Pedido ‘obsceno’ para pagar multa da Justiça no Brasil melou ida de Neymar ao PSG

350_ce6f54d6-c0d6-3179-bcdb-d942b508b77dEm sua edição desta terça-feira, o jornal L’Équipe revelou o motivo da negociação entre Neymar e Paris Saint-Germain, que ficou muito próxima de ser fechada na última janela de transferência, não ter dado certo.

De acordo com a publicação, a equipe francesa já havia topado pagar a cláusula rescisória do brasileiro, que era de 190 milhões de euros (R$ 646,35 milhões) – mas que aumentou agora com o novo contrato com o Barça – e ofereceu ao atacante um salário anual de 40 milhões de euros (R$ 136 milhões), um jatinho particular e até uma rede de hotéis com seu nome.

As propostas já haviam agradado ao agente de Neymar, Wagner Ribeiro (que havia revelado a história em participação no programa “Bola da Vez”, da ESPN Brasil), mas foi então que Neymar pai assumiu a negociação e acabou “melando” tudo ao exigir ainda mais do PSG.

Segundo o L’Équipe, foi o pai do camisa 11 que pediu o salário de 40 milhões de euros para o filho, que os parisienses toparam pagar.

Contudo, o negócio desandou quando Neymar pai exigiu que o PSG também pagasse a multa da Justiça brasileira por crimes de sonegação de imposto de renda, fraude e conluio: 45 milhões de euros (R$ 153 milhões, na cotação atual) em impostos atrasados e multa.

A condenação, ocorrida em março deste ano, seguiu parecer dado pela 20ª Turma da Delegacia da Receita, que havia considerado que Neymar utilizou três empresas, administradas por seus pais, para disfarçar rendimentos recebidos pelo próprio jogador em contratos com o Santos, o Barcelona e a Nike, empresa de material esportivo que o patrocina.

As investigações começaram a partir da transferência dele do Santos para o Barcelona, em 2013. O Paris Saint-Germain, que já foi multado pela Uefa (União das Federações Europeias de Futebol) por desrespeito ao fair play financeiro, se revoltou e disse que não aceiteria as condições impostas, dando a negociação por encerrada.

Nas palavras do L’Équipe, o dono do clube francês, Nasser Al-Khelaifi, considerou o pedido “obsceno”. Com isso, Neymar seguiu no Barcelona, com quem renovou contrato recentemente, ganhando aumento de salário (agora, ele recebe menos apenas que Lionel Messi) e vendo sua multa rescisória aumentar. (Da ESPN)

Eleições no Remo – vote em seu candidato

Post de @gersonnogueira.

Fonte: Eleições no Remo – vote em seu candidato

Renan chama PF de fascista e vai ao STF contra prisões

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Não adianta dizer que não há uma crise institucional.

Que nome merece uma situação em que  o presidente do Senado diz que a Polícia Federal é “fascista”, que um “juizeco de primeira instância” determina a invasão do parlamento e a detenção de servidores que agiam sob ordens da Casa e que o Ministro da Justiça age como “um chefete de polícia”?

As declarações de Renan Calheiros, hoje, depois de uma conversa com Michel Temer nada tem de apaziguadoras:

Tenho ódio e nojo a métodos fascistas. Como presidente do Senado, cabe a mim repeli-los. Um juizeco de primeira instância não pode, a qualquer momento, atentar contra qualquer poder. É preciso que juiz demonstre que fatos gravíssimos que embasaram a prisão. Busca e apreensão no Senado só pode ser feita por decisão do STF.

O embate entre as instituições políticas e a descontrolada máquina do Judiciário está chegando a extremos.

Logo teremos de decidir se, com todas as deficiências, o Brasil é regido por instituições eleitas ou por “iluminados” aprovados em concursos, irremovíveis e indemissíveis, mesmo que cometam crimes horrendos.

Já temos um presidente ilegítimo, embora entronizado no cargo com o cumprimento de formalidades e graças a – sejamos justos – ação de um meliante que presidia a Câmara dos Deputados com o beneplácito do STF.

Calheiros ironizou a ação da Justiça: ““Nesse Estado policialesco, a gente não se surpreende com mais nada”.

