Sites e apps vão acabar (e você nem tinha percebido)

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POR RAFAEL CALIXTO TAUIL, do portal R7

Estava olhando pro meu smartphone, vendo quantos aplicativos eu uso de verdade – e quais eu podia apagar, pra dar aquela liberada de espaço. Até que… BHHHHU. Uma buzina me interrompeu. O trânsito já tinha andado um pouco, e o espaço de uns 6 carros já estava disponível na minha pista. (O que, no engarrafamento de São Paulo, é o equivalente ao comprimento do Rio Amazonas). E é suficiente para deixar os motoristas atrás de mim doidos, esperando um sprint de Usain Bolt do meu carro. Sabe esse momento em que a coisa já andou, o “bonde passou”, mas você nem percebeu? É o que vai acontecer com a internet (e a produção de conteúdo digital).

Tanto os sites quanto a maioria dos aplicativos vão “morrer”. Em relação aos sites, não precisa nem esperar a Web 3.0, tão pouco imaginar como ela vai ser. Porque a navegação na internet como a gente conhece vai morrer antes disso. E os apps vão ser “canibalizados”, engolidos por seus pares maiores. Como um médico que faz diagnóstico tardio, vamos aos sintomas.

O impacto do smartphone foi grande, e os projetos passaram a ser “mobile first”. Depois, “mobile only”. E aí duas grandes variáveis entram na equação: 1º que os apps rodam bem melhor do que a navegação na internet, porque a experiência é superior – simples assim; e 2º que uma pessoa usa, de verdade, algo entre 3 e 7 aplicativos, e o resto tá lá pra fazer figuração.

O diretor de design de produto do Facebook, Jon Lax, concedeu uma entrevista em que falava algo polêmico sobre isso. Ele coloca o “número mágico” de apps que você mantém no celular em 7 – e ele está particularmente em uma ótima posição (até porque existe uma boa chance de um desses 7 ser Facebook, Instagram, WhatsApp ou FB Messenger, que são da empresa dele). Mas chama atenção para o fato de que só dois caras ditam o que rola na indústria dos apps – iOS, da Apple, e Android, do Google. E disse ainda que a própria Apple prefere a experiência dos apps à da internet e da navegação.

E aí, em meio a esse raciocínio, completa com uma frase que pode parecer chocante (para alguns): os sites estão morrendo. “É muito similar a quando começamos a dizer para os designers de impresso que eles precisariam fazer isso na web e criar sites […] algo que me deixa meio preocupado é que muitos de meus amigos designers ainda estão focados em construir sites, e eu não tenho certeza se esse ainda é um negócio em crescimento”. Pra jogar a ‘pá de cal’, diz:“Mas nenhuma dessas coisas vai embora. As pessoas ainda fazem discos de vinil”.

Exatamente! Sites = discos de vinil. É assim que os planejadores do nosso dia a dia virtual estão pensando.

Ok. Tchau, sites. Mas e os apps? Por que eles serão canibalizados e vão morrer? Pense assim: se eu tiver apenas meia dúzia de apps no meu celular, não terá espaço para minhas redes sociais, email, mensagens e mais Uber, app de táxi, iFood. Spotify. Waze. e por aí vai.

Vários aplicativos maiores (como o Facebook) já estão se integrando a esses serviços, permitindo que você peça comida ou mesmo um carro por dentro deles. Aqui estão dois artigos, um do próprio Facebook, explicando que o transporte agora é integrado com o Messenger (ou seja, um app de MENSAGENS!) e o outro sobre o fato de que você pode em breve pedir comida por lá. Já o Burger King lançou um bot para se adiantar nos pedidos. Sem contar que a Domino’s ganhou tudo o que era prêmio recentemente com a história de pedir pizza com um emoji – até o Titanium Grand Prix em Cannes.

Com isso, você vai, sim, manter meia dúzia de apps. E os serviços vão funcionar por dentro deles. (Dã, já estão funcionando. Falei que o bonde passou e a gente nem viu!).

