POR DANIEL MALCHER
Farsa, tragédia… fica a cargo e ao gosto do analista. O governo Dilma é claudicante e vacilante, porém ao mesmo tempo malabarista. Se por um lado também defende os interesses dos setores que jamais estiveram apeados do poder, num pacto firmado há 12 anos com a “Carta aos Brasileiros”, conseguiu, de certo modo, preservar algumas reminiscências dos tempos de genuína defesa dos mais fragilizados, das históricas bandeiras por inclusão social e pleno emprego e pela valorização do salário mínimo e políticas anti-arrocho. Contudo, como malabarista que é, os beneficiados de sempre e “signatários da carta” apresentaram-lhe a conta: o velho receituário e prescrição de apertos que só atingem a ponta do chicote, o trabalhador. Foi se o equilíbrio mantido por um esforço de engenharia política que denunciava a sua precariedade.
O que é mais curioso é que mesmo seguindo uma agenda claramente defendida pelos opositores derrotados nas urnas em outubro, os seguimentos oposicionistas obtusos – cada vez mais eivados de radicalismo e ignorância – seguem com a cantilena: “impeachment!”, “comunismo!”, “intervenção militar já!” – pasmem!
Lembram da opção pela farsa ou pela tragédia citadas acima? Pois é. Guardadas as devidas proporções, as tentativas de equilíbrio do atual governo – marca dos últimos 8 anos de Lula e dos primeiros 4 anos de Dilma, diga-se de passagem – lembram muito as mesmas tentativas de se manter com os pés na corda do governo João Goulart. A direita e o fascismo, como há 51 anos, estão vociferando ódio, lembrando em alguns momentos a insanidade nazista que pôs fim à República de Weimar em 1933 e que conduziu Hitler ao poder e ao golpe militar que depôs o governo eleito do trabalhista herdeiro de Vargas. Mas as esquerdas, movimentos sociais do campo e das cidades e os partidários da defesa dos interesses da classe trabalhadora não podem cometer os mesmos erros de 1964: o imobilismo, a hesitação e a neutralidade de ar proto-cientificista e pseudo-acadêmica. Que se faça a crítica, se aponte as contradições, e que se denuncie as distorções é claro, mas que se faça o que se deve fazer: costurar uma frente de esquerda para além da mera defesa da democracia. Que vise transformá-la, radicalizá-la. Pois as fileiras estão cerradas e não podemos permitir que esta espiral fascista e anti-democrática tome o país de assalto como em 1964.
Daniel, bom lê-lo de volta, após algum tempo. O que escreves, em parte, vem ao encontro do que venho escrevendo de há muito aqui no Blog. Todavia, me permita ponderar, quanto ao impedimento da presidente, que se trata de medida, cujo implemento depende muito do que se possa provar contra ela. E que sendo instrumento constitucional, acredito não possa ser colocado na mesma situação da intervenção militar como medidas de pressao ao governo democraticamente eleito.
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Mas concorda com o que tenho ponderado, pois uma vez que se vê as medidas defendidas pelo PSDB adotadas, o que faz com que o governo esteja errando, na visão deles? Ainda que haja as denúncias de corrupção presentes atualmente nos noticiários, como nunca antes neste país, isso aponta para uma oportunidade de, senão erradica-la, ao menos diminui-la. Da minha parte, acho que estamos diante de um momento histórico importante em que aqueles pobres que migraram à classe média estão com medo de retornar à pobreza. Um mínimo de conhecimento em economia poderia explicar sobre o “efeito catraca” econômico que as pessoas experimentam durante a vida. Não quero dizer que a queda no padrão de vida de muitas pessoas seja algo aceitável, mas é natural em meio à crise instaurada, assim como é natural que, pelo que significa o “efeito catraca”, as mesmas pessoas tendam a subir de novo ao antigo patamar de antes. Acho que Aécio estava de olho nesse efeito quando da candidatura pois surgiria a melhora da economia como feito de seu governo e não dos estímulos de crescimento do mercado interno. A economia brasileira só é gigante porque se afastou da estagnação dos anos 80, após mais de uma década, e depois de inúmeras crises trazidas pela globalização. Quero dizer, haverá ainda muitas acomodações nesse dito mercado globalizado, que não passa da internacionalização das operações das gigantes multinacionais por mercado.
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Primeiro, estamos livres da famigerada ALCA e da tutela secular que o imperialismo nos impôs, rebeldia que frustrou, na semana passada, a secretária de estado dos EUA, quando viu sua proposta de moção contra a Venezuela ser veementemente rechaçada por todas as demais nações do continente.
Segundo, é isso. Governo, governa. Sempre sob pressão, tendendo atender quem mais faz barulho. Como disse Stédile, é hora de botar povo nas ruas para defender conquistas sob o bombardeio do conservadorismo. Não se iludam, número de ministérios é apenas a cortina que encobre a passagem dessa retórica, até mesmo porque muitos desses já funcionavam como secretarias custando praticamente o mesmo ao erário. O alvo, na batata, é o gasto social previdenciário, por exemplo,, que assiste milhões de brasileiros que atingiram a terceira idade sem qualquer renda, embora esse amparo seja constitucional desde 1988; é o Bolsa-Família, que só no Pará ampara quase 900 mil famílias, permitindo que o governador vá pra Doha e o território paraense não fique em chamas; é o salário mínimo, alvo, já na campanha eleitoral passada, da ira do especulador/sonegador Armínio Fraga, felizmente ex-quase ministro da fazenda.
Portanto, se os segmentos organizados não dialogarem com a sociedade civil como um todo, até para mostrar certa incoerência de parcela da juventude que engrossa o coro conservador mesmo beneficiada por algumas dessas políticas, a despolitização triunfará e nos fará retroceder uns vinte cinco anos, no mínimo.