Se estamos numa ditadura policial, Senador, espera-se que aquele juramento que o senhor e os outros parlamentares prestaram de fazer cumprir a Constituição ainda valha para algo mais que a foto do álbum de família. (Do blog Tijolaço)

Leviandade contra a Lula já não é só obsessão. É crime

POR FERNANDO BRITO, no Tijolaço

Inacreditável o que está sendo feito por um grupo de delegados da Polícia Federal.

Num dia, é o filho de Lula que teria movimentação financeira “incompatível” com sua renda por conta de uma transferência para a sua conta de dinheiro pertencente a uma empresa que é dele próprio.

No dia seguinte, Lula ganho de presente já não um pombal no Guarujá, nem pedalinhos, mas o estádio do Itaquerão inteiro.

E hoje, uma fortuna da Odebrecht baseado apenas em anotações que falariam num certo “amigo de EO” ou “amigo de seu pai” – o “E” seria de Emílio – encontradas na empreiteira.

Uma continha de Lula suspeita? Não. Um bem inexplicável? Não. Jóias, quadros, depósitos no exterior, como os famosos “trusts” de Cunha? Também não.

O delegado Filipe Hille Pace, que produziu este relatório vazado para a imprensa não se procupa em apresentar provas que que esta pessoa  é Lula. Diz que o caso está com outro delegado, mas afirma com base em suas “convicções”.

Basta dizer que Lula “recebeu”, sem mostrar como e onde teria recebido. Assim como “recebeu” o apartamento”, recebeu o Itaquerão, também recebeu o dinheiro que ali se atribui ao “amigo”.

O Dr. Moro e sua cognição sumária não precisam de mais que isso.

A máquina policial, midiática e judicial está totalmente entregue a cassar um homem. Sem fatos, sem provas, apenas com acusações vagas que são imediatamente aceitas como verdadeiras.

É um escândalo, mas o Brasil já não tem instituições que sejam capazes de resguardar a honra e a dignidade de cada cidadão brasileiro, se este cidadão se chamar Luís Inacio Lula da Silva.

Estes delegados jamais agiriam assim se não soubessem que tem o respaldo daqueles a quem vão entregar o lixo insultuoso que produzem, onde às verdades são misturadas, a gosto, as doses de suposição que bem desejarem.

O processo da ditadura policial-judicial avança sem freios e sem sequer que lhe apontem o ridículo.

Vale tudo para ganharem o troféu de prender Lula.

Sua obsessão mas, também, no fundo, o temor de que este país se levante contra estes abusos.

O passado é uma parada…

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Carlos Alberto Torres, ainda no Santos, cumprimenta Gerson, o Canhotinha de Ouro, capitão do Botafogo, antes de um clássico entre os dois grandes clubes alvinegros, no Maracanã, em 1968. O árbitro é o jovem Arnaldo Cézar Coelho.

Morre o Capita, um dos heróis do Tri

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Um dos maiores jogadores da história do futebol mundial, Carlos Alberto Torres faleceu nesta terça-feira, vítima de um infarto fulminante no Rio de Janeiro. O ex-lateral-direito trabalhava como comentarista do canal Sportv, onde fez sua última aparição na TV no domingo. Seu velório acontecerá na sede da CBF, no Rio de Janeiro.

Nascido em 17 de julho de 1944, no Rio de Janeiro (RJ), Carlos Alberto Torres atuou por Fluminense, Botafogo, Santos, Flamengo e New York Cosmos. O lateral-direito era o capitão da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1970, que encantou o mundo com Pelé, Tostão, Rivellino e cia, conquistando o tricampeonato, no México, ao vencer a Itália por 4 a 1 na grande final.

Ele também tentou a carreira como treinador, iniciada em 1983 e terminada em 2005, passando por clubes como Corinthians, Flamengo,  Fluminense, Botafogo, Paysandu e Atlético Mineiro. O último time que comandou foi o Papão, em 2005.

Como jogador, Carlos Alberto conquistou três títulos Cariocas pelo Fluminense, dois Brasileiros, um Rio-São Paulo e cinco Paulistas pelo Santos. Como técnico, ele ganhou o Brasileiro de 1983 pelo Flamengo, o Carioca de 1984 pelo Fluminense e a Copa Conmebol de 1993 no comando do Botafogo.