E como ficam os produtores de conteúdo nessa? Estou falando desde o New York Times até à blogueira de maquiagem. O que eles vão fazer da vida? Eles vão ser obrigados a fazerem a mesma coisa que os apps: virarem produtores dentro dessas plataformas, de vez. Você deixa de ter um nytimes.com e passa a ser o New York Times dentro do YouTube, do Facebook, do Snapchat e de quaisquer apps/plataformas que estiverem com relevância no momento. Você já deve, inclusive, ter visto que o Facebook liberou um botão de “abra sua loja”. Agora ele tem vídeo, notícia, loja, táxi, delivery de comida…

E a internet, vai sumir? Vão implodir os domínios .com.algumacoisa? Não, claro que não. Vão ficar lá para consulta, principalmente desktop (a princípio). Até porque você precisa de um database. Mas, eu, particularmente, imagino uma agência de notícias, um site ou um produtor de conteúdo disparando suas produções dentro dessas plataformas todas, tipo as redes sociais – mesmo que ele precise jogar manualmente em cada uma delas. Muito provavelmente devem surgir ferramentas de mercado com um CMS único, que permite publicar em todas as plataformas/apps ao mesmo tempo – se a API deles permitir, claro.

E o Google, vai sumir? As ferramentas de busca? Não, claro que não. Ele vai ter que se reinventar – até porque rede social e instant messaging são duas coisas que eles nunca fizeram muito bem. Foram brilhantes em catalogar a Web 1.0, e depois a 2.0. Mas a 3.0 eles não precisam nem se preocupar, porque ela vai pro saco. Já deve estar pensando nisso, inclusive. Os funcionários de lá são pagos para não deixar o bonde passar.

Legal que um analista escreveu isso na Forbes em 2012 (ou seja, HÁ QUATRO ANOS) e eu só fui encontrar o texto agora. Ele errou – ou, ao menos, apelou no título – em dizer que essas empresas, como o Google e o Facebook, morreriam. O que morre é o modelo de negócio. Mas eles têm potência para se reinventarem (ou comprarem quem o fez).

“Innovation distinguishes between a leader and a follower.” — Steve Jobs

Estou parecendo o “maníaco das citações” aqui no LinkedIn (e gastei uma ótima sobre inovação no meu post anterior, do Henry Ford), mas lembrei dessa que é ótima para sintetizar tudo isso. Talvez porque Jobs pensava sempre dessa maneira: tentando achar qual era o próximo passo, antes mesmo de ele existir.

Não tem problema termos notado isso tão tarde. Estava assistindo a umdocumentário sobre o Noam Chomsky no Netflix, e ele lamentou não ter previsto o que aconteceria com a economia americana nos anos 70. Se ele (que é ele) falhou, quem somos nós pra acertar todas as previsões?

Dono do helicoca ganha secretaria no Ministério do Esporte

O ex-deputado estadual Gustavo Perrella, dono do helicóptero que em 2013 foi apreendido pela Polícia Federal transportando 445 kg de pasta base de cocaína, foi nomeado pelo ministro interino do Esporte, Leonardo Picciani, para o cargo de secretário Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor.

O helicóptero pertencia à empresa de Perrella, o piloto era funcionário do seu gabinete na Assembleia de Minas, o então deputado utilizou R$ 14 mil de sua verba indenizatória para abastecer a aeronave para a viagem, e mesmo assim a Polícia Federal concluiu que ele não teve nenhum envolvimento no episódio.

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Do Estadão

Gustavo Perrella, do helicóptero com cocaína, é nomeado para o Ministério do Esporte

Por Mateus Coutinho, Julia Affonso e Fausto Macedo

Ex-deputado estadual Gustavo Perrella assume cargo de Secretário Nacional de Futebol; ele empregava em seu gabinete, na Assembleia de Minas, o piloto que foi flagrado no helicóptero da família Perrella com 445kg de cocaína

O ministro do Esporte Leonardo Picciani (PMDB) nomeou nesta sexta-feira o ex-deputado estadual em Minas Gustavo Perrella, que ficou famoso em todo País após um helicóptero de sua empresa ser apreendido pela Polícia Federal com 445 kg de cocaína em 2013, para o cargo de Secretário Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor.

Na ocasião, o piloto do helicóptero, que foi detido em flagrante, era funcionário do gabinete de Gustavo Perrella na Assembleia de Minas e foi exonerado após o episódio. Além disso, o então deputado mineiro utilizou R$ 14 mil de sua verba indenizatória para abastecer a aeronave, que foi devolvida à empresa da família Perrella por decisão da Justiça Federal, em agosto de 2014.

