O respeito do jogador profissional ao clube que paga seus salários parece, cada vez mais, estar diretamente associado ao nível de fama do atleta envolvido. O exemplo do atacante Fred, do Fluminense, está aí mesmo a afrontar os incrédulos pelo nível de desfaçatez.
Há meses sem disputar uma partida oficial, a presença do jogador era tida como certa nas partidas contra Flamengo e Corinthians, decisivas para o destino do Tricolor carioca no Campeonato Carioca, amargando a lanterna da classificação. Alegando não “estar à vontade ainda”, o artilheiro esquivou-se do clássico de domingo.
Enquanto seus companheiros se esfalfavam em campo, tentando enfrentar Adriano & cia., Fred espairecia no bucólico ambiente das praias cariocas, aproveitando até para surfar em ondas mais ou menos tranqüilas, posto que ninguém é de ferro – apesar das limitações de movimento que alegou para não jogar.
O inocente programa praieiro virou, obviamente, notícia nos jornais e obrigou Fred a confirmar tudo, sempre se escudando em avaliações médicas. Não sem antes, cheio de razão, reclamar de invasão de privacidade, calúnia e o escambau. Cuca, treinador do Fluminense, amenizou e disse ter liberado o atleta, mas o mal-estar persistiu.
Mais ainda porque, diante do Corinthians, na quarta-feira, o centroavante voltou a pedir liberação por ainda não se sentir apto a pôr as canelas em risco dentro das quatro linhas. Levando-se em conta o custo mensal (cerca de R$ 400 mil) de Fred ao clube, a situação beira o surrealismo.
Nenhum clube razoavelmente estruturado e que se respeite aceitaria tamanha manifestação de desapreço pelo contrato firmado. Por outro lado, talvez o próprio Flu adotasse outro procedimento se o jogador fosse menos badalado e caro.
O certo é que a atitude talvez explique as razões que levaram o Lyon, da França, a se livrar de Fred, que chegou a ser artilheiro e ídolo de sua torcida. Como também pode ajudar a entender a desconfiança crescente que os clubes europeus, adeptos de rígidas normas de conduta, alimentam em relação a atletas brasileiros, a partir dos notórios exemplos de Adriano na Inter de Milão, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho no Milan.
Pela primeira vez no campeonato, o Botafogo conseguiu duas vitórias consecutivas – Goiás e Atlético-MG, ambas por 3 a 1. Alcançou 31 pontos e saiu da zona maldita. Pode ser apenas um tímido passo rumo à redenção, mas significa muito para um time que vinha sempre se atrapalhando na concretização de vitórias até fáceis. Ontem, contra o Galo, os primeiros 30 minutos foram quase perfeitos, como já havia sido o segundo tempo diante do Goiás. E, acima de tudo, o Botafogo apresentou uma grata novidade: Jóbson (ex-Brasiliense), um atacante arisco, que dribla no sentido do gol e pode ser o ponto de desequilíbrio no setor ofensivo.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 09)