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“O Botafogo de Futebol e Regatas decreta luto oficial e hasteia sua bandeira a meio-mastro na sede de General Severiano. O clube manifesta sua solidariedade aos amigos e familiares do Capita, este ídolo e símbolo alvinegro que nos deixa”, disse o clube carioca, em nota oficial divulgada no site.

O Santos e o Flamengo também prestaram homenagem ao ex-jogador. “O Santos FC lamenta o falecimento do ídolo Carlos Alberto Torres, que tinha 72 anos. Ele jogou 445 partidas e marcou 40 gols, no período de 1965 a 1975, e é considerado o melhor lateral direito da história do Alvinegro Praiano. O Clube decretou luto oficial de três dias”, disse o time paulista, em comunicado divulgado no seu site oficial.

Clube que o ex-defensor atuou entre 1977 e 1980, o New York Cosmos lamentou sua morte. “Nós estamos profundamente triste pela perda de Carlos Alberto, um jogador lendário e uma pessoa linda. Ele sempre será parte da família Cosmos”, escreveu o time com uma foto do Capita no Twitter.

Capitão do pentacampeonato mundial da seleção, Cafu também se despediu de Carlos Alberto Torres: “Hoje se foi a lenda do Futebol mundial, meu amigo, o inesquecível, o Grande Capita. Meus sentimentos e respeito à família”.

A Confederação Brasileira de Futebol também divulgou nota em que o presidente da entidade, Marco Polo Del Nero, declara luto oficial de três dias. Assim, as bandeiras da sede da entidade estão a meio-mastro e todas as partidas das competições organizadas pela CBF terão 1 minuto de silêncio. (Com informações da ESPN)

A sombra do estado de exceção se ergue sobre nós

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POR LUÍS INÁCIO LULA DA SILVA, na Folha SP

Em mais de 40 anos de atuação pública, minha vida pessoal foi permanentemente vasculhada -pelos órgãos de segurança, pelos adversários políticos, pela imprensa. Por lutar pela liberdade de organização dos trabalhadores, cheguei a ser preso, condenado como subversivo pela infame Lei de Segurança Nacional da ditadura. Mas jamais encontraram um ato desonesto de minha parte.

Sei o que fiz antes, durante e depois de ter sido presidente. Nunca fiz nada ilegal, nada que pudesse manchar a minha história. Governei o Brasil com seriedade e dedicação, porque sabia que um trabalhador não podia falhar na Presidência. As falsas acusações que me lançaram não visavam exatamente a minha pessoa, mas o projeto político que sempre representei: de um Brasil mais justo, com oportunidades para todos.

Às vésperas de completar 71 anos, vejo meu nome no centro de uma verdadeira caçada judicial. Devassaram minhas contas pessoais, as de minha esposa e de meus filhos; grampearam meus telefonemas e divulgaram o conteúdo; invadiram minha casa e conduziram-me à força para depor, sem motivo razoável e sem base legal. Estão à procura de um crime, para me acusar, mas não encontraram e nem vão encontrar.

Desde que essa caçada começou, na campanha presidencial de 2014, percorro os caminhos da Justiça sem abrir mão de minha agenda. Continuo viajando pelo país, ao encontro dos sindicatos, dos movimentos sociais, dos partidos, para debater e defender o projeto de transformação do Brasil. Não parei para me lamentar e nem desisti da luta por igualdade e justiça social.

Nestes encontros renovo minha fé no povo brasileiro e no futuro do país. Constato que está viva na memória de nossa gente cada conquista alcançada nos governos do PT: o Bolsa Família, o Luz Para Todos, o Minha Casa, Minha Vida, o novo Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), o Programa de Aquisição de Alimentos, a valorização dos salários -em conjunto, proporcionaram a maior ascensão social de todos os tempos.

Nossa gente não esquecerá dos milhões de jovens pobres e negros que tiveram acesso ao ensino superior. Vai resistir aos retrocessos porque o Brasil quer mais, e não menos direitos.

