Meu pai-avô Juca não saía de casa sem pôr o chapéu de palhinha. Era um ritual seguido com os olhos, com redobrada atenção, por este escriba que vos fala. Ele apanhava o chapéu posto em descanso na parede e batia de leve na parte superior para tirar a poeirinha. Depois, fazia uma espécie de quina, para tornar o bicho mais elegante. Só então, após ligeira ajeitada nos cabelos, fazia o dito cujo pousar no alto da cabeça, com leve inclinação para a direita. Feito isso, saía para o mundo.
De chapéu ficava parecendo um daqueles atores americanos de filmes P&B, tipo um Richard Widmark. Porte firme, sem afetação. Era a manifesta vocação de elegância de um homem simples nos idos de 66, lá em Baião. Conto essa historieta a título de reflexão nestes tempos de gente deselegante, intolerante e dada a falsos brilhos.
No meio da semana, Vanderlei Luxemburgo desceu do salto para reclamar da ingratidão dos meninos da Vila. Dias antes, os moleques zombaram dele, provocando-o para o embate de volta da Copa do Brasil. Falso malandro, Luxemburgo perdeu a elegância ao tentar puxar as orelhas de Neymar, André, Ganso e Robinho.
Ora, a alegria cantoria santista não pretendia humilhar ninguém. Foi apenas brincadeira de quem está naquela idade que desconhece etiqueta. Nenhuma sangria desatada, apenas sarro. Luxemburgo, que se proclama moderno, não entendeu a mensagem. Pareceu arcaico e datado.
Achou que, como “autoridade”, não poderia ser cutucado. Bobagem, pode e deve. O que seria do tal espírito da juventude sem o desassombro de mexer com figuras metidas a ilustres? A anarquia santista só tem graça porque se materializa em dribles e gols dentro de campo. Se fossem ruins de bola, as piadas não teriam sentido.
Com os queixumes e a promessa magoada de não mais voltar a treinar o Santos, Luxemburgo esquivou-se de explicar a derrota atleticana e embarcou na temerária onda da auto-piedade, dando excessiva importância a si mesmo. A elegância distinta do chapéu de meu avô cairia bem no topetudo treinador.
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Águia e Cametá decidem a segunda semifinal do returno. As duas campanhas nesta fase indicam um jogo parelho, sem facilidades. Se cumprir a promessa de entrar com três atacantes – Jailson, Torrô e Balão – o técnico Vítor Jaime pode até não vencer, mas confirma a fama de corajoso.
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Meu filho Pedro faz 21 anos hoje. Passou rápido, parece que foi ontem. O tempo voa, implacável. Nasceu no ano em que o Botafogo rompeu a longa noite de jejum de títulos. A coluna de hoje é dedicada a ele.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 9)
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