
Por Helena Chagas
O estranho fenômeno que enlouquece o establishment e leva a República a se mobilizar com rapidez impressionante a cada vez que alguém ameaça tirar da cadeia o ex-presidente Lula certamente será objeto de muitos estudos por parte dos historiadores futuros. Que tantos poderes assim terá Lula, condenado por corrupção, declarado inelegível e derrotado nas últimas eleições, para influir nos destinos da nação?
Essa é a pergunta que não quer calar. Não foi desta vez, já que Dias Toffoli cassou a liminar de Marco Aurélio, mas é razoável supor que, mais dia menos dia, o ex-presidente será solto. Afinal, ele não foi condenado à prisão perpétua pela Justiça – ainda que o tenha sido na cabeça de alguns.
Ainda que o colegiado do STF amarele no dia 10 de abril, quando vai julgar a prisão após condenação na segunda instância, há tendência, na segunda turma, a reduzir a pena de 12 anos a ele infligida, considerando que não houve crime de lavagem de dinheiro. Sem falar na possibilidade de, em algum momento, ser mandado para prisão domiciliar. E aí?
Pelas reações do mundo político, jurídico e militar que vimos ontem, há quem pense que será um Deus-nos-acuda. Mas o que fará Lula, sem mandato e com uma estrutura partidária abalada, de tão revolucionário assim? Lula não tem exército, e sua única arma é a voz.
Aí é que está. O desfecho das eleições de 2018 deixou o establishment numa situação de tal fragilidade e insegurança que Lula – derrotado, condenado e inelegível, não custa lembrar – virou uma espécie de assombração para o novo governo e todos que o apoiam. Acima de tudo, isso mostra uma tremenda falta de confiança em quem elegeram.
Quero estar enganado, mas penso que isso tudo é uma espécie de jogo de xadrez (sem o trocadilho infeliz). Duas hipóteses:
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1) Lula livre é um perigo real para o sistema atual, e assim o mantém preso injustamente;
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2) Mantendo-o injustamente preso, contam que restará às forças progressistas um único caminho: o da reação, o do endurecimento. Nessa hipótese extrema, o caminho estará aberto para adotarem uma “reação”, impondo…
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… às claras e de forma definitiva a ditadura, incluindo a cassação dos partidos de esquerda e outras instituições “ameaçadoras”.
Quero estar enganado.
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