Não posso me calar, porém, diante dos abusos cometidos por agentes do Estado que usam a lei como instrumento de perseguição política. Basta observar a reta final das eleições municipais para constatar a caçada ao PT: a aceitação de uma denúncia contra mim, cinco dias depois de apresentada, e a prisão de dois ex-ministros de meu governo foram episódios espetaculosos que certamente interferiram no resultado do pleito.

Jamais pratiquei, autorizei ou me beneficiei de atos ilícitos na Petrobras ou em qualquer outro setor do governo. Desde a campanha eleitoral de 2014, trabalha-se a narrativa de ser o PT não mais partido, mas uma “organização criminosa”, e eu o chefe dessa organização. Essa ideia foi martelada sem descanso por manchetes, capas de revista, rádio e televisão. Precisa ser provada à força, já que “não há fatos, mas convicções”.

Não descarto que meus acusadores acreditem nessa tese maliciosa, talvez julgando os demais por seu próprio código moral. Mas salta aos olhos até mesmo a desproporção entre os bilionários desvios investigados e o que apontam como suposto butim do “chefe”, evidenciando a falácia do enredo.

Percebo, também, uma perigosa ignorância de agentes da lei quanto ao funcionamento do governo e das instituições. Cheguei a essa conclusão nos depoimentos que prestei a delegados e promotores que não sabiam como funciona um governo de coalizão, como tramita uma medida provisória, como se procede numa licitação, como se dá a análise e aprovação, colegiada e técnica, de financiamentos em um banco público, como o BNDES.

De resto, nesses depoimentos, nada se perguntou de objetivo sobre as hipóteses da acusação. Tenho mesmo a impressão de que não passaram de ritos burocráticos vazios, para cumprir etapas e atender às formalidades do processo. Definitivamente, não serviram ao exercício concreto do direito de defesa.

Passados dois anos de operações, sempre vazadas com estardalhaço, não conseguiram encontrar nada capaz de vincular meu nome aos desvios investigados. Nenhum centavo não declarado em minhas contas, nenhuma empresa de fachada, nenhuma conta secreta.

Há 20 anos moro no mesmo apartamento em São Bernardo. Entre as dezenas de réus delatores, nenhum disse que tratou de algo ilegal ou desonesto comigo, a despeito da insistência dos agentes públicos para que o façam, até mesmo como condição para obter benefícios.

A leviandade, a desproporção e a falta de base legal das denúncias surpreendem e causam indignação, bem como a sofreguidão com que são processadas em juízo. Não mais se importam com fatos, provas, normas do processo. Denunciam e processam por mera convicção -é grave que as instâncias superiores e os órgãos de controle funcional não tomem providências contra os abusos.

Acusam-me, por exemplo, de ter ganho ilicitamente um apartamento que nunca me pertenceu -e não pertenceu pela simples razão de que não quis comprá-lo quando me foi oferecida a oportunidade, nem mesmo depois das reformas que, obviamente, seriam acrescentadas ao preço. Como é impossível demonstrar que a propriedade seria minha, pois nunca foi, acusam-me então de ocultá-la, num enredo surreal.

Acusam-me de corrupção por ter proferido palestras para empresas investigadas na Operação Lava Jato. Como posso ser acusado de corrupção, se não sou mais agente público desde 2011, quando comecei a dar palestras? E que relação pode haver entre os desvios da Petrobras e as apresentações, todas documentadas, que fiz para 42 empresas e organizações de diversos setores, não apenas as cinco investigadas, cobrando preço fixo e recolhendo impostos?

Meus acusadores sabem que não roubei, não fui corrompido nem tentei obstruir a Justiça, mas não podem admitir. Não podem recuar depois do massacre que promoveram na mídia. Tornaram-se prisioneiros das mentiras que criaram, na maioria das vezes a partir de reportagens facciosas e mal apuradas. Estão condenados a condenar e devem avaliar que, se não me prenderem, serão eles os desmoralizados perante a opinião pública.

Tento compreender esta caçada como parte da disputa política, muito embora seja um método repugnante de luta. Não é o Lula que pretendem condenar: é o projeto político que represento junto com milhões de brasileiros. Na tentativa de destruir uma corrente de pensamento, estão destruindo os fundamentos da democracia no Brasil.

