Pra não esquecer a poesia

images“Há de haver algum lugar, um confuso casarão, onde os sonhos serão reais e a vida não… Por ali, reinaria meu bem, com seus risos, seus ais, sua tez; e uma cama onde, à noite, sonhasse comigo talvez.

Um lugar deve existir: uma espécie de bazar, onde os sonhos extraviados vão parar, entre escadas que fogem dos pés e relógios que rodam pra trás.

Se eu pudesse encontrar meu amor, não voltava jamais”.

(by Chico Buarque de Hollanda)

Marisa, uma brasileira

POR TEREZA CRUVINEL

A morte de dona Marisa Letícia é a síntese dolorosa da força do ódio inoculado nas veias do Brasil nos últimos anos contra o PT, contra ela, Lula e a família, contra tudo o que representaram desde 2003. Sua ausência na vida do ex-presidente terá consequências pessoais e políticas mas haverá tempo para falar de Lula sem Marisa.

16387969_2074481656111810_7175153875080258678_nA hora é de recordar uma mulher do povo, uma brasileira de fibra que silenciosamente ajudou a escrever páginas importantes da história contemporânea. Neste tempo, o aneurisma que era inofensivo há dez anos foi se expandindo sob o martelar constante das injúrias, implicâncias, achincalhes, preconceitos e, finalmente,  da perseguição implacável contra os Lula da Silva, indiciados e denunciados sem provas para evitar banir o ex-presidente da política.

No limite do insuportável,  o corpo foi vencido, o aneurisma rompeu-se. Não é preciso dizer agora o nome de ninguém. Os mais insanos podem ter celebrado mas alguns não devem ter dormido em paz esta noite. O Brasil anda enlouquecido mas ainda não perdeu a razão que lhe permitirá tirar conclusões. A hora é recordar Marisa, uma brasileira, que na morte homenageará a vida com a doação de seus órgãos.

A filha de João Casa e dona Regina Rocco Casa, ambos de ascendência italiana, cresceu no pequeno sítio da família em São Bernardo do Campo, vendo o pai cultivava frutas, legumes e verduras para vender no mercado e sustentar a família. Deixou a escola no que hoje seria a sétima série para trabalhar como babá. Depois virou operária numa fábrica de chocolates e dali saiu para trabalhar na prefeitura.

Em 1970, deixou de trabalhar quando se casou com o motorista de caminhão Marcos Claudio dos Santos.  O casamento só durou seis meses. Numa noite em que dirigia o táxi do pai, ele foi assassinado. Marisa ficou viúva grávida de Marcos, criado como filho por Lula.

Quem conviveu com o ex-presidente já o ouviu contar mais de uma vez a história de como conheceu Marisa. Ele era diretor do sindicato quando recebeu a “loirinha bonita” de que já ouvira falar. Ela havia ido lá outras vezes em busca de documentos que lhe ajudariam a receber algum direito do falecido marido. Lula esticou a conversa, contou que era viúvo também. Sua primeira mulher, Maria de Lourdes, morrera num parto, com a criança, em 1971. Namoraram e se casaram em 1974. Vieram os filhos Fábio, Sandro e Luiz Cláudio.

Era tempo de ditadura e arrocho salarial.  A militância sindical de Lula se intensificou com reflexos na rotina da família: reuniões que o faziam chegar tarde em casa, telefonemas fora de hora, viagens frequentes,  e ela ali, cuidando da casa, dos meninos e das finanças da família. A luta invadiu o casamento deles e ela se casou com  as causas abraçadas pelo marido operário.

Houve a greve de 1979 e depois a de 1980, quando o marido ficou 41 dias preso no DOPS, só saindo para ir ao enterro da mãe, dona Lindu. Visitou-o todos os dias. Católica, organizava missas e vigílias. Foi neste ano que fez um curso de introdução à política brasileira na Pastoral Operária de São Bernardo, Se este era o caminho do marido, iria seguir junto. Quando o PT foi criado,  costurou a primeira bandeira vermelha com a estrela branca. Depois passou a imprimir camisetas para o partido vender e arrecadar fundos. Militava na base, sem buscar holofotes, à sombra da projeção crescente do marido.

Lula foi candidato a governador de São Paulo, em 1982, e em 1986 foi o deputado constituinte mais votado do Brasil. Ela não veio para Brasília, ficou com os filhos em São Bernardo enquanto ele passava a semana no Congresso. Depois vieram as três derrotas em disputas presidenciais.

Nenhuma foi tão sofrida quanto a de 1989. A campanha do adversário Fernando Collor contratou a ex-namorada que Lula havia tido antes de se casarem , Miriam Cordeiro, para dizer na televisão que ele tentara forçá-la a abortar a filha que tiveram, Lurian. Este episódio violento e pérfido fez Marisa tornar-se ainda mais zelosa da privacidade da família, mais avessa às abordagens da imprensa.

