Boa vitória, mas cabia mais

POR GERSON NOGUEIRA

O Remo precisava dos três pontos para voltar ao G4 da Série C e manter a boa arrancada empreendida sob o comando de Waldemar Lemos. Conseguiu seu intento, com sobras. Derrotou o Cuiabá por 2 a 0 e podia ter alcançado um placar mais folgado não fosse a afobação de alguns jogadores, a falta de pontaria de outros e uma incrível ausência de vibração. Pela frieza, pareceu até aquele contestado Remo de Marcelo Veiga.

9655bb80-5942-4852-9c69-a82eb46e947cO time custou a se ligar no jogo, apesar do incessante apoio da torcida. Corria sem rumo e errava passes curtos até os 15 minutos. O Cuiabá se mantinha recuado, mas deu o ar da graça aos 24 minutos, em chute disparado por Tiago Amaral da entrada da área.

O Remo tocava muito a bola, mas sem consequência. Tentava fazer de Eduardo Ramos e Ciro parceiros de Edno na frente, mas as manobras não se concretizavam. O Cuiabá se limitava a dar chutões e a tentar ligações diretas para o ataque, sem levar maior perigo.

Apesar das claras limitações do visitante, os azulinos insistiam em afunilar o jogo. Eduardo Ramos sempre que recebia a bola partia em direção à área, mas não acertava o passo com Edno e Marcinho, que esteve sempre mais adiantado e longe do processo de criação no meio.

Quando começava a aparecer mais, Ciro sofreu entrada violenta de Carlão e precisou deixar o jogo, sendo trocado por Fernandinho.

A impaciência começava a dominar time e torcida, com bolas perdidas a todo instante no meio-campo. Fernandinho entrou e fez o de sempre. Botou correria, mas é do tipo que tropeça nas próprias pernas e raramente dá sequência às jogadas. Optou pelo lado direito do ataque, mas não encaixava a passagem com Levy e ambos acabaram travados.

Para agravar as coisas, Wellington Saci era improdutivo, até mesmo nas cobranças de falta e escanteio. No setor defensivo, pregava sustos seguidos nos demais defensores com recuos inesperados de bola e erros de cobertura. Seus erros fizeram até lembrar o tão malhado Fabiano.

Apesar desses problemas, o Remo mandava no jogo. E era superior porque o Cuiabá não tinha qualquer proposta, a não ser destruir. Para isso, usava as costumeiras duas linhas de marcação e baixava o sarrafo, sob o olhar complacente do apitador goiano.

Na primeira tentativa inteligente de vencer a barreira de marcação, a bola passou por Edno e foi conduzida por Yuri, que chegou em velocidade. A presença de um volante desnorteou a marcação do Cuiabá, permitindo a finalização certeira, aos 40 minutos.

O gol fez justiça a quem teve mais tempo de bola e premiou o jogador que mais se desdobrou entre marcação e transição. Trouxe mais tranquilidade, fazendo com que a bola passasse a ser tocada com mais rapidez e acerto.

Para a etapa final, o Cuiabá mexeu na maneira de atuar, passando a usar até três homens adiantados, embora sem coordenação no meio. Isso permitiu que Edno tivesse mais liberdade na faixa intermediária. Foi ele que ganhou um lance em velocidade e passou com perfeição para Eduardo Ramos finalizar. A bola foi tocada pelo goleiro, bateu na trave e voltou nos pés do zagueiro, entrando em seguida.

Com 2 a 0 logo aos 5 minutos, parecia que o Remo ia finalmente deslanchar. Ledo engano. O time seguiu dispersivo, com raras exceções – Edno, Ramos, Levy e Yuri. O volante cansou e foi substituído por Lucas Garcia. Depois, Schmoller também saiu, para a entrada de Allan Dias.

Marcinho é um caso à parte. Pela primeira vez entrou como titular, mas não foi nem sombra do jogador ágil e participativo dos confrontos contra Fortaleza e América, quando entrou no segundo tempo.

O jogo foi se arrastando, o Remo perdendo chances e o Cuiabá chegando apenas em lances fortuitos – como na sequência em que Fernando Henrique teve que sair duas vezes de soco para afastar cruzamentos, aos 35 minutos.