É necessário frisar que nós, do PT, sempre apoiamos a investigação, o julgamento e a punição de quem desvia dinheiro do povo. Não é uma afirmação retórica: nós combatemos a corrupção na prática.

Ninguém atuou tanto para criar mecanismos de transparência e controle de verbas públicas, para fortalecer a Polícia Federal, a Receita e o Ministério Público, para aprovar no Congresso leis mais eficazes contra a corrupção e o crime organizado. Isso é reconhecido até mesmo pelos procuradores que nos acusam.

Tenho a consciência tranquila e o reconhecimento do povo. Confio que cedo ou tarde a Justiça e a verdade prevalecerão, nem que seja nos livros de história. O que me preocupa, e a todos os democratas, são as contínuas violações ao Estado de Direito. É a sombra do estado de exceção que vem se erguendo sobre o país.

“De fora, só aparece Lula”. Autor italiano aponta diferenças entre Lava Jato e Mãos Limpas

POR KIKO NOGUEIRA, no DCM

A melhor cena do clássico “Annie Hall”, de Woody Allen, é quando um sujeito, numa fila de cinema, começa a pontificar sobre o trabalho de Marshall McLuhan. Em um determinado momento, com o saco cheio de ouvir tanta baboseira, o personagem central, vivido por Allen, vai buscar o próprio McLuhan para explicar ao sabichão que ele estava errado. “Você não entendeu nada”, diz McLuhan para seu atônito interlocutor, antes de desaparecer atrás das câmeras.

O que Sérgio Moro está fazendo com sua versão brasileira da Operação Mãos Limpas é parecido com o que fez o homem na fila de cinema com McLuhan. Moro, tudo indica, não tem a compreensão do que ocorreu na Itália.

Seria interessante que conversasse com o jornalista Gianni Barbacetto, especialista no assunto e autor do livro sobre a Mani Pulite que está sendo lançado no Brasil — cujo prefácio foi escrito por Moro.

Os dois jantaram e tiraram fotos para a posteridade, mas, aparentemente, trocaram impressões sobre a pizza napolitana e as escadarias de Roma, mais do que qualquer coisa.

A Mãos Limpas cumpriu quase 3 mil mandados de prisão, investigou 438 parlamentares e 872 empresários, acabou com cinco partidos — e desembocou no pilantra Silvio Berlusconi.

Barbacetto já tinha falado com a Zero Hora. Deu uma entrevista ao Valor, publicada nesta segunda, 24, que deveria ser lida e anotada por Sérgio Moro. São placas onde está escrito “Perigo! Não entre!”, virtualmente ignoradas.

Valor: A Mãos Limpas já foi classificada como um sucesso no curto prazo, mas um fracasso no longo prazo. O sr. concorda?

Gianni Barbacetto: Sim. Por um breve período, dois anos, a política italiana se livrou da corrupção. Cerca de 90% dos italianos se envolveram e apoiaram a operação, num clima de grande torcida. Aqui, no Brasil, vejo apoio de alguns que são favoráveis, mas outra parte que considera um golpe. Na Itália, não havia isso, nos primeiros anos. Depois, houve as consequências políticas.

Valor: Que consequências?

Barbacetto: No começo, os promotores fizeram a investigação e descobriram um sistema de corrupção perfeito, que incluía até partidos da oposição, como o Comunista. Com isso, os cidadãos deixaram de votar naqueles partidos. Depois, a partir de 1994, o sistema político se fecha e se recria.

Valor: Como?

Barbacetto: Começam a nascer novas legendas, como a Liga Norte, partido separatista, e sobretudo a Força Itália, de Berlusconi. Ele controlava as três redes de TV privadas e dominava a opinião pública. Em pouco tempo, ele se apresenta como defensor da Mãos Limpas e vence as eleições, dizendo-se um empreendedor, e não um político. Depois disso, ele reconstruiu o velho sistema, reciclando os antigos políticos. Berlusconi era o maior amigo do maior protagonista da Mãos Limpas, o ex-primeiro-ministro Bettino Craxi, seu grande protetor. Berlusconi conseguiu o monopólio da TV privada italiana graças a Craxi.

Valor: A população não fazia essa ligação?

Barbacetto: Metade sim, mas metade, que estava apaixonada por Berlusconi, não – o defendeu e votou nele por quase 20 anos.

