Dia: 30 de outubro de 2016
Galeria do rock
Manfred Mann, banda britânica dos anos 70.
Candidatos ao Olimpo
POR GERSON NOGUEIRA
O mundo do futebol costuma, de tempos em tempos, se empolgar entusiasticamente com uma nova promessa de craque, às vezes até de supercraque. Nos tempos de Pelé e Garrincha, era comum surgirem apostas delirantes em garotos recém-saídos dos cueiros. O mesmo aconteceria depois em relação a Diego Maradona e, recentemente, também em torno de Lionel Messi.
Por coincidência, quase todos os que foram apontados como futuros astros terminaram por sucumbir pelo caminho. Ou por não serem qualificados para o destino glorioso que se imaginava, ou porque não tiveram oportunidade ou sequência que permitissem desenvolver as habilidades naturais.
É como se os deuses da bola dissessem que não cabe a simples mortais o papel de indicar quem será o próximo rei absoluto dos estádios. Esta primazia é determinada pelos caprichos do destino.
Apesar desses fracassos seguidos nos palpites, a coisa adquiriu ainda mais fôlego em tempos de internet e jornalismo digital. A cada semana, o YouTube posta diabruras de jovens candidatos a craque dos mais diversos pontos do planeta. Surgem e desaparecem com a mesma rapidez.
O mais recente fenômeno de mídia é o garoto Kamaroko Dembelé, de origem marfinense, mas que despontou nas divisões de base do Celtic da Escócia, como a atestar as amplas conexões do mercado globalizado do futebol.
Em meio a uma legião de garotos brancos eis que surge Dembelé, serelepe e veloz como um azougue, driblando e infernizando defesas. Bom de fintas, o garoto de 13 anos impressiona pela maturidade na execução dos fundamentos. Sabe passar com correção, aplica dribles estonteantes e chuta com extrema precisão.
Os vídeos sobre ele se multiplicam na internet e são comparados aos do jovem Messi. Prestei atenção em várias jogadas de Dembelé e, apesar de reconhecer o talento natural para o jogo, não vi nada que a garotada no Brasil não faça nos campinhos de pelada.
A fama de Dembelé fez com que já ganhasse espaço na seleção escocesa sub-20. Ocorre que é preciso mensurar o cenário onde ele surgiu. Seu sucesso talvez seja mais visível em função das defesas de cintura dura e pouca habilidade que teve pela frente.
O tipo físico do jovem astro do Celtic faz lembrar Pelé, mas as semelhanças terminam exatamente aí. O Rei era mais forte, determinado e completo nos fundamentos, a ponto de ser um dos maiores cabeceadores da história do futebol.
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Bola na Torre
Giuseppe Tomaso comanda o Bola na Torre deste domingo, com participação de Valmir Rodrigues e deste escriba de Baião, discutindo temas do futebol paraense.
O programa começa logo depois do Pânico na RBATV, por volta de 00h20.
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Dragão: a receita do sucesso sem gastança
Um exemplo sadio de gastos com o futebol é dado neste Brasileiro da Série B pelo líder Atlético-GO. Atual sensação da competição, acumula 61 pontos ganhos, passando pela folha salarial salgada do favoritíssimo Vasco, que torra com o elenco aproximadamente R$ 3,5 milhões por mês.
Pois o Dragão goiano tem um gasto cinco vezes menor. O time, que começou modestamente na disputa, sem despertar grande entusiasmo, custa R$ 650 mil e aposta tudo em uma política de austeridade financeira desenvolvida a partir das necessidades enfrentadas nos últimos anos.
Apesar da cartilha tradicional indicar que clubes da Segunda Divisão precisam investir em figurões, normalmente com salários acima de R$ 100 mil, impostos por empresários espertos, o Atlético-GO decidiu contrariar a lógica do mercado e está se dando muito bem.
Abriu mão dos medalhões, jogadores com muita fama, todos barrados pela atual diretoria, que já vem vacinada de outros campeonatos.
Como sabe que atletas veteranos só jogam a Série B por não encontrarem mais espaço na Primeira Divisão, os dirigentes do Dragão preferiram equilibrar as contas a arriscar com jogadores sem compromisso ou perspectiva de sucesso.
Segundo o técnico Marcelo Cabo, a opção foi investir num minucioso trabalho de monitoramento de jogadores que despontam em equipes mais modestas. Mais de 80% do atual elenco, foi montado no começo da temporada, um pouco antes do Campeonato Goiano.
Não houve desespero, nem pressa. Apenas cabeça no lugar e muito cuidado na hora de gastar o dinheiro do clube. A receita está se revelando vitoriosa. Que sirva de exemplo.
(Coluna publicada no Bola deste domingo, 30)