Resumo da ópera: o Remo não jogou bem, mas fez o necessário para vencer. Será preciso mais rapidez e envolvimento nas próximas batalhas.

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Outra arbitragem desastrosa

No confronto entre Remo e Cuiabá, o destaque negativo ficou com a atrapalhada arbitragem do goiano Eduardo Tomaz de Aquino Valadão, que inverteu marcações e errou feio na aplicação de cartões.

Devia ter expulsado o jogador Carlão, do Cuiabá, por entrada criminosa em Ciro ainda no primeiro tempo. Lesionado, o atacante do Remo teve que ser substituído por Fernandinho.

Ao longo da partida, o árbitro deu um verdadeiro show de lentidão e de falta de critérios ao assinalar faltas. Lembrou até Sandro Meira Ricci, outro que andou fazendo grossas lambanças em Belém.

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Na dança das cabeças, sobrou para o lusitano

O português Paulo Bento nem esquentou banco e já rodou. O Cruzeiro, em queda livre na Série A, preferiu recontratar Mano Menezes, que foi um dos badalados técnicos brasileiros demitidos do glorioso futebol chinês.

Mano, com a empáfia habitual, certamente vai chegar botando banca na Toca da Raposa, comportamento tão ao gosto de certa crônica esportiva que adora incensar treinadores metidos a ladinos ou marrentos.

Não deve ter dificuldades em levantar o clube dos Perrella, visto que o nivelamento do campeonato é cada vez mais rasteiro, permitindo que em três ou quatro rodadas qualquer time saia do atoleiro e chegue ao G4.

Uma competição sob medida para eleger falsos gênios, tanto dentro quanto fora das quatro linhas.

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Susto geral: Tite quer trocar ideias com Dunga!

A profissão de técnico é, sem dúvida, uma das mais interessantes do universo do futebol. Até mesmo quando há uma visível fuga de ideia, o “professor” é sempre justificado e até aplaudido desde que apresente uma explicação mais elaborada.

É o caso dessa anunciada decisão de Tite, que pretende levar um papo com Felipão e Dunga para “fechar um raio-x” sobre a Seleção Brasileira. Ora, é do conhecimento até das pedras do cais que a dupla em questão não tem mais nada a dizer sobre o escrete.

Isto é, ambos devem ter coisas a manifestar, mas dificilmente algo que se aproveite. Donde se conclui que o verborrágico Tite está mesmo é cuidando do marketing, caprichando no perfil de técnico afeito ao diálogo. Em termos práticos, a conversa terá resultado igual a zero.

(Coluna publicada no Bola desta terça-feira, 26)

13 comentários em “Boa vitória, mas cabia mais

  1. Caro Nogueira, competência o Tite tem. Basta ser discreto. Deixar essa pavulagem, essa frescura toda de lado e pronto. Imaginemos como será a relação dele com a vênus platinada, com seu grande emissário, o tal Bueno (puxxqueopariu!!!).

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  2. Não pude ver esta partida do mais querido. Mas pelo que ouvi no rádio e vi da escassez de boas jogadas nos melhores momentos, depois, penso que você tem razão, caro Gerson. Ainda não consigo admitir Jussandro fora do time, Ciro titular e Marcinho adiantado e, no mais, porque não se deu ainda uma chance ao Magno? Acho que Magno seria muito mais produtivo que Ciro, Jussandro que Saci e Marcinho invertendo com Eduardo Ramos. Ciro e Fernandinho já mostraram que são capazes de boas apresentações, isto é, de jogar bem e fazer a diferença, mas não de duas ou três partidas consecutivas jogando bem. Acho que Luiz Carlos Imperador pode ser um bom parceiro para Edno, se bem treinados, porque ambos têm habilidade e disposição para tabelar e e fazer pivô, o que casa com Eduardo Ramos como meia-atacante e Marcinho como armador. Não quero inventar, quero mostrar que há opções, e acho que os baluartes são capazes de mostrar mais ainda. Por que dar uma de “Folha” e insistir no erro?