Valor: A ascensão de Berlusconi marca a decadência da operação?

Barbacetto: O sistema antigo de corrupção, com os tesoureiros recolhendo e distribuindo as propinas para o partido, não existe mais. Mas se criou um novo sistema. São vários políticos e cada um se serve. É um self-service da corrupção. Por meio de correntes e grupos partidários.

(…)

Valor: A Lava-Jato ajudou a derrubar Dilma Rousseff e o PT, mas o novo governo, de Michel Temer, é apoiado por uma maioria parlamentar com políticos e partidos também envolvidos em esquemas de corrupção. Esse resultado é muito diferente ao da Itália, não?

Barbacetto: Sim, na Itália a população foi às urnas e como forma de protesto derrubou os grandes partidos em 1994. A mudança não ocorreu dentro do Parlamento, mas fora.

Valor: No Brasil, há grupos muito críticos à Lava-Jato. Isso aconteceu na Itália?

Barbacetto: Durante dois anos ninguém criticou quase nada. Os italianos amavam a Mãos Limpas, mas Berlusconi conseguiu convencer, pelo menos a metade da população, de que a operação foi manipulada e politizada. Ele e a direita italiana ainda dizem que a Mãos Limpas acabou com o antigo sistema, mas salvou o Partido Comunista, chamava os juízes de comunistas, de “toga vermelha”.

(…)

Valor: Qual é a visão da Lava-Jato na Itália?

Barbacetto: Olhando de fora, aparece só Lula. Na Itália, sabemos apenas que Lula é investigado. Não sabemos ninguém de outro partido.

Na semana passada, talvez tentando disfarçar a parcialidade patente da Lava Jato, Moro prendeu Eduardo Cunha numa operação que fugiu completamente ao protocolo.

A essa altura, depois de dois anos concentrados em apenas um partido e seu líder, fica complicado convencer que o objetivo não seja tirar Lula da cena.

Fica claro, a cada entrevista de Barbacetto, que Sérgio Moro não leu a obra para a qual escreveu o texto de apresentação. Agora: ainda que Barbacetto lhe dissesse que ele não entendeu nada, é duvidoso que o juiz o ouvisse, do alto de seu posto de salvador da pátria brasileira.

Moniz Bandeira analisa o cenário mundial de transição pós-hegemonia dos EUA

POR LEONARDO VALENTE

A combinação entre rigor histórico, documentação relevante e não raro inédita, e análise conceitual criteriosa sempre foram as marcas dos livros de Luiz Alberto Moniz Bandeira, e este “A desordem mundial” não foge à regra. Pelo contrário, trata-se de uma das mais importantes contribuições intelectuais atuais para se entender os tempos turbulentos que chacoalham o tabuleiro do poder entre as nações. De maneira didática, mas sem perder a densidade, Moniz Bandeira dá ordem ao caos, com fundamentação relevante para o entendimento sobre um sistema internacional em franco e perigoso processo de desestruturação. Comprova, ainda, que os Estados Unidos não demonstram mais a capacidade de manter a estabilidade internacional, e que sua liderança, apesar de presente, já dá claros sinais de deterioração.

unnamedA nova ordem de transição pós-hegemonia norte-americana, mas ainda com grande preponderância dos Estados Unidos, é a desordem, pelo menos por enquanto. Em meio a uma Europa cuja unicidade encontra-se ameaçada, a uma Síria assolada por uma das mais cruéis guerras recentes, a um preocupante crescimento das extremas-direitas em todo o mundo, ao terrorismo internacional, e a ex-repúblicas soviéticas convertidas em alvo de perigosa disputa geopolítica entre Washington e Moscou, Moniz Bandeira consegue estabelecer nexos estruturais e relações causais sofisticadas, que ajudam a compreender o mundo para além da visão dominante anglo-saxã, tradicionalmente defensora da hegemonia norte-americana.

Também alerta para outro fato, muito mencionado no pós 11 de Setembro, mas que hoje é pouco analisado nos círculos intelectuais:  o de que a mais importante democracia do mundo, conhecida por tentar espalhar seu regime, continua a ver suas liberdades declinarem a passos largos, e que isso contribui acentuadamente para o colapso da ordem internacional. Uma superpotência inconformada com a ascensão de nações rivais que escapam ao seu controle, e que para fazê-las recuar na disputa pelo poder é capaz, inclusive, de sacrificar parte das liberdades individuais que a tornou tão sedutora e admirada.

