Remo e Paissandu descobrem, aos trancos e barrancos (embora o logro venha de longa data), o quanto custa carregar nas costas o futebol paraense. Matéria publicada nesta edição do Bola expõe em números a crítica situação da dupla diante dos confiscos da Justiça do Trabalho e dos inúmeros descontos, com destaque para a famigerada taxa de 10% destinada à Federação Paraense de Futebol.
Pelo balanço da maré evidencia-se uma incoerência: só quem lucra com o Parazão, até agora, é a entidade. Para a dupla que mais investiu em contratações, mobilizando torcidas e patrocinadores, o torneio é um mau negócio, pois só gera perdas. Mais que o prejuízo com as pendências judiciais, originárias do longo passivo deixado por gestões inconsequentes, incomoda ver como Remo e Paissandu servem passivamente aos interesses de tantos. Difícil avaliar se a incapacidade de reação deriva dos temores de retaliação ou representam o preço das conveniências políticas.
De pires na mão, tentando manter a cabeça acima da linha d’água, os dois velhos rivais batem no mesmo tambor há meses: o rigor excessivo da Justiça do Trabalho, que vem confiscando quantias cada vez maiores das arrecadações nos estádios, culminando com o desconto de 80% das rendas de Paissandu e Remo nos jogos de abertura do Parazão.
Concordo que há certo exagero, mas é preciso entender que, para a Justiça, a função social prevalece sobre eventuais preocupações com a saúde financeira dos clubes. De mais a mais, é o preço a ser pago por uma fieira de administrações caóticas (salvo exceções) desde os anos 80.
Pior que o bloqueio determinado pelo TRT é o desconto na fonte que a FPF impõe aos clubes. Sem dó. Do faturamento do jogo de domingo restou ao Paissandu pouco mais de R$ 1 mil (que pularia para R$ 17 mil depois que a Justiça abrandou o confisco). A entidade que manda no futebol saiu com R$ 10,8 mil, sem precisar suar a camisa. Na partida do Baenão, anteontem, a retirada foi maior: R$ 13,3 mil. Limpos.
Os dirigentes tentam contemporizar, talvez para evitar problemas futuros. O mandatário do Paissandu até aceita como justo o naco destinado à FPF. Os remistas, mesmo com atraso, já esperneiam contra a facada de 10%, incoerente sob todos os pontos de vista. Quando muito, o desconto deveria ser feito sobre o valor líquido, jamais em cima das arrecadações brutas. Com isso, os clubes, que têm todas as despesas, pagam para jogar enquanto a federação fica com o lucro. Até quando?
A juíza paraense Alessandra Tourinho, juíza do Trabalho da capital paulista, concedeu liminar ontem à noite em favor do jogador Lucas, que está em litígio com o São Paulo. Ela desconsiderou o contrato de gaveta que o clube firmou com o atleta aos 14 anos. De imediato, ela comunicou a decisão à CBF e ao Tricolor. O mérito do processo será julgado em data a ser definida. Alessandra é filha de Artur Tourinho, desportista e ex-presidente do Paissandu.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 20)