Quando finalmente Lula foi eleito, ela já estava pós-graduada no papel de mulher de um líder. Sabia que não seria fácil mas talvez não tenha imaginado que haveria uma cota de desconforto tão grande para ela própria. Por oito anos, com o aneurisma adormecido, ela suportou, os incômodos do papel de primeira dama.

A implicância da mídia e das pessoas “de classe” foi uma constante. Se ela se vestia modestamente, era uma jeca. Quando passou a cuidar mais do visual, fez uma plástica e mudou o cabelo, era uma deslumbrada com o poder. Se vestia vermelho, sectarismo. Se vestia verde e amarelo no 7 de setembro, populismo. Falava raramente e era criticada por isso. Mas persistiu, certa de que cada vez que, se falasse, seria apedrejada.

Por ter plantado no Alvorada uma canteiro de flores vermelha em forma de estrela, foi por longo tempo acusada de revelar assim a confusão entre o público e o privado. Quando resolveu fazer festas juninas na Granja do Torto, forneceu pautas suculentas à imprensa.   Nas solenidades e nos eventos,  estava sempre ao lado de Lula, discreta porém atenta. E ele, nos discursos, sempre improvisados, deixando o texto dos assessores de lado, nunca deixava de citá-la, de fazer-lhe uma referência afetuosa. Este “grude” incomodava os críticos. Nos oito anos, ela mostrou clara compreensão de seu papel. Era a companheira de Lula, não uma protagonista política.

Nunca se soube de ingerências de Marisa em decisões administrativas ou de vetos a pessoas. De alguns ela podia não gostar,  e não gostava, mas nunca destratou ninguém. O que fazia era separar claramente quem eram os amigos pessoais e quem eram os colaboradores de Lula. Na intimidade, só os amigos entravam, para os almoços de domingo. Os bajuladores da “corte”, em busca de relações que poderiam render prestígio e influência no governo, ela evitava. A cautelosa distância foi chamada de arrogância.

O governo acabou e ela talvez tenha pensado que a vida voltaria ao normal. Por algum tempo, foi quase assim. Lula despachava durante o dia no Instituto Lula e voltava para jantar em casa, ao anoitecer. Em 2013, começou o calvário final. A Lava Jato, as prisões de petistas, as notícias aqui e ali de que Lula seria investigado como  proprietário oculto do sítio de Atibaia e do apartamento  do Guarujá.

As investigações finalmente foram oficializadas, alcançando não apenas Lula como ela própria (que comprara a cota do prédio do Guarujá, da qual desistiram depois) e os filhos.  A partir da condução coercitiva de Lula para depor,  no ano passado, a tensão tornou-se permanente no lar dos Lula da Silva. A qualquer hora, ele poderia ser preso.

Quando gravações de conversa entre Lula e Dilma foram ilegalmente divulgadas, conversas em família, inclusive dela, também vazaram. Detalhes do que havia no sítio frequentado pela família e da reforma no dito apartamento da OAS foram caudalosamente divulgados e em muitos casos atribuídos a exigências dela.  O PT, estraçalhado, começou a cobrar a volta de Lula à presidência para reunir seus cacos. A nova candidatura estava posta mas tudo na vida deles tornou-se incerteza, apreensão e dor. Resistiam, mas o aneurisma não suportou.

Barça não paga premiação, mas dá iPhone 7 aos jogadores

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O Barcelona não pagou o prêmio prometido ao elenco pelo título da Supercopa da Espanha de 2016/17, vencida sobre o Sevilla no último mês de agosto. As informações são do jornal catalão “Sport”, que informa também que a direção distribuiu aparelhos Iphone para evitar descontentamento. Segundo a reportagem, uma bonificação especial, além das já previstas em contrato por títulos do Campeonato Espanhol, Uefa Champions League e Copa do Rei, em caso de título da Supercopa. Após a vitória sobre o Sevilla, o elenco recebeu o prazo de 31 de janeiro de 2017 como final para o pagamento.

Um dia após o término do período e exatos 167 após a conquista do título, a direção não quitou a quantia prometida aos jogadores e também a membros da comissão técnica e demais funcionários. O “Sport” publica também que, nos últimos anos, tem adotado como prática presentear o elenco para evitar reclamações relativas a atrasos. Na última temporada, por exemplo, foram entregues relógios de luxo da marca “Hublot” e agora aparelhos “Iphone 7”. (Da ESPN)

Jesus empolga City e ganha manchete nos jornais ingleses

“Glória, glória, aleluia! Glória, glória, aleluia! Glória, glória, aleluia! É Gabriel Jesus!” 

