto. Por isso, fiquei chocado ao virar notícia por conta de uma queda na terça-feira à noite, aqui em Madri, que causou a fratura de duas costelas.

Passado o choque, lembrei-me da insistência de meu amigo Sérgio Leo (“Valor Econômico”), um desses jornalistas que dão orgulho da profissão, para que eu escreva um livro contando bastidores de coberturas jornalísticas. Ainda não me convenceu, mas, já que a notícia está no ar, ouso contar detalhes da queda e dos desdobramentos posteriores porque imagino que há coisas de que o leitor nem desconfia.

O presidente Lula havia terminado de discursar, após receber prêmio. Sempre que isso acontece, os jornalistas (e muitos outros no auditório) tentam se aproximar do presidente, para arrancar uma frase ou, simplesmente, mostrar a cara. Foi o que tentei fazer, mas pela via errada. Em vez de subir pela escadinha que levava ao palco, tentei escalar o degrauzão do meio. Escorreguei, cai de costas e fraturei as costelas.

Ainda assim, me levantei, usei a escadinha mas, ao chegar perto do bolo, estava como Jorge Araujo, um extraordinário fotógrafo da Folha, costuma brincar: “Já vi cadáveres mais corados que você”. Descrição perfeita para meu estado naquele momento. Se não fosse Patrícia Chiarello, misto de diplomata (da assessoria de imprensa do Itamaraty) e anjo-da-guarda de jornalistas, me mandar sentar e tomar água, teria desmaiado no meio do palco.

O presidente Lula se aproximou e constatou o mesmo que o Jorge Araujo: “Você está branco e suando frio”. Não me lembro se foi antes ou depois da frase de Lula que o coronel Cléber Ferreira, médico da Presidência, me examinou. No momento em que apalpou minhas costas, detectou a fratura e iniciou as providências para que eu fosse levado ao hospital. Tentei resistir, dizendo que precisava terminar os textos do dia e enviá-los para a Folha. Aí, baixou o coronel no médico, e as ordens foram cumpridas.

Ele fez questão de me acompanhar na ambulância e no hospital, enquanto fazia as radiografias e um exame de urina para ver se a queda trouxera outras complicações. Primeira observação que, imagino, o leitor não desconfia: é possível, sim, a um médico da Presidência abandonar o presidente para dar atenção a um jornalista. É verdade que, naquela altura, o jornalista precisava dele mais que o presidente, mas o gesto fica. Como ele me contou no caminho, foi só o seu lado coronel que forçou Lula a não viajar para Davos, em janeiro, quando passou mal em Recife.

Segunda observação: Patrícia e também a Ana Maria, da Comunicação Social da Presidência, seguiram a ambulância até o hospital para, depois, me resgatar e levar para o hotel. Fizeram mais: reservaram um apartamento no hotel em que estava a delegação brasileira, o Intercontinental, para que eu ficasse próximo do médico, delas próprias e também da Janaína e da Sylvia, outras moças da assessoria. É verdade que tenho, desde sempre, bom relacionamento com o pessoal do Itamaraty, mas, francamente, não esperava tanta atenção e cuidado.

Já no começo da madrugada, outra cena de que o leitor talvez tampouco desconfie: aparecem no hotel os companheiros Andrei Netto (“Estadão”), sua mulher, a Lu (“Portal Terra”), Assis Moreira (“Valor Econômico”) e Fernando Duarte (“O Globo”). Todos eles haviam me amparado no local da queda e acompanhado meu percurso na cadeira de rodas até a ambulância. Ou seja, a competição no meio jornalístico pode ser intensa e às vezes selvagem, mas a solidariedade entre alguns também é formidável. Na atitude dos três, nada que me tenha surpreendido. Embora Andrei e Fernando sejam de uma geração bem mais jovem, trabalhamos juntos em várias ocasiões, sempre competindo, mas lealmente, e sempre pondo o companheirismo acima da concorrência. Nenhum de nós acha que é preciso dar uma facada nas costas do concorrente para fazer melhor o seu próprio trabalho, sem adversários.

Pouco antes da chegada deles, aparecera no meu quarto uma quentinha, enviada pelo presidente Lula. Eu já havia jantado, no próprio quarto. Por isso, ofereci a paella (o conteúdo da quentinha) aos companheiros. Assis Moreira não se fez de rogado. Comeu toda a paella do presidente.

Aí, chegaram Lula e sua turma. O assessor diplomático Marco Aurélio Garcia, os ministros Nélson Jobim e Franklin Martins, Nelson Breve, também da SECOM, Carlos Villanova, diplomata que é o segundo de Franklin na Comunicação Social da Presidência, em geral encarregado com competência das viagens internacionais de Lula. Talvez houvesse mais alguém com eles, mas eu não tinha condições físicas de girar o corpo para ver quem se postou atrás de mim.

Lula chegou no exato momento em que eu havia iniciado assim o texto: “Sem se manifestar desde que deixou o Irã na segunda-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem tempo para “amadurecer as reações” em torno do acordo com os iranianos (e os turcos) antes de se pronunciar”.

Ordenei: “Senta aí e escreve o resto, vai. Você sabe melhor do que eu o que você pensa e diz”. Observação final: minha relação com o presidente (e também com o seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso) sempre foi cordial, como pessoas físicas. Como pessoas jurídicas, critiquei um e critico o outro, às vezes impiedosamente, mas esse é o jogo certo (acho eu) entre jornalismo e política.

