Lyoto, irresponsabilidade e marketing capenga

É inadequado questionar Lyoto Machida por ter recebido R$ 21 mil do governo do Estado para participar (por alguns minutos) do ritual da Tocha Olímpica. O lutador foi convidado e aceitou a ajuda de custo.

Deve-se questionar, acima de tudo, um governo capaz de gastos irresponsáveis apenas pela suposta necessidade de “agregar marketing” a um evento que dispensa ações marqueteiras.

Não se pode ignorar o fato não menos grave de que a Seel autorizou despesas com um atleta de esporte não olímpico – e que, para muitos, nem esporte é.

O começo da reação?

POR GERSON NOGUEIRA

A boa notícia é que o Papão mudou de cara. Melhorou. Não apenas por quebrar a sequência negativa na Série B, mas pela disposição do time em buscar a vitória a qualquer custo. O time não fez um partidaço, mas é inegável que passou a ter um novo comportamento frente à competição.

e751dbcb-0579-4745-87d7-2a4d3c3ff889Segunda Divisão exige entrega, sacrifícios e muita superação. Todas essas virtudes estiveram presentes na partida de anteontem na Curuzu. Até mesmo para quem não botava fé em jogadores como Rafael Costa, a noite reservou uma agradável surpresa.

O meia exibiu um desembaraço que só tinha sido visível em sua estreia, contra o Ceará, na primeira rodada. Não se pode dizer o mesmo de Alexandro, de novo inseguro e pouco eficiente para um centroavante.

Por outro lado, Jonathan, Leandro Cearense e Ilaílson (coincidentemente, três ex-remistas) repetiram o que já se sabia sobre eles. Jogaram com extremo afinco, dedicação e obstinada busca pela vitória.

Cearense foi mais efetivo nos deslocamentos junto à zaga catarinense, abrindo espaços preciosos para os jogadores que vinham de trás. Uma maneira inteligente e moderna de jogar sem a bola.

A Jonathan coube a honra do gol que garantiu a segunda vitória alviceleste no campeonato e que tira a equipe da zona da degola. Apesar do impedimento não assinalado, a jogada foi perfeita na origem e na execução. Cá pra nós, seria um tremendo pecado anular um gol tão bem construído.

Sobre o trabalho de Gilmar Dal Pozzo, o primeiro jogo é insuficiente para que se faça uma avaliação. Ficou, porém, a impressão de que o time terá maior aproximação entre os setores e irá ser muito mais brigador (na bola, é claro) e intenso.

Alguns problemas persistem e exigem rápida correção. A saída para o ataque ainda é excessivamente lenta, facilitando a recomposição do lado adversário. Falta ampliar o repertório do ataque – a jogada preferencial ainda é a tentativa repetitiva de cruzar bolas sobre a área. E há um perigoso buraco em frente à zaga, que ajuda as ações inimigas e desestabiliza o setor defensivo.

Bom observador, Dal Pozzo certamente anotou estes (e outros) pontos para providências. Mas, sem dúvida, já foi um bom começo de gestão.

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Seleção já sob novo comando

Caso a escolha do técnico da Seleção Brasileira fosse pelo voto direto, como mandam as boas regras democráticas – embora isto não valha muito para o atual momento brasileiro -, meu candidato seria Cuca.

Por motivos bem claros: é inventivo, inovador e assumidamente ofensivo. Seus times não jogam para empatar e há o fato fundamental de haver treinado (e bem) o Botafogo, o que é prova insofismável de bom gosto.

Tite, o escolhido pela CBF, é um técnico de perfil mais conservador. É da mesma linhagem de Felipão, embora mais articulado e dado a pesquisas no dicionário para dar entrevistas. Lembra também o estilo pragmático de Muricy Ramalho, embora seja mais criativo na armação de seus times.

Teatral, adora uma pausa dramática em meio à discurseira explicativa pós-jogo. Um chato, em resumo, mas bem educado, exatamente o oposto de Dunga, o irascível comandante recém-apeado.

Tite chega credenciado por resultados expressivos no Corinthians, incluindo aquele incrível título mundial sobre o Chelsea, depois de resistir a um bombardeio do ataque britânico ao longo de quase toda a partida. Mostrou naquele dia o quanto pode ser eficiente em armar retrancas.

Por tudo isso, receio que a Seleção de Tite venha a ter profunda identificação conceitual com a de Zagallo, Felipão e Dunga.

A conferir.

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Direto do Face

“Ainda sobre a Tocha. Eu realmente estou pouco me importando se fulano ou beltrano vai carregar a tocha. E se as Olimpíadas são feitas por patrocinadores. Mas, EU (ênfase), acho uma falta de sensibilidade não prestigiarem as pessoas que deram ou dão a vida ao esporte, seja qual for (do xadrez ao beisebol). Outro dia, eu e a Su Monteiro Nóvoa demos uma colaboração a um grupo de atletas de Taekwondo que estava no sinal pedindo ajuda para viajar e participar de um evento esportivo. Pergunto quantos desses seres sorridentes correndo com a tocha na mão realmente se importam com esses atletas que estão na batalha por ai.. (…)

Jogadores, atletas paraolímpicos, professores de educação física, galera do esporte amador, voluntários de projetos na periferia voltados ao esporte… tanta gente boa pra carregar tocha. E o povo prefere dar a vez pra quem fala ‘boca de tracajá’.”

Fábio Nóvoa, amigo e parça de outras jornadas, expressando opinião sobre as estranhas escolhas para o ritual da Tocha Olímpica. Penso exatamente assim. 

(Coluna publicada no Bola desta quinta-feira, 16)