Cunha recebeu R$ 52 milhões em 36 parcelas de propina, diz empreiteiro

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Em meados de junho e julho de 2011, o pai do empresário Raul Pernambuco Júnior, da Carioca Engenharia, e um executivo da empresa reuniram-se com Léo Pinheiro, da OAS, e Benedicto Junior, da Odebrecht, no Hotel Sofitel, em Copacabana. Naquele dia, definiram detalhes de como iriam repassar a propina de R$ 52 milhões – o estimado de 1,5% do total da aquisição dos Cepac’s, pelo Fundo de Investimento do FGTS – a Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Decidiram fazer em 36 parcelas mensais, cada uma das empresas – OAS, Odebrecht e Carioca Engenharia – devendo transferir a sua parte diretamente ao hoje presidente da Câmara.
Os Cepac’s são os Certificados de Potencial de Área Construtiva para as obras do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro. Todas as empresas do consórcio tinham um “compromisso” de pagar a Cunha o valor superfaturado. Raul Pernambuco levou aos investigadores da Operação Lava Jato no Supremo o seu depoimento com detalhes dos encontros de negociatas e tabelas com dados de depósitos ao parlamentar. Somente a sua empresa (Carioca Engenharia) foi responsável pela transferência de R$ 13 milhões.
Em uma das tabelas, são descritos 22 depósitos somando 4.680.297,05 dólares em propinas transferidas entre 10 de agosto de 2011 e 19 de setembro de 2014. Na primeira parte, os depósitos que somam um montante de US$ 3.984.297,05 são garantidos Eduardo Cunha como remetente: o delator afirmou “ter certeza”. A segunda parte, que agregam mais 696 mil dólares é de “altíssima probabilidade de que também eram valores destinados a contas indicadas por Eduardo Cunha”, disse o empresário: “em especial porque não fizeram pagamentos deste tipo a outras pessoas e, também, pelo valor das transferências”, afirmou.
As contas estão no banco Delta Trust e UBS. Cunha já é investigado pela Procuradoria-Geral da República de quatro contas que manteve na Suíça. O empresário Raul Pernambuco apontou outras nove contas que o parlamentar mantinha em países como os Estados Unidos e Israel.
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O delator contou que “em nenhum momento Eduardo Cunha lhe disse que as contas eram de titularidade dele, mas tem certeza de que todas estas contas foram indicadas pelo deputado Eduardo Cunha; que tampouco o depoente chegou a perguntar a Eduardo Cunha sobre o titular das referidas contas”.
O primeiro pagamento pela Carioca Engenharia foi realizado no Israel Discount Bank, em 10 de agosto de 2011, no valor de US$ 220.777. Relatou, também, que a empresa não tinha contato com Eduardo Cunha, à época e que o empreiteiro e seu pai foram apenas “comunicados” pelas outras empreiteiras do consórcio sobre o “compromisso”.
A partir daí, Raul Pernambuco Júnior encontrou-se diretamente com Cunha. Detalhando como era o local do encontro, que ocorreu no início de agosto de 2011, disse não se lembrar se era no escritório político no Rio ou no gabinete da Câmara, em Brasília, e trouxe detalhes sobre a decoração do espaço:
“Respondeu que se trata de um escritório com decoração mais antiga, que tem uma antessala, com uma recepcionista; que, além disso, havia dois sofás, em seguida um corredor, com duas salas; que nestas salas havia uma secretária mais alta e um assessor do deputado; que este assessor era uma pessoa mais velha, com cerca de 60 anos, acreditando que fosse um pouco calvo, possuindo cabelo lateral; que nunca conversou, porém, nenhum assunto com tais pessoas; que mais à esquerda tinha a sala do deputado Eduardo Cunha, com uma mesa antiga, de madeira maciça, com muitos papeis em cima; que acredita que o escritório fique no 32° andar”.
Naquele dia, Cunha o perguntou “sobre o ‘compromisso’ estabelecido” e, inclusive, sobre o valor de R$ 13 milhões, que “foi confirmado por Eduardo Cunha”. O empresário da Carioca disse que eles não queriam que o dinheiro “passasse por dentro da empresa”, e que gostariam de ser “o mais reservado possível” e questionou ao peemedebista se a transferência não poderia ser feita em contas no exterior.
“Eduardo Cunha disse que não haveria problema nenhum e, neste momento, ele indicou a primeira conta em que deveria ser efetivado o pagamento”, contou o empresário. “Eduardo Cunha passou a conta em um papel, com os dados já digitados; que se lembra bem deste primeiro pagamento, porque o Banco indicado por Eduardo Cunha era denominado Israel Discount Bank; que não sabia se este banco era realmente em Israel; que já ficou estabelecido, inclusive, o valor do primeiro pagamento; que, dividindo o valor total devido pelo número de parcelas, o valor de cada parcela era de cerca de R$ 360 mil”, continuou.
Nessa primeira reunião, que durou cerca de 30 minutos, Pernambuco disse que “até então não se conheciam” e que foi a “oportunidade em que se conheceram melhor”.
Em outra reunião, alguns dias depois, Raul perguntou a Cunha “se haveria a possibilidade de mudar o banco e indicar uma conta na própria Suíça” e que “Eduardo Cunha concordou e disse não haver problemas”, indicando “no mesmo ato” a conta Esteban Garcia, no Merryl Lynch Bank, na Suíça. “A partir daí todos os depósitos para Eduardo Cunha foram na Suíça”, disse o delator. (Do Jornal GGN) 

