Fiquei acompanhando, desde domingo, as desculpas em série para a derrota da Seleção Brasileira em La Paz. A vilã, no fim das contas, foi mesmo a altitude boliviana. Pouco importa se o meio-campo não dava conta de trocar dois passes ou se o time, no melhor estilo bumba-meu-boi, mandava chutões para a frente na vã esperança de que Adriano e Nilmar conseguissem aproveitar algum rebote da defesa.
Também não se levou em consideração a quantidade de falhas bisonhas do goleiro Júlio César, que chegou a se confundir com a luz do sol, como se na Itália, onde joga atualmente, não fizesse um mormaço sequer. Da mesma forma, não houve qualquer reparo à fraquíssima atuação da dupla de zaga, que bateu cabeça com o anêmico ataque local.
Na prática, depois da confusa e medíocre apresentação, estabeleceu-se uma blindagem em torno da Seleção, com alguns mais apressados defendendo a extinção dos jogos na altitude – tese que sempre vem à tona quando o resultado é desfavorável ao Brasil. Sabe-se que, para uma adaptação perfeita à altitude, são necessários 21 dias de antecedência. Para atenuar os efeitos mais dolorosos, os especialistas recomendam chegar pelo menos 48 horas antes, que foi o procedimento adotado pela comissão técnica.
Ainda em La Paz, o lateral-esquerdo André Santos, de pífia atuação, decretou aos repórteres que a partida disputada “naquelas condições” não permitia uma avaliação apropriada dos jogadores. Muito conveniente, afinal o próprio Santos, mais Diego Souza (outro que apanhou da bola) e Josué nem sequer entraram em campo.
Curiosamente, a única jogada planejada e executada com lucidez ocorreu no segundo tempo da partida, originada de um contra-ataque em altíssima velocidade. Daí nasceu o único gol brasileiro, de Nilmar, com participação de Maicon e Ramires. Naquele momento, nem parecia que o time estava sob a espada do ar rarefeito. Todos correram como se estivessem ao nível do mar. E olha que já era o segundo tempo e, por dedução lógica, o time deveria estar ainda mais desgastado quanto ao fôlego e ao preparo físico.
A desfaçatez de uns, misturada à arrogância de outros, fizeram com que o jogo fosse apontado como algo atípico na trajetória brasileira nestas eliminatórias sul-americanas. Não é bem assim. O time que foi a campo alinhava 5 titulares do escrete (Júlio César, Daniel Alves, Maicon e Josué), sendo que no segundo tempo entrou Elano, outro efetivo da equipe.
De mais a mais, mesmo contando com os suplentes, a Seleção tem sempre a obrigação de bem representar o futebol do país, ainda mais contra o vice-lanterna da competição. Assusta ver o quanto a equipe reserva é frágil e sem criatividade no setor de meia cancha.
Mais ainda: preocupa a dificuldade em reconhecer uma atuação ruim, que, de resto, é normal em futebol. Dunga, tão cru no ofício de treinador, já assimilou a pesporrência dos veteranos, resistindo a admitir quando seu time é inferior ao adversário. No futebol (e na vida), humildade é fundamental.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça, 13)