Gustavo Perrella chegou a ser investigado pela Polícia Federal, que concluiu que ele não teve envolvimento com o tráfico de drogas, poi o piloto teria pego a aeronave sem o conhecimento da família. A apreensão do helicóptero foi parte de uma operação da PF que revelou uma organização criminosa comandada por empresários brasileiros era responsável pelo transporte de cocaína das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) da Venezuela para Honduras, onde toneladas da droga eram entregues aos cartéis mexicanos de Sinaloa e Los Zetas.

O grupo comprava códigos de identificação do controle aéreo venezuelano que, assim, deixava de abater o avião. Cada voo pagava até US$ 400 mil de propina a militares da Venezuela. Gustavo Perrella é filho do senador Zezé Perrella (PDT-MG), um dos representantes da bancada da bola no Congresso.

Jornalistas do Valor se queixam de ‘pressões’ para falar mal de Dilma

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Um amigo do DCM com boas conexões em Brasília enviou o texto abaixo:

A direção de redação de Brasília do jornal Valor Econômico baixou uma ordem aos seus repórteres: ignorar qualquer ato ou palavra da presidenta afastada Dilma Rousseff. Exceto, quando a notícia seja negativa, ainda que mentirosa. (O Valor é uma sociedade entre a Globo e a Folha.)

Isso significa veto a qualquer apuração para se comprovar a veracidade ou a mentira de informações produzidas pela turma de oportunistas que se aproveitou do golpe para chegar ao poder. Um exemplo é a manipulação dos números que deram origem ao anúncio do “rombo” de R$ 170 bilhões nos cofres públicos anunciado pelo ministro da Fazenda de Temer, Henrique Meirelles. Não é apenas censura nos mesmos moldes da ditadura – é proibir os jornalistas de pensarem e questionarem o que está sendo feito.

Exemplo concreto é o silêncio imposto nas reportagens e análises sobre o fato de o novo presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, ser um dos maiores acionistas do Banco Itaú – um dos que mais ganham com os juros da dívida pública.

O jornal impõe o que interessa aos endinheirados e seus representantes: os gastos sociais (Saúde, Educação, Bolsa Família etc.) são altos demais – e precisam ser cortados, para preservar a fortuna diária que vaza para os cofres do setor financeiro

A ordem é abrir espaços no jornal para toda e qualquer notícia relacionada ao presidente provisório Michel Temer. Exceto, é claro, quando ele é relacionado com um dos mentores do golpe, Eduardo Cunha. (Do DCM)

O xadrez da República de Temer e a guerra mundial

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POR LUIS NASSIF, no Jornal GGN

Há um conjunto de circunstâncias que, em um ambiente democrático, permitem as grandes tacadas políticas e de negócios. Os pacotes contra a inflação abriram esse espaço para operações de arbitragem de taxas, de jogadas no mercado de câmbio e de vendas de estatais. Criava-se a comoção nacional, em nome da união contra o inimigo maior – a inflação – e conferia-se ao comandante econômico o direito de matar. E matava-se valendo-se da sofisticação da matemática financeira.

O novo normal brasileiro incluiu o golpe do impeachment, que fere fundo a democracia, e um bando assaltando o poder com arcos, flechas e tacapes.

Mas não sufocou outras formas de manifestação democrática, como a autonomia dos poderes, o novo protagonismo das redes sociais, as manifestações de movimentos sociais e coletivos e o acompanhamento da cena política pela opinião pública midiática.

Essa democracia, ainda que ferida, é um obstáculo a dois tipos de ações espúrias:

1.     As manifestações ostensivas de poder.

2.     As grandes jogadas financeiras.

E a cada dia que passa mais se consolida o perfil do governo Temer em torno desses dois eixos. Os personagens públicos que se expõem em demonstrações excessivas de força provocaminvariavelmente uma reação da opinião pública em sentido contrário.

Ocorre o mesmo nas jogadas financeiras, especialmente após campanhas de cunho moralista, como a que promoveu a tentativa de impeachment de uma presidente eleita. É nesse terreno movediço que o grupo de Temer se move, como elefantes em loja de louça.