8 comentários em “Cunha recebeu R$ 52 milhões em 36 parcelas de propina, diz empreiteiro

  1. Sabe porque Jaime, 80% daquela Câmera está enrolado em propina, logo, protege um protege todos.

    Vivemos num país enraizado de corrupção.

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  2. Rodrigo e Jaime infelizmente nossos eleitorado, aquele que vende o seu voto por uma cesta básica, uma carrada de areia, umas sacas de cimento, uma rede, etc, mais aqueles que acham que votar é besteira e que as coisas sempre serão assim, não sabem o mal que causaram ao país com suas atitudes irresponsáveis.
    Nós temos hoje uma câmara quase que cem por cento corrupta e corrompida. Um senado onde a maioria já responde ou respondeu processos, são acusados das mais diversas arbitrariedades, e quem os colocou lá?, fomos nós mesmos que na hora de escolher por um que tenha projetos e vislumbre dias melhores para a nação, preferimos optar pelos políticos de profissão que só fazem enriquecer deixando o povo a míngua e sem Deus direitos.
    Voto é coisa séria, quem não o leva a sério é o Povo.

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  3. O efeito mais didático disso é entendermos que, uma vez fora da presidência da câmara, Cunha perderá o protagonismo e a atenção da mídia. Terá cumprido seu papel, mas continuará a exercer o mandato parlamentar, afinal, quem tem um Cunha desses, tem um bom escudeiro. Sabemos já da importância de Cunha para a plutocracia nacional e de como amealhou todo esse apoio no congresso nacional. Ele talvez seja salvo da cassação pela utilidade que tem para os interesses escusos que pairam sobre o Brasil. Não se enganem, por tudo que fez, sabemos que Cunha continuará agindo nas sombras se não for cassado. E, melhor dizer, Cunha cassado, teria interesse em delatar alguém?

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  4. Não esqueçam que Cunha, Renan, Dilma, etc estavam abraçados até pouco tempo atras. Eles faziam parte de uma coligação que governava o país e promovia todos esses malfeitos. Não há ninguém limpo nessa história. Como disse a Marina: PT e PMDB são gêmeos siameses.

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    1. Renan era aliado, mas Cunha nunca esteve abraçado com o governo, Cardoso. Não distorça os fatos. Fez campanha criticando Dilma e se elegeu com o discurso de que iria implodir o governo, lembra? Nunca foi aliado, pertence a um partido que é aliado (em termos) do governo.

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  5. Gerson,

    Cunha foi eleito fazendo campanha para a Dilma, como todo o PMDB do Rio de Janeiro. Isso é fato!

    A divergência começou na disputa da Presidencia da Câmara. Ele disputou e ganhou contra o candidato do PT. Ele não dizia que iria explodir o governo, mas sim que o parlamento deveria ser independente do executivo, coisa que aconteceu no Senado também.

    Mesmo depois dele ter sido eleito, ele teve várias reuniões com a Dilma, apoiando-a em várias coisas. Ele mesmo enterrou pelo menos uns seis pedidos de impedimento da Presidenta.

    Acho que o rompimento definitivo veio com a Lava-Jato, onde cada um foi para um lado buscando auto-proteção.

    Em resumo: PT e PMDB são faces da mesma moeda.

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