O tema é espinhoso, desperta discussões acaloradas e posicionamentos apaixonados, mas a decisão que o STJD tomou nesta semana respeitou a lei e estabeleceu justiça. Jóbson, o paraense de 22 anos, apanhado no exame antidoping depois de defender o Botafogo contra Coritiba e Palmeiras no Brasileiro do ano passado, teve a suspensão de dois anos reduzida para seis meses. Com isso, está apto a voltar aos gramados a partir de 20 de julho.
O atacante veloz, de drible fácil e boa finalização, que encantou na reta final do campeonato nacional, quase foi banido do futebol, conforme as regras internacionais para doping. O STJD, que já havia tomado a temerária decisão de praticamente perdoar o Coritiba pela batalha insana no estádio Couto Pereira, teve inesperado acesso de lucidez. Foi, acima de tudo, um tribunal preocupado com a recuperação de um atleta.
Jóbson, desiludido e abandonado por quase todos, admitiu a intenção de abandonar o futebol. Ao lado da mãe, que comoveu nos apelos de clemência para o drama do filho, assumiu o vício. A decisão final do tribunal recoloca as coisas em seus devidos lugares. Jóbson, mais que réu confesso, é vítima das drogas. Esse argumento foi acertadamente esgrimido pela defesa no julgamento e os auditores acataram a tese.
A punição inicial de dois anos, por excessivamente draconiana, satisfazia a fúria punitiva dos críticos de plantão – alguns defendendo até que a sanção se estendesse ao clube, na forma da perda de pontos –, mas menosprezava o lado humano. Que sentido há no castigo que ignora a reabilitação? Nem criminosos contumazes estão privados desse direito.
Jóbson manifestou problemas que afetam a vida de muitos outros profissionais do futebol. Alguns, espertamente, driblam as zonas de risco e se mantêm a salvo do temido exame antidoping. Prospera, no futebol do eixo Sul-Sudeste, a desconfiança quanto ao súbito veto à escalação de alguns craques às vésperas de jogos importantes. Seria o último recurso para escapar a um flagrante por uso de substâncias proibidas.
Como no futebol o antidoping é por sorteio, ao contrário de esportes olímpicos como a natação, que examinam periodicamente seus atletas, muitos se safam por absoluta sorte. Não foi o caso de Jóbson, que, reincidente no vício, acabou flagrado e execrado. Já pagou a pena da exposição pública, preparando-se agora para dar a volta por cima, a partir do zero. Torço para que reencontre o caminho certo, na bola e na vida.
Aliás, cabe observar que a decisão da justiça isentou o Botafogo porque o crack não é uma droga estimulante e, portanto, não altera o rendimento do atleta. Não potencializa a performance esportiva, como esteróides e outras substâncias do gênero. Ao contrário, provoca letargia e submete o usuário a riscos, inclusive cardíacos. Jóbson, acima de tudo, precisa de estímulo, apoio e oportunidade para voltar a jogar. E de acompanhamento especializado para não recair no vício.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO deste domingo, 2)