Chave 1 – a república de Temer e a truculência

No início, a República de Alagoas era incensada. Colegas saudavam os novos conquistadores, bajulavam, elogiavam suas gravatas Hermés, trocavam elogios pelo direito de participar das feijoadas de Cleto Falcão, divulgavam que PC Farias era um amante de “cantatas de Bach” (anos depois, fiz uma entrevista com Collor e indaguei sobre as aptidões musicais de PC Farias. Sua resposta foi a de que provavelmente eles confundiram com “cantadas no bar”).

Nos primeiros meses do PT foi a mesma coisa, com o deslumbramento dos novos poderosos sendo saudado por áulicos. É chocante a diferença de dimensão do grupo de Temer com os coronéis nordestinos – como José Sarney e Renan Calheiros. Ambos têm boa formação cultural e respeito pela chamada liturgia do cargo. O grupo de Temer, não. Agem como chefetes do interior, usando métodos de capitães do mato em pleno centro do poder, à vista de todos.

É só conferir o inacreditável Gedel Vieira de Lima, aplicando, no coração do país, os métodos políticos do sertão da Bahia. Diz, com todas as letras, que empenhará todas as suas forças para destruir a TV Brasil, que proibirá qualquer publicidade de empresas estatais em veículos críticos ao governo, em uma claríssima demonstração de censura política.

Na fase de deslumbramento, suas fanfarronices recebem o respaldo de jornalistas locais, como Tânia Monteiro, do Estadão, e Jorge Bastos Moreno, de O Globo, que se oferecem para os tiros a serem desferidos nos colegas do outro lado do muro.

Ocorre que o mercado de opinião não prescinde do exercício do caráter. Por mais oportunista que seja o jogo de mídia – ou de jornalistas, individualmente -, por mais que a parcialidade gritante da mídia teime em criar o discurso único, o mercado de opinião é suscetível a julgamentos de caráter. Ainda mais agora que o grande mote unificador – Dilma presidente – se diluiu e, em seu lugar entrou um Ministério dono da maior capivara da República.

Daqui a algum tempo, a imprensa do Sudeste estará se referindo aos Gedels, Padilhas, Moreiras Francos e Temers com o mesmo desprezo com que passou a se referir aos alagoanos que desembarcaram com Collor. Trata-se de uma dinâmica do jornalismo que está acima das preferências ideológicas. Quando uma autoridade pública começa a dar demonstrações ostensivas de poder, a incorrer em abusos retóricos ou reais, entra na alça de mira da opinião pública nos centros mais modernos. Nasce uma nova demanda dos leitores exigindo seu enquadramento. E esse movimento chega até os jornais, aos seus colunistas e transborda para procuradores, juízes. Foi o que aconteceu com o mais blindado dos personagens políticos da Lava Jato, Aécio Neves.

Chave 2 – a república e os negócios

Parte intrínseca do pacto político que levou Temer ao poder é a entrega do Estado para negócios particulares dos novos conquistadores.  A montagem do Ministério é prova disso. Soma-se avidez e imprudência em um grupo que corre contra o relógio, sabedor da instabilidade intrínseca do interino. A parte mais graúda virá nos próximos meses, em torno de dois meganegócios: a nova Lei do Petróleo e as privatizações.

A possibilidade de Elena Landau assumir a presidência da Eletrobrás é sinal eloquente do ritmo que se quer imprimir ao jogo. Landau é personagem polêmica nas manobras de Daniel Dantas no setor elétrico. Com ela na Eletrobrás, Moreira Franco na tal Secretaria das Privatizações, auxiliado por José Serra no Ministério das Relações Exteriores, não há como não dar errado.

Chave 3 – o mito do bom juiz

Até ditaduras exigem a legitimidade do ditador. A legitimidade pode ser dada por propostas de expansão do poder nacional, por benefícios sociais, pela disseminação da imagem do déspota esclarecido, pela promessa de melhoria de vida e até pelo primado racial. Deus poupou a Temer o sentimento da grandeza. É político pequeno, vingativo, sem capacidade de mediação, propenso a pequenos gestos de retaliação e suscetível a qualquer pressão.