Com FHC, a relação era mais formal, pela idade de cada um. Com Lula, é mais relaxada, até porque o conheço desde o tempo em que eu é que podia mandar quentinhas para ele, não o contrário. Tanto que me despedi brincando: “Você é um péssimo presidente, mas um notável ser humano”.

Agora, chega. Vou obedecer as ordens do doutor e coronel Cléber e me recolher ao repouso por tempo indeterminado mas que espero seja breve.

No Real, Mourinho será técnico mais bem pago

José Mourinho será técnico do Real Madrid a partir da próxima temporada. O português, campeão europeu pela Internazionale de Milão neste sábado, acertou na noite de sexta, véspera da decisão, sua ida para o clube da capital espanhola. A notícia foi revelada pelo jornalista Duncan Castles, do inglês “Sunday Times”. Castles é muito próximo a pessoas que trabalham no staff de Mourinho e fez uma longa entrevista com o técnico português dez dias atrás. “Nada estava certo até sexta, quando Florentino Pérez foi até Mourinho e o convenceu de acertar tudo antes da decisão. Ele comunicou o presidente (Massimo) Moratti depois da partida contra o Bayern”, contou o jornalista ao ESPN.com.br.

Após o jogo, Mourinho já teria dito que quer ser o primeiro treinador da história a ganhar a Champions League por três clubes diferentes – antes do título com a Inter, havia levantado a taça pelo Porto, em 2004. Enquanto o time voltou imediatamente depois da final para a Itália, o técnico ficou em Madri com amigos e familiares. O português vai receber o maior salário de todos os tempos pago a um treinador, 12 milhões de euros por temporada (aproximadamente 27 milhões de reais) – já descontados os impostos. O contrato com o Real Madrid será assinado para um período de quatro anos e ele recebeu a promessa de Florentino Pérez de poder controlar o clube e as contratações como quiser.

O primeiro a chegar será o lateral brasileiro Maicon, campeão europeu com Mourinho na Inter. Apesar de dizer, após a final em Madri, que “quer cumprir seu contrato” com o clube italiano, Maicon vai ao Real junto com Mourinho por aproximadamente 23 milhões de euros.

Coluna: Decisão no meio-campo

Gian e Vélber foram escalados no meio-campo nos dois últimos coletivos, à frente dos volantes Danilo e Didão. Caso essa formação isso se confirme, na tarde deste domingo, é uma evolução em relação ao sistema fixo de três volantes utilizado nas últimas cinco partidas, com resultados positivos, mas sujeito a muitos sustos.
A presença de dois homens de criação significa que o Remo terá bom passe desde os primeiros movimentos. Como fundamento básico, a qualidade do passe geralmente resulta em boas jogadas ofensivas. E poupa o time (e a torcida) daqueles insistentes chutões em ligação direta para o ataque, com péssimo aproveitamento.
Ao optar por Gian e Vélber, o técnico Giba abre a possibilidade de ter três atacantes em tempo integral. Vélber tem por característica se aventurar em jogadas de aproximação da área, principalmente em tabelinhas com os atacantes. Às vezes, aparece também como finalizador, como no gol de empate sobre o próprio Águia na primeira partida da decisão.
Com Gian em campo, surge vantagem extra para o Remo. As jogadas passam a ter bom aproveitamento desde a saída, através de lançamentos com endereço certo: Landu, que deve ter bastante espaço para explorar a velocidade. Marciano vai jogar próximo à área, esperando os cruzamentos.
No Águia, a ausência de um volante dinâmico como Analdo no meio terá um peso expressivo no trabalho de proteção aos zagueiros. Sua substituição por Soares acrescenta, porém, mais força ofensiva. E atacar é o que mais o time de João Galvão precisa fazer para conquistar o turno.      
 
 
Há poucos dias, jornalista inglês dizia na TV que o grande trunfo da Inglaterra na Copa será o clima. E explicou: 32 anos depois, o torneio será disputado sob baixa temperatura – média prevista de 15 graus. A última Copa jogada nessas condições foi a da Argentina, em 1978. Livre do calor, o English Team teria a chance de encarar os demais favoritos de sempre (Brasil, Itália, Argentina e Alemanha) em “igualdade de condições”.
Nesta sexta-feira, um ícone do futebol britânico, Bobby Charlton, 72 anos, campeão mundial em 1966, revelou todo o seu otimismo quanto ao bicampeonato. Curiosamente, aposta suas fichas no estilo durão do técnico Fábio Capello, na qualidade dos jogadores e (de novo) nas condições climáticas da África do Sul. Fiquei encafifado. Será que o frio das savanas vai mesmo beneficiar o leão inglês? A conferir daqui a 20 dias.
 
 
Sete títulos brasileiros na década e quase metade das vagas à Libertadores no mesmo período. Esse é o cartel ostentado pelos 5 clubes brasileiros donos das melhores estruturas de treinamento, recuperação atlética e preparação de atletas: Atlético-MG, Atlético-PR, Cruzeiro, S. Paulo e Santos. Os demais membros do grupo top dos CT’s são Palmeiras, Inter, Goiás, Grêmio e Botafogo. A pesquisa, divulgada pelo Sportv, foi encomendada a especialistas em fisiologia e gestão esportiva. Confesso que o 1º lugar do Galo me surpreendeu. 

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 23)