Entender o frágil e conflituoso castelo de cartas das nações de nossos tempos não é uma tarefa fácil, mas Moniz Bandeira sabe como poucos traduzir a entropia da contemporaneidade em entendimento analítico. Com apresentação de Luiz Carlos Bresser Pereira e prefácio de António C. A. de Sousa Lara, o livro chegou às livrarias neste mês de outubro, pela Civilização Brasileira.

APRESENTAÇÃO:

Por Luiz Carlos Bresser Pereira

A grande desordem de que nos fala Luiz Alberto Moniz Bandeira neste livro é a desordem das relações internacionais e a confusão interna em que estão imersos os Estados Unidos. É a desordem principalmente no leste da Europa, e em particular na Ucrânia, e no Oriente Médio, cuja principal causa são os Estados Unidos, e a decadência da democracia nesse país. Não obstante, essa superpotência exporta democracia para o resto do mundo, mesmo que isto tenha que ser feito através da guerra, ao mesmo tempo que, internamente, sua democracia, que após a Segunda Guerra Mundial era a mais avançada do mundo, declina.

Nesse país, nos diz o notável historiador da modernidade, a democracia entrou em decadência ao deixar de garantir os direitos fundamentais das pessoas, ao prendê-las arbitrariamente e torturá-las, ou então ao, simplesmente, as assassinar se forem consideradas terroristas ou inimigas. A justificativa para isto é a “guerra ao terrorismo”; as verdadeiras razões são a determinação de ocupar o mercado interno dos demais países com seus financiamentos e investimentos diretos, e a inconformidade da grande potência com a emergência de outras potências que não estão sob sua esfera de influência.

Mas Moniz Bandeira não fica no plano teórico. Pelo contrário, ele mergulha na prática ao citar documentos e mais documentos, e entrevistas e mais entrevistas que levantou para escrever A desordem mundial. Para ele, o que ocorreu nos Estados Unidos foi um “processo de mutazione dello stato, de democracia para oligarquia”, e de ditadura do capital financeiro. Que está associado ao aumento das desigualdades internamente, desde os anos 1980, e ao aumento da competição representada pelos países em desenvolvimento ao se tornarem exportadores de bens manufaturados e serviços, em particular a China e a Índia.

Em vez de aceitarem um mundo multipolar, no qual os Estados Unidos serão por muito tempo o ator principal, eles adotam políticas que tornam o mundo mais inseguro e desordenado.

SOBRE O AUTOR:

LUIZ ALBERTO MONIZ BANDEIRA, formado em Direito, é doutor em Ciência Política pela USP e professor titular de política exterior do Brasil no Departamento de História da UnB. Recebeu o título de doutor honoris causa da Unibrasil e da UFBA. Em 2006, a UBE elegeu-o, por aclamação, Intelectual do Ano de 2005, conferindo-lhe o Troféu Juca Pato, por sua obra Formação do império americano. Recebeu, em 2014 e em 2015, a indicação ao Prêmio Nobel de Literatura, pela UBE, em reconhecimento ao seu trabalho com “intelectual que vem pensando o Brasil há mais de 50 anos”.

Autor de mais de 20 obras, publicadas em diversos países, Moniz Bandeira foi professor-visitante de universidades da Alemanha, na Suécia, em Portugal e na Argentina e conferencista-visitante em universidades da Europa, dos Estados Unidos e da América Latina. É portador da Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco (Brasil), comendador da Ordem do Mérito Cultural (Brasil), comendador da Ordem de Mayo (Argentina) e condecorado com a Cruz do Mérito, 1ª classe, da República Federal da Alemanha.

Luiz Alberto Moniz Bandeira, 2º Barão de São Marcos (por Portugal), tem grau de Cavaleiro da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa (Casa Real Portuguesa).

Livro: A DESORDEM MUNDIAL

Páginas: 644

Preço: R$ 84,90

Editora: Civilização Brasileira / Grupo Editorial Record