Cedeu às corporações públicas, cedeu às pressões da base – ampliando a meta de déficit fiscal para atender aos políticos. Principalmente: cedeu a um grupo comprometido até o pescoço nas investigações da Lava Jato.

Em suma, em lugar de pairar acima das paixões, mergulhou de cabeça na pequena política.

Desfecho – a guerra mundial

Chega-se, finalmente, ao desfecho: a guerra mundial entre os poderes.

As três Chaves mencionadas comprovam as vulnerabilidades do grupo de Temer. Aí entram os demais personagens. Numa ponta tem-se o Procurador Geral da República Rodrigo Janot e seu pedido de prisão de três senadores, mais os primeiros vazamentos envolvendo cardeais do PSDB. Abriu uma enorme frente de adversários. Na outra, o Senado começando a se movimentar contra Janot, provavelmente articulado com o ministro Gilmar Mendes.

Um terceiro ponto é o rigor discreto de Teori Zavascki, que não cedeu aos pedidos de prisão solicitados por Janot, mas com um voto que não enfraqueceu a posição do PGR. Ao mesmo tempo, abriu espaço para que a defesa de Dilma ou Lula processe o juiz Sérgio Moro. Finalmente, o fator Eduardo Cunha, com uma certeza e uma incógnita. A certeza é de que irá em cana. A incógnita é sobre quantos levará com sua delação.

Ontem, Janot recebeu dois apoios importantes: do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) e de seu ex-chefe Cláudio Fonteles, uma das referências do Ministério Público Federal. O apoio de Fonteles é simbólico – já que está aposentado -, mas com enorme significado moral. Foi graças à pressão dele e de outros procuradores referenciais, que Janot saiu da parcialidade que até então marcara sua atuação e embrenhou-se pela selva atrás de intocáveis.

Agora, seu apoio devolve a Janot parte da legitimidade perdida com seus assomos de onipotência. E isso apesar da piada pronta, da súbita indignação de Janot com vazamentos e o pedido ao diretor-geral da PF Leandro Daiello para que investigue o vazamento dos pedidos de prisão dos senadores. Até hoje se aguardam os resultados das investigações do vazamento de delações para Veja, na véspera das eleições. Nem a PF investigou nem Janot demonstrou a menor preocupação com a manobra.

Esses conflitos paralelos são parte do circo de horrores em que se converteram as instituições brasileiras. Que Janot saia vitorioso desses embates, especialmente na hora do embate maior, do enfrentamento do poder indiscutível de Gilmar Mendes, o maior dos desaforos sofridos pela jovem democracia brasileira..

Mas, definitivamente, não há heróis na República.

A gourmetização da tocha

POR GERSON NOGUEIRA

A onda gourmet, que assola o futebol e até as passeatas de protesto no Brasil, chegou também ao revezamento da tocha olímpica dos Jogos do Rio 2016. Na passagem por Belém isso ficou evidenciado na presença majoritária e esquisita de personalidades, subcelebridades, cantoras, aspones, papagaios de pirata, atletas de modalidades alheias à Olimpíada e uma chusma de cartolas. Havia gente no cortejo que não disputou sequer um torneio de peteca ou dominó.

E o que mais chamou atenção foi o inusitado pagamento de cachê a Lyoto Machida, como se a ausência do ex-campeão de MMA (que nunca foi modalidade olímpica e, segundo muitos, nem esporte é) fosse apagar o brilho da tocha em sua escala no Pará. Bobagem.

1e63c389-4e3d-4c6d-9ba4-93e67313fbd6 (1)É preciso entender que o conceito de ídolo vem sendo relativizado há tempos. Poucas figuras no Brasil detêm esse status hoje. Por tudo isso, o convite remunerado foi o pior dos arranjos idealizado por um governo que é contumaz refém do marketing de resultados.

Cabe observar que Lyoto não tem culpa de ter sido pago para desfilar olimpicamente por alguns metros de asfalto em Belém. Culpados são os que o contrataram para pagar o mico, divulgado maciçamente nas redes sociais sob ruidosa saraivada de críticas dos internautas.