O grito da torcida do Palmeiras parece ter ecoado nas manchetes dos jornais ingleses nesta quinta-feira, horas depois de Gabriel Jesus marcar seu primeiro gol com a camisa do Manchester City. Com “louvor” e “fé”, a mídia da Inglaterra exaltou o futebol do brasileiro, um dos destaques na goleada por 4 a 0 do City sobre o West Ham, pela 23ª rodada da Premier League.

Foi o terceiro jogo do atacante, o segundo como titular, o primeiro como titular na Premier League, justamente na vaga de um dos maiores ídolos da história recente do clube, Sergio “Kun” Aguero. E ele não decepcionou: deu uma assistência para o gol de De Bruyne e ainda balançou as redes pela primeira vez com a camisa do time de Pep Guardiola.

Por isso, ganhou as manchetes. Veja, abaixo, algumas delas.

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O AVC de Marisa e a Lava Jato

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POR KIKO NOGUEIRA, no DCM

Arrisca ser uma simplificação culpar diretamente o juiz Sérgio Moro pela morte da ex-primeira dama Marisa Letícia.

Mas como dissociar seu AVC da pressão a que estava sendo submetida?

Em 1997, o jornalista Elio Gaspari colocou o infarto de Paulo Francis na conta de Joel Rennó, ex-presidente da Petrobras que acionou Francis nos EUA.

Rennó, escreveu Elio, era um “estrategista vitorioso” porque “seu processo ocupou um espaço surpreendente na alma de Francis”.

Na quinta feira, dia 2, Lula e a família autorizaram a doação dos órgãos e agradeceram as “manifestações de carinho e solidariedade”.

Marisa passou mal no apartamento do casal em São Bernardo do Campo no dia 24 de janeiro. Chegou consciente ao hospital Sírio Libanês, em São Paulo, passou por cirurgia e foi conduzida à UTI.

Piorou paulatinamente.

Marisa estava fumando mais. Em 2007, o cardiologista Roberto Kalil Filho avisara que ela precisava de tratamento e que poderia ter um AVC. Nada foi feito.

A Lava Jato abriu cinco ações penais contra Lula, sendo que em três delas Marisa estava incluída entre os acusados. Foram mais de dois anos de massacre midiático diuturno, com direito a uma condução coercitiva do marido.

Os homens de Moro vazaram um áudio de um telefonema com seu filho Luís Cláudio. O papo, embora banal, continha um elemento explosivo.

Ela xingava os “coxinhas”. Dizia querer que essas pessoas “enfiassem as panelas no cu”.

Qual a intenção de tornar isso público, senão a de humilhar e constranger? Por que com ela? Onde estão as conversas das mulheres de outros réus?

A gravação está sendo usada pelos milhões de cidadãos de bem que agora festejam a tragédia de Marisa Letícia. Ela sabia de tudo, ela era cúmplice, ela era rica — e ela mandou os brasileiros honestos enfiarem suas panelas naquele lugar.

Para os fascistas que o golpe tirou do buraco, a boca suja teve o que mereceu.

A Lava Jato ocupou um espaço enorme na vida de Marisa Letícia. Migramos do país da impunidade para o país dos justiceiros — sem escalas. Vítimas fatais são inevitáveis.

É injusto afirmar que Moro matou Dona Marisa.

Mas a estratégia da Lava Jato previa a cabeça de Lula na parede. Ganhou a da mulher dele, da pior maneira possível.

Quiseram matar Lula, acertaram dona Marisa

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POR EMILIANO JOSÉ, no Brasil247

Os psicanalistas falam do território do indizível.

Há muito dele no momento.

Ainda assim, é preciso buscar o recurso da palavra.

Ela deve ser, talvez a única neste instante, deve ser a faca amolada a denunciar o crime contra dona Marisa Letícia, a serena, extraordinária companheira de Lula.

Quiseram matar Lula – se não podiam fazê-lo com um tiro, com uma faca, queriam, e querem, destruir tudo que ele construiu, todas as políticas reveladoras de seu amor profundo pelo povo, queriam, e querem, destruir toda a simbologia da ascensão de um trabalhador ao posto máximo do País, depois de termos vivido quinhentos anos governados por homens das classes dominantes, mesmo que entre eles, raros, tenham existido dois ou três preocupados com o povo.

Lula, único.

Ele era, e é, o alvo.

Acertaram dona Marisa.

Seu estado se agravou nas últimas horas.

Não suportou o massacre contra seu companheiro, seu marido, seu amor.

Não suportou a devassa contra ela própria, sua casa, sua vida, os filhos nascidos de suas entranhas, a devassa de territórios para ela sagrados.

Que mãe, que mulher suportaria?

