Coluna: A independência de Dunga

Há quem fale mal de Dunga por desaprovar seu estilo quase militar. Ou por simbolizar um período ruim do futebol brasileiro – a seleção fracassada de 1990, de Sebastião Lazaroni. Ou, ainda, por representar a face mais óbvia da seleção desprezada (apesar do título) de 1994. O certo é que, durante certo período, virou modismo falar mal de Dunga, que ganhou até um “fora” a antecipar-lhe o nome, nos mesmos moldes do grito de guerra contra FHC há oito anos.
Pois agora, depois de conquistas irrefutáveis, sendo a última delas a classificação à Copa de 2010 arrancada em terreno argentino, muitos terão que repensar sua oposição ao treinador que foi inventado pela CBF, depois que Parreira fracassou em 2006 na Alemanha. A começar por este escriba baionense, que teve a pachorra de apelidar o homem de Capitão do Mato em face de sua virulência verbal e do estilo roceiro de seus tempos de volante-volante.
Quase unanimidade entre os torcedores, pela curta e vitoriosa carreira, é preciso entender que não é fácil simpatizar com Dunga. Suas entrevistas são mal-humoradas, carregadas de resmungos ressentidos. Ainda no sábado, na entrevista pós-jogo, foi logo chutando na canela de alguém que ousou fazer perguntas sobre as fraquezas do time argentino. Abespinhou-se, tomou como desrespeito ao seu trabalho. Não era. Tratava-se de pergunta normal, que repórteres devem fazer e treinadores devem estar preparados para responder.
Dunga costuma travar uma batalha surda contra os fãs da seleção de 82, aquela que foi derrotada pela Itália de Paolo Rossi, mas terminou reabilitada pela história. Situado no mesmo panteão da Hungria de 54 e da Holanda de 1974, o time de Telê Santana é glorificado como exemplo de futebol técnico e ofensivo.
Pois o Capitão do Mato perde as estribeiras quando ouve qualquer elogio àquela equipe. Ofende-se. Acha que o elogio é descabido e insultuoso. Parece não entender como o Brasil do penta é olhado com reservas, quase como um bastardo na seleta galeria dos times campeões mundiais. 
Minhas divergências com o técnico que bateu a Argentina (sempre por três gols) localizam-se justamente na fronteira entre talento e conveniência, jogo ofensivo e futebol de resultados. Às vezes, faço as pazes com ele. Como naquela sensacional vitória sobre a Argentina na decisão da Copa América, quando seu time soube combinar marcação eficiente e velocidade criativa em doses quase sincronizadas.
Ou, como no embate de sábado, quando impôs autoridade e superioridade tática, mesmo sem ser brilhante. Já que os donos da casa preferiam ficar com a bola, Dunga optou por ocupar o espaço e tomar as iniciativas. Por isso, nos poucos minutos em que foram absolutos na posse da bola, seus jogadores sabiam exatamente o que fazer com ela. Isso é ser moderno, forte e ousado.
Sempre que Dunga faz seu time jogar assim, estou com ele e não abro.
 
 
Quando vi o ex-corintiano Sebá escalado, tive a certeza de que a Argentina teria sérios problemas no jogo.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda, 7)

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