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  3. Na primeira etapa não acho que o Remo foi improdutivo. Como furar o bloqueio de um time que veio todo recuado como o Cuiabá, a proposta deles era segurar o empate e em um contra-ataque tentar abrir o placar. O 3 melhores jogadores do Remo estavam bem marcados e a bola não chegava com qualidade no Edno. No segundo tempo, o Cuiabá em desvantagem, teve que sair para o jogo e como isso os espaços foram aparecendo e o Remo se aproveitou da situação.

    Waldemar precisa trabalhar as laterais para ser um ponto de saída qdo o adversário estiver fechado como ontem. Grande vitória azulina, que continue assim.

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  4. Também acho que o Tite está fazendo tipo. Sei lá, a impressão que me passa é a de que ele mal entrou já está preparando as justificativas para o momento da saída.

    Sobre o Mais Querido, no que respeita a esquema tático o que mais eficiente se mostrou ontem foi o tal de Borderô.

    Já dentro do gramado o que se viu foi um futebol bem semelhante àquele mal futebol jogado contra o América.

    Interessante que no time que entrou jogando ontem não havia nenhum jogador destituído de técnica no trato da pelota, mas foi muito difícil deles conseguirem equilíbrio e serenidade suficiente para fazer um passe mais qualificado, prestar uma assistência eficiente, reter a bola de maneira mais produtiva.

    Mais uma vez o que se viu foi a predominância da ligação direta, do chute para onde o nariz apontava.

    Aliás, foi constrangedor ver o Saci se encher de pernas na esmagadora maioria das vezes em que tentou fazer coisas simples que ele certamente sabe fazer muito bem como por exemplo executar um passe. O Eduardo Ramos foi um pouquinho menos pior neste quesito. Aliás, este vem rendendo menos a olhos vistos de jogo para jogo.

    Diferença só fez mesmo o Edno.

    Sorte que o adversário estava numa noite ainda bem menos inspirada que o time azulino.

    Mas, a vitória foi importante pois ofereceu a possibilidade do Leão abrir espaço para tentar se estabilizar no G4 nas rodadas seguintes. Tomara que a bem sucedida tática aplicada pelo Borderô possa surtir efeitos na geração de um estímulo bem específico para os jogadores melhorarem a performance nas quatro linhas.

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  5. Vi o jogo aqui em SP , gostei , acho que com uns retoques o time chega lá . Porém falar das arbitragens que tenho visto é malhar em ferro frio . Verdadeiros sopradores , burros pois não acredito em desonestidade , sem critério nenhum a ser seguido , pois ontem uma entrada criminosa de dois pés na frente deste soprador goiano , não expulsou com medo da reação do time do Cuiabá , neste caso mostrou incompetência , pois aquele lance poderia perfeitamente ter quebrado a perna do siro e um simples cartão amarelo com o burucutu saindo lépido o nosso jogador apoiado pelo médico . Aliás este sr. mostrou ser da escola daquele outro trapalhão soprador o tal de Sandro que transforma um jogo fácil de apitar em uma grande confusão. E imagine este soprador é cotado para ser da fifa . Esperar o que ???

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  6. Gostei de ver a paciência e a tranquilidade do time azulino ontem, o Cuiabá veio muito fechado e marcando forte, todavia em duas jogadas bem pensadas pelo Edno, servindo como pivô, encontrou as redes adversárias. O que chamou atenção foi a má partida de Wellington Saci, não parecia ele em campo. O que indignou foi a não expulsão do zagueiro Carlão, entrada criminosa em Ciro, na frente do árbitro, um pouco mais de força de impacto teria quebrado a perna do jogador, acredito que esse apitador deveria receber uma punição.

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  7. E, sobre Tite. Ou sobre Tite ter ido falar com Dunga. Imagino que seja a tal tradição gaúcha… São vizinhos! E vizinhos os três, na verdade, acrescentando aí o Felipão. Só faltou o Mano na conversa… Penso que treinadores como o Levir Culpi, o Cuca, o Dorival Junior e o Marcelo Oliveira são ótimas opções à seleção. Todos eles fizeram, ou ainda fazem, milagres com os times que dirigem. E os quatro são campeões nacionais. Está na hora de dar um tempo aos técnicos gaúchos, e voltar à tradição brasileira copiada por Guardiola, de futebol total e ofensivo.

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