POR GERSON NOGUEIRA
Cansamos de ouvir falar no Brasil pós-colapso de 2014, mas o pior lado daquela fatídica derrota para os alemães em Belo Horizonte segue a se impor a cada novo jogo da Seleção. Refiro-me ao desprestígio quase unânime – e possível de ser aferido em consultas informais sobre a participação nacional na Copa América Centenário.
Por mais gols que o time produza, como contra os ingênuos haitianos, a maioria dos torcedores não leva a menor fé no time e no técnico. Diria até que o percentual de descrença em Dunga acaba por se espraiar pelos jogadores, alguns muito jovens e injustamente carimbados com o estigma que marca o escrete desde a Copa do Mundo.
A coisa é tão séria que soterra até as novidades positivas, como a utilização de dois volantes modernos e de boa técnica, como Elias e Renato Augusto, meias de origem. Fazia muito tempo – talvez desde o timaço de Telê em 1982 – que uma Seleção não utilizava jogadores tão habilidosos como potenciais marcadores.
Alguns dos melhores momentos do time nesta Copa América surgiram de combinações nascidas na saída de bola da defesa para o ataque. Contra o Equador, no pálido empate sem gols, o Brasil só exibiu um jogo interessante quando um dos volantes se aproximou de Philipe Coutinho e Willian para triangulações.
Diante do Haiti, cuja óbvia fragilidade não permite que se leve a sério o balaio de gols, isso voltou a ocorrer, com mais intensidade até. Dunga, que nunca foi técnico ou estrategista, está levando a cabo uma mudança que pode ter mais à frente efeitos positivos.
Por ora, em face principalmente da ausência de um sistema de jogo bem delineado, pouco foi produzido a partir da presença de Renato Augusto e Elias ali naquele ponto do campo onde normalmente pontificam brucutus. Mas seria um erro monumental ignorar que há um clarão de inovação raiando no horizonte. Se esse facho de luz vai morrer no nascedouro ou será assimilado pela Seleção já é outra história.
Contra o Peru de Guerrero, hoje, há uma boa perspectiva de que o bom nível dos volantes possa vir à tona, fazendo com que o time tenha mais qualidade e intensidade nas saídas em direção ao campo adversário.
Já representa salutar avanço o simples fato de que Dunga, volantão de origem e filosofia, decidiu aceitar o que o mundo inteiro já vem fazendo há pelo menos duas Copas: volantes inteligentes e passadores a serviço da construção das principais jogadas. Alemanha, França, Espanha, Itália, Holanda e até a Bélgica já jogam assim, com excelentes resultados.
Aos descrentes de carteirinha cabe lembrar que há dois anos o Brasil tinha Fernandinho, Luiz Gustavo, Ramires e até David Luiz frequentando aquele estratégico território entre a meia-lua e o grande círculo, onde tudo realmente começa.
Pode ser uma experiência passageira, visando apenas arrumar a Seleção para o torneio olímpico, mas é interessante que novos jogadores sejam testados naquela faixa do campo. Curiosamente, as estatísticas mostram que volantes são os que mais tocam na bola durante o jogo.
Quase todas as movimentações passam por eles. Técnicos como Guardiola, Ancelotti, Mourinho e agora Zidane entenderam muito bem a importância do papel do volante como iniciador do jogo. Fizeram tanto pela reinvenção da posição que muitos imaginam erradamente que volantes como Kroos, Busquets e Pirlo são meias.
O mundo mudou tanto dentro das quatro linhas que até Dunga já dá sinais de capitulação diante dos novos tempos. Falta agora acreditar que Gabigol pode ser o atacante de área que o Brasil já busca há algum tempo e que o menino Gabriel Jesus merece pelo menos ser observado melhor.
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Interioranos estreiam na Série D
A estreia dos times paraenses no Campeonato Brasileiro da Série D é motivo de esperança quanto a uma boa participação no torneio. Águia, São Francisco e São Raimundo representam o futebol do interior e têm equipes à altura da competição. Em condições até de vir a repetir a façanha do Pantera santareno, campeão na primeira edição da Série D.
O São Francisco, vice-campeão estadual, é dos três o que mais investiu em contratações, com destaque para o meia-atacante Jefferson Monte Alegre, artilheiro do Parazão 2016. Mesmo com perdas, o Águia preservou parte da base do campeonato. O São Raimundo teve perdas e tem o elenco menos qualificado.
Na rodada inaugural, hoje, caberá ao São Francisco o compromisso mais difícil, estreando longe de sua torcida, contra o Palmas-TO. Já o Águia receberá o Tocantinópolis, enquanto o São Raimundo enfrenta o Rondoniense, no estádio Barbalhão.
Pelo perfil da competição, nivelada tecnicamente por baixo, é provável que pelo menos um dos times paraenses consiga o acesso à Série C. E, pelo menos a priori, o São Francisco parece o mais cotado para subir.
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Bola na Torre
Guilherme Guerreiro comanda a atração, com as participações de Giuseppe Tommaso e deste escriba de Baião. Começa logo depois do Pânico (RBATV), por volta de 00h20.
(Coluna publicada no Bola deste domingo, 12)