O lutador, a quem o governo do Pará atribuiu a questionável condição de ídolo das massas, demonstrou apenas ser mal assessorado. Afinal, qualquer pessoa de bom senso desaconselharia a aceitação da oferta oficial, que mais se assemelha a um presente de grego, se levarmos em conta os conhecidos descalabros nas áreas de saúde, educação e desportos no Pará.

Só a insensibilidade galopante das autoridades papachibés para bancar o disparate de gastar R$ 21 mil para transportar um carregador de tocha que se encontrava do outro lado do planeta. Alguém, certamente bem pago, teve a supimpa sacada de trazer Lyoto, “personalidade de renome internacional”, como tentou explicar canhestramente a Seel em nota oficial depois do estrago feito.

Ora, a iniciativa de adicionar o tempero de famosos ao ritual acabou frustrada pelos próprios divulgadores oficiais do ritual surgido na Grécia. Um tiro no pé. O principal telejornal da emissora que tem os direitos oficiais de transmissão ignorou olimpicamente a presença do famoso baiano criado no Pará.

Antes mesmo de ser posta em prática, a gourmetização do evento saiu pela culatra. O que era para ser uma bela celebração popular, com a participação de atletas e ex-competidores olímpicos, foi reduzida a um episódio infeliz, de responsabilidade exclusiva dos que tinham a obrigação de não dar vexame.

Na hipótese de haver dinheiro sobrando para gastanças com viagens, por que não mandar buscar com praticantes de esportes olímpicos, como Agberto Guimarães, nosso principal atleta na era moderna¿ Ou, mesmo, Manuel Maria, antigo atacante paraense que defendeu a seleção olímpica¿

Não deixa de ser simbólico da atual favelização do Pará – inclusive no aspecto cultural – que cerimônia tão bonita tenha sido sabotada pelo próprio governo do Estado.

Como sempre, perdemos para nós mesmos.

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Tolerância zero com chinelinhos

Quem acompanha o trabalho de Gilmar Dal Pozzo há mais tempo avalia que o departamento médico do Papão logo ficará bastante esvaziado. À moda dos antigos caça-gazeteiros, Dal Pozzo não refresca com a turma do chinelinho. Caso alguém porventura esteja aplicando migueladas vai ter que se enquadrar rapidamente.

Observador, o novo técnico tem procurado se inteirar da real situação de alguns jogadores que não conseguem se manter em condições de jogo. Há casos de jogadores que ficaram fora de combate apenas duas semanas depois de desembarcarem na Curuzu. Outros não conseguem jogar duas partidas seguidas.

Vale observar que a exagerada quantidade de baixas no elenco é a principal causa da série negativa de resultados no começo da Série B, que comprometeu o trabalho e causou a queda do ex-técnico Dado Cavalcanti.

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Euro prova que a Copa podia ser melhor

Os jogos da Euro confirmam a velha impressão, pelo menos de minha parte, de que a Copa do Mundo deveria ser bem mais seletiva. Ao invés de agregar seleções pelo critério geográfico (e politiqueiro), deveria levar em conta a qualidade futebolística dos países. Só assim haveria de fato um torneio capaz de medir o nível geral do futebol no mundo.

Bastava juntar umas 12 seleções da Europa e meia dúzia da América do Sul para formatar um belíssimo torneio, capaz de confrontar em jogos eletrizantes a nata do futebol. Permitiria, ainda, evitar algumas injustiças absurdas, como deixar um craque como Ibrahimovic de fora do Mundial.

Dona Fifa, em fase de reconfiguração, podia pensar nisso, ao invés de ficar planejando inchar ainda mais seu principal torneio. O tal Infantino, em má hora, já avisou que quer 40 seleções na Copa. Um desatino.

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Desistência mal explicada

O Remo está a dever uma explicação pelas idas e vindas de seu projeto de futebol feminino. Saudado em prosa e verso pelo ressurgimento da modalidade no clube, depois de longa interrupção, o time entrou no campeonato paraense, disputou duas partidas (perdeu ambas) e abandonou o torneio. Mais estranho ainda foi a desistência às vésperas do esperado Re-Pa.

É claro que o clube tem todo o direito de questionar o registro de atletas de outras agremiações, mas isso poderia ser feito antes da competição, evitando o desgaste e a deselegância de uma saída à francesa.

Pegou mal.

(Coluna publicada no Bola desta sexta-feira, 17)