Coluna: O esporte da velocidade

Apesar do título acima, não estou falando do desenxabido campeonato mundial de Fórmula-1, mas do futebol velho de guerra. Há 40 anos, a presente situação já se anunciava no horizonte. E quis o destino que isso ocorresse pelos pés brasileiros dos craques de 70. Aquele timaço, além da familiaridade com os dribles, se destacava na multidão pelo preparo de seus jogadores, todos com um condicionamento superior ao dos adversários.

Foi assim que o Brasil atropelou rivais de respeito, como Tchecoslováquia, Inglaterra, Uruguai e Itália. Além da melhor formação tática, baseada num clássico sistema de quatro zagueiros, mas com o meio-campo móvel que surpreenderia a todos, o escrete foi superando etapas, esbanjando fôlego e velocidade.

Até mesmo jogadores que, por característica, destacavam-se pela cadência do jogo, acabaram por ter suas virtudes bem realçadas. Pelo entrosamento dos tempos (bons tempos) de Botafogo, Gerson funcionava como o arco para a verdadeira flecha de prata materializada em Jairzinho.

Pelé, o único atacante mais ou menos fixo na área, era também um fenômeno no aspecto atlético e na arrancada, igualando-se a jogadores mais jovens, como Clodoaldo e Rivelino. Mesmo Tostão, cujo talento maior estava na colocação e na capacidade de finalização, movia-se o tempo todo, atraindo marcação e confundindo os defensores.

Não por acaso, graças à velocidade que imprimia ao jogo, o Brasil quase sempre liquidava a fatura no segundo tempo, quando os adversários já davam sinais de esgotamento. Isso foi particularmente visível nos confrontos contra uruguaios, ingleses e italianos.

A lembrança desse alvorecer do condicionamento físico como protagonista do esporte é oportuna pelo se observa no futebol contemporâneo. Nenhum grande time consegue superar seus oponentes, mesmo que alinhe grandes craques, se não for mais veloz nas ações ofensivas.

Basta observar os jogos transmitidos pela TV a cabo. Barcelona, Manchester, Real Madri, Chelsea, Internazionale, Arsenal e Liverpool têm em comum, além da gorda conta bancária, a extrema facilidade para sair da defesa e chegar à área inimiga.

Mas não se trata de simples correria. Essas equipes se impõem pela utilização inteligente da velocidade como arma de jogo. Os que, literalmente, pararam no tempo e no espaço estão fadados aos escaninhos do esquecimento. Quem não corre, dança.

 

Esse quadro já se desenha, em escala menor, no campeonato brasileiro. Os quatro primeiros colocados são times de explosão, velocidade e alguma técnica. O Palmeiras, cada vez mais próximo do título, é o exemplo acabado dessa combinação. No clássico com o Santos, domingo, matou o jogo quando partiu em alta velocidade, coincidentemente depois que o descansado Robert substituiu Obina, formando com Vagner Love uma dupla de hábeis velocistas. A fórmula, apesar de óbvia, é imbatível.  

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 6)       

5 comentários em “Coluna: O esporte da velocidade

  1. Pensando na característica lentidão do futebol paraense, dá calafrios pensar onde a dupla re-pa pode acabar se não se modernizar urgentemente…

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    Gerson, sei que o assunto até já saiu do noticiário, mas, falando da venda do Baenão: não seria mais lógico para qualquer imobiliária comprar 10, 15 residência ali pela Almirante Barroso para construir um condomínio do que comprar um estádio caro, construir um novo e ainda pagar mais 15 milhões? Estou certo ou não sei fazer contas?

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    1. Cleiton,
      1) Sem velocidade – e sem preparo adequado – estamos condenados a ficar no eterno papel de coadjuvantes. Lembra do fôlego (?) do Paissandu nos dois jogos contra o Icasa?? Pois é.
      2) Essa maluquice de venda do Baenão é produto da imaginação fantasiosa e delirante de dirigentes sem coisa mais importante para fazer. Jogaram no ar aquele factóide para sondar os conselheiros, mas, no fundo, sabem que nenhum empresário sério seria louco de fechar um negócio naqueles termos. Quando escrevi sobre isso aqui, você deve lembrar, houve quem me acusasse de retrógrado. Ora, do pouco que conheço do mundinho boleiro não me arriscaria a comprar um carro usado dessa gente.

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  2. Interessante é que o futebol paraense, até pouco tempo era caracterizado pela correria e rara técnica. Hoje, nem correria mais temos. Resultado: estamos na sub-periferia do futebol nacional. Isso também é reflexo das nossas condições sociais e econômicas. Nossos jogadores locais, vêm com péssima alimentação do interior e continuam sendo maltratados na capital. Lembram do Giovanni que foi ao Santos, mas só deslanchou depois de fazer uma série de exames e constatar que estava cheio de vermes? Teve que fazer um tratamento rigoroso de saúde e condicionamento físico. As melhores formações recentes do futebol paraense foram as do Remo (de 1991 a 1993) e a do Payssandu (2001 a 2003), compostas na sua maioria, por jogadores de fora, acima do nível técnico e físico. É só recordar: Arthur, Luciano Viana, Cacaio, Alencar, Alex (Rem0) e Sandro Goiano, Wandik, Robson e Yarley (PSC). O resto é o futebol doméstico que não se firma em lugar nenhum fora de Belém, como Balão, Zé Augusto, Welber, Lecheva, Rogério, Landu e outros incontáveis UDs (untensílios domésticos).

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  3. Interessante mesmo é notar que no exterior, principalmente na Inglaterra, na Argentina e até na Alemanha conseguem aliar velocidade com uma boa dose de técnica. Aqui no Brasil os times ou são velozes ou são técnicos. O Palmeiras de Muricy é o exemplo mais cristalino. Não é tão veloz, mas para os padrões locais é acima da média. Mas a fluência do seu jogo… parece que a bola só vem na canela dos seus jogadores, tamanho o número de “passes” que se configuram em um festival de “tijoladas”.
    Remo e Paysandu há tempos carecem de melhor preparo físico. A malemolência das esquipes é de irritar os seus adeptos nas arquibancadas!

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