Moro talvez não saiba – mas ele já era

POR PAULO NOGUEIRA, no DCM

E Sergio Moro e sua Lava Jato vão sendo, aos poucos, descartados pelo grupo que os usou para tirar Dilma do poder.

c30rashxuaez4ziO super-herói da mídia vai sendo relegado aos rodapés. Notícias desagradáveis para Moro eram suprimidas nas redações. Agora, até as vaias que ele recebeu numa palestra que fez na Universidade Columbia, em Nova York, foram noticiadas.

O senador Romero Jucá, numa célebre conversa gravada, disse que era preciso colocar Temer no poder para “estancar a sangria”.

A sangria tinha nome e sobrenome: Sérgio Moro e Lava Jato. Tirada Dilma, tudo estaria sob controle da dupla PMDB-PSDB. Não só a presidência — mas o Supremo e, consequentemente, a Lava Jato.

A nomeação de Alexandre Moraes para o STF é apenas uma evidência a mais disso.

Sua filiação ao PSDB deveria desqualificá-lo instantaneamente para o Supremo.

Mas não.

Temer achou que era suficiente Moraes se desfiliar, num espetáculo assombroso de cinismo e descaro.

Não surpreende que no meio de tudo isso surja no palco — mais uma vez — Gilmar Mendes para se queixar das penas “alongadas” da Lava Jato. (No Mensalão, houve pena de 40 anos, sem que Gilmar usasse o adjetivo “alongada”.)

A Lava Jato, tal como a conhecemos sob Dilma, acabou — e, com ela, Moro. Seu objetivo era liquidar Dilma, Lula e o PT.

Não estava nos planos de seus mentores e incentivadores que as cobranças por corrupção alcançassem medalhões de outros partidos que não o PT. Aécio, Serra, Alckmin? Nem pensar.

Com Dilma, isso fatalmente ocorreria.

Dado o golpe, a história é outra.

Tudo muda. São grandes, por exemplo, as chances de Eduardo Cunha ser posto em liberdade — se não imediatamente, em breve. Cunha pleiteia isso, e o caso será julgado pelo STF que temos agora. (Moraes, que se incorporará ao Supremo depois de ser sabatinado por seus amigos senadores, foi advogado de Cunha.)

Em resumo: de peça-chave para a plutocracia, Moro passou a ser um obstáculo. Fez o que se queria dele — massacrar Dilma e Lula, e derrubar o PT do poder. E pronto.

Ele é um produto de outro tempo, como as mulheres e homens que batiam em panelas.

Moro talvez não saiba — mas ele já era.

7 comentários em “Moro talvez não saiba – mas ele já era

  1. De há muito que ouço e leio afirmativa desta natureza.

    Até eu mesmo já proferi asserto parecido. Digo parecido, eis que sob o meu ponto de vista, as manobras tem um alcance mais amplo.

    Isto é, trata-se de um acordão que abrange tucanos, pemedebistas, rubros e outros legendários de aluguel.

    Vários passos já foram palmilhados em tal sentido. Um deles foi a retirada do sigilo da conversa telefônica do ex com a impedida. Outro ocorreu em pleno velório de Dona Marisa. Sem esquecer que para demonstrar afinamento nos desígnios, ainda teve o depoimento do fhc, cujo testemunho foi aceito mesmo versando sobre fatos alheios àqueles que estão sendo investigados.

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  2. Já era o Moro, como o Moro que se conhece, caro Oliveira. Daqui em diante tenderá a tirar o time de campo. Aqui não é a Itália, a operação não é a “Mãos Limpas” e o problema dele não é bem o Berlusconi… Trata-se da reafirmação daquilo que os anões do orçamento mostraram ser há mais de duas décadas, larápios. E, pior, larápios óbvios! Óbvios como tucanos e peemedebistas… Por que ainda há quem vote nestes? Por que a imprensa não cumpre o papel de investigar e informar, em parte. O povo não é burro, é desinformado ou mal informado, mas é dado a esse tipo de repetição histórica, sabemos disso. E Moro se meteu com a pior laia da política nacional. Cá entre nós, você tem visto alguém na imprensa lembrar do Teori? Ou esculhambar com os plágios do Alexandre de Moraes? Ou cobrar uma saída à situação do ES? As oportunidades de a imprensa informar imparcialmente sempre estão dadas, mas não avança nessa direção. Percebe? Moro, com a Lava-Jato, já era. Sem ela, talvez, ainda seja lembrado como líder (sic) político. Quem viver verá.

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    1. Na mosca, amigo Lopes. O que se vê hoje é a consolidação de um grande consórcio nacional, conciliando os interesses da direita mais perversa do continente e os anseios da classe empresarial historicamente dependente das benesses oficiais. Aliado a isso, como pilares do golpe parlamentar, a velha mídia reacionária (a mesma que defenestrou Getúlio, tolerou JK e derrubou Jango) e o Judiciário acovardado e cúmplice de todas as bandalheiras perpetradas em nome do “combate à corrupção”.

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  3. Concordo, todos larápios!!!
    Todos!!!
    E a meteórica evoolução econômico-financeira, pessoal e familiar,, de alguns, deixa isso provado.

    Aquilo que só seria possível alcançar em três ou quatro gerações, alguns conseguiram em três ou quatro anos.

    E concordo também com a pergunta: por que ainda há quem vote?
    Também concordo, o povo não é burro!

    Me permito acrescentar, apenas: além de desinformado e mal informado, o povo também é fanático.

    Deveras, a situação está ali, diante dele, com todos os seus emblemas e características. Mas, ele prefere seguir a pregação do pastor.

    Paciência!!!

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  4. Sobre seus acréscimos, leia “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, de Max Weber, e entenda como nosso tão querido estado burguês pode ser tão burguês e fanático a ponto de esmagar o proletariado.

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  5. Amigo Lopes, sem qualquer menoscabo à fonte que você sugere, mas a realidade brasileira é um manancial que fornece substrato rico o suficiente para que o sujeito possa se abeberar à saciedade tanto sobre o fanatismo político, quanto da predação que se sacia do produto desta alienação fanática.

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