Eu não sei rezar.

Não sou homem de fé.

Sou da esperança.

Meu coração pede que ela se recupere.

Chora, pedindo.

Mas, minha alma não pode deixar de proclamar que os adversários de Lula são os algozes de dona Marisa, os que a levaram ao estado de saúde em que se encontra, os mesmos que fizeram a escravidão, que fizeram a República Velha, que fizeram a ditadura de 1964, o latifúndio, as cidades empobrecidas, são os que deram o golpe de 2016, os que nunca se conformaram com a ascensão de uma família Silva nordestina à presidência da República.

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General segura o Leão

POR GERSON NOGUEIRA

O empate retratou fielmente o que os dois times mostraram em campo. Com marcação forte e melhor organização nos três setores, o Pinheirense fechou a passagem dos laterais e meias do Remo, impedindo que os azulinos tivessem a liberdade de movimentos vista contra o Cametá.

Com lentidão excessiva na saída, o Remo era sempre contido pelos meio-campistas do Pinheirense. Alexandre e Endy monopolizavam as jogadas, fechando espaços para Fininho e Flamel.

unnamedSem jogadas de qualidade e com o passe prejudicado na meia-cancha, o Remo se impacientava com a dificuldade para chegar ao gol. Edgar e Jayme corriam e se deslocavam, mas a bola não chegava até eles.

Depois de duas boas tentativas de Lucão e Biolay, que levaram muito perigo ao gol de André Luís, o Remo só teve sua primeira investida num chute isolado de Jayme aos 21 minutos. De fora da área, disparou um tiro forte, defendido em dois tempos pelo goleiro Paulo Wanzeller.

A situação piorou quando Marquinhos saiu, lesionado, e Josué Teixeira botou Val Barreto em campo. A intenção era clara: com o 4-3-3, o técnico buscava sair da armadilha de Junior Amorim, que posicionou Lineker e Daniel Papa-Léguas para atrapalhar a passagem de Léo Rosa e Jaquinha.

Com Barreto como homem de referência na área, Josué esperava desmontar a marcação. Isso acabou não acontecendo porque o Pinheirense continuou indo à frente e voltando rapidamente para recompor a zaga.

Confuso e pouco atento às falhas no interior da área adversária, o Remo se perdia em tentativas intermináveis de triangulação no meio. Nem Flamel, nem Fininho reeditaram o desempenho de domingo.

Depois do intervalo, Josué tirou Flamel e lançou Rodrigo, que se posicionou como um quarto atacante, mas o Remo continuou se embaraçando no bloqueio do Pinheirense. Nos primeiros minutos, Lucão e Biolay tiveram três boas chances, mas falharam nas finalizações.

O equilíbrio perdurou mesmo quando Alexandre foi expulso, deixando o Pinheirense mais retraído. Val Barreto foi pouquíssimo acionado no jogo aéreo e Edgar passou a ser mais vigiado pelo lado esquerdo. Sílvio, que substituiu Jayme, nada acrescentou.

Em cobrança de falta, aos 28 minutos, Fininho quase marcou. Foi um dos poucos momentos agudos proporcionados pelo ataque remista. No geral, a aplicada postura do Pinheirense prevalecia. Com presença forte em todos os setores, induzia os remistas a erros seguidos, segurando-se bem atrás.

No fim das contas, o empate exprimiu o equilíbrio reinante, embora o Pinheirense tenha sido mais intenso e organizado.

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Sócio Torcedor: uma jogada perigosa

As incertezas que rondam o programa Sócio Torcedor do Remo, que já eram sérias ao longo da recente campanha eleitoral, começam a dar lugar a uma realidade preocupante para as finanças do clube. Na contramão da tendência, que se ancora na receita dos programas de fidelização do torcedor, o Leão insiste na pauperização de seu programa – que, em 2015 e começo de 2016, chegou a ter cerca de 9 mil sócios adimplentes.

Os desacertos envolvendo débitos do clube na área trabalhista comprometeram a liquidez do programa, mas não podem se transformar em algozes de um mecanismo dos mais eficazes para captação de recursos no futebol profissional. Até o ressuscitado Bangu anuncia o lançamento de seu ST, “Partiu Bangu”, com mensalidade de R$ 29,00 e expectativa de captar pelo menos 5 mil sócios nos próximos dois anos.

No Remo, o anúncio oficial do novo gestor do programa, que já coordena o sistema de venda de ingressos, só amplia os receios quanto à sobrevivência do ST azulino. A lógica indica que os sistemas devem ser independentes e autônomos. A vinculação tende a enfraquecer o programa, pois o ingresso comum carreia mais lucro e movimenta mais dinheiro.

(Coluna publicada no Bola desta quinta-feira, 02)