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É, amigo Lopes, você tem razão quanto ao governo estar adotando as medidas preconizadas pelo PSDB. Mas, me parece que a questão central, não é o que o psdb ache, ou deixe de achar, e muito menos o que ele reclame.
E não é, porque este partido, com suas medidas econômicas, sociais e políticas, foi , com toda a razão, legitimamente posto pra fora do governo, nas eleições ocorridas há mais de dez anos atrás.
Enfim, o psdb não representa o que quer, e o que precisa a nação brasileira, e por isso não pode ser usado como referência, tampouco como elemento de polarização de um debate que é de todo o povo brasileiro.
O que o povo brasileiro precisa, em contrapartida aos elevadíssimos tributos que paga, é de muito mais qualidade, quantidade, seriedade, fiscalização e prontidão na prestação dos serviços de educação, saúde, segurança que recebe. Sem contar que também precisa de reforma agrária, sustentabilidade ambiental, preços sob real controle, empregos de qualidade, moradia, alimentação, saneamento básico, serviços decentes de telecomunicações, etc, etc, etc.
E, tudo isso que o brasileiro precisa, vale dizer, a esmagadora maioria do povo brasileiro precisa, é justamente o que está faltando, sempre esteve faltando, e continuou faltando quando o governo que aí está assumiu. Na realidade, o governo atual produziu uma grama e propagandeou uma tonelada.
No Brasil, só a elite política, econômica e social, da qual fazem parte os políticos do partido que está no poder, juntamente com seus políticos aliados, é quem desfruta dos serviços referidos supra.
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Pois é, caro anônimo, o PSDB é sim importante ao debate porque assume a liderança da oposição e a opinião do partido é relevante porque faz jus a uma certa autocrítica que não ocorreria caso fosse alçado ao poder. Isso, para mim, caracteriza uma oposição irresponsável, do discurso fácil e vazio, caminho ao fascismo. A crítica não pode significar que o PSDB faria melhor, significa ou que faria diferente, ou o reconhecimento de que o que esteve errado em suas propostas se vê na prática que não teria o efeito desejado. Vale dizer que educação, saúde e segurança são serviços de responsabilidade de políticas públicas estaduais. Se educação, saúde e segurança andam mal é porque a capacidade técnica de execução de políticas públicas pelos estados é pífia e não acompanha as mudanças sociais. Um sinal disso é de que, nos estados do sul, mais ricos, a situação é um pouco melhor. Aqui no Pará, um estado exportador, e governado pelo PSDB por quatro mandatos dos últimos cinco, esses indicadores são estranhamente ruins. Deveria ser melhor, a julgar pela expertise da situação no nosso estado. Não digo que não há culpa exclusiva de governos estaduais, mas deles também quanto ao investimento de recursos.
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Amigo Lopes, em primeiro lugar, desculpe por não ter notado que meu nome não saíra no texto da postagem nº 4.
Depois, note que não disse que o psdb não é importante. ele tem sim lá sua importância, inclusive para se mostrar como não devem as coisas serem feitas, ou de exemplo de descredibilidade.
Mas, na realidade, o que disse foi que o psdb, com suas ideias, ações e reclamações, não pode ser o centro do debate. E não pode ser, acrescento, porque se for, perde-se o foco do que realmente deve protagonizar, que é exatamente as necessidades que o Brasil, na maioria esmagadora de seu povo, passa por conta da precariedade do serviço público.
E perdendo-se este foco, deixa-se de responsabilizar exatamente quem tem a parcela majoritária desta responsabilidade, inclusive no que respeita à educação, saúde e segurança, que é o governo federal, seja porque não atua diretamente como deveria atuar, seja porque não fiscaliza adequadamente o uso das verbas que repassa às demais entidades federativas, estados, municípios e distrito federal.
Demais disso, não se pode esquecer que o SUS é, como sempre foi, uma extrema bagunça e um supremo descaso com os brasileiros, justamente aqueles que mais precisam. E os planos de saúde, que atendem camada um tanto melhor aquinhoada financeiramente, mas, quase tão significativa em termos de quantitativo populacional, é de responsabilidade eminentemente federal, e está já quase tão bagunçado quanto o SUS. Valendo notar que neste caso, a situação é ainda pior, eis que além de pagar os tributos já referidos, o usuário de tal serviço ainda paga planos de valores bem significativos e não tem a menor proteção do governo, cujas agências de fiscalização atuam muito aquém das necessidades e daquilo que dela se esperava.
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Prezado Oliveira, reconheci que poderia ser sua fala, mas estranhei a falta de assinatura e por isso adotei responder ao “anônimo”… Indo ao ponto da discussão, as escolhas políticas dos governantes. É preciso lembrar que políticas públicas de cargos e salários, adotando-se planos de cargos e salários, tornam desnecessárias as nomeações para cargos de confiança, os famosos DAS, que têm quase o mesmo status de ministros ou secretários de estados… O funcionalismo público, do qual faço parte, não tem no atendente, no porteiro ou no faxineiro seu problema central quanto à qualidade, mas na direção do serviço público. A maioria dos diretores e gestores públicos não são concursados, não fizeram carreira e se dizem gestores preparados… Não são… São capatazes dos dirigentes maiores do Estado e da base aliada, indicações e favores dos atores principais do poder entre si, descartando a necessidade de capacidade técnica. Isso, o PT, infelizmente, não mudou. O critério político deveria ser substituído por um critério técnico, mais voltado às necessidades das instituições públicas, acompanhada de mudanças mais drásticas, como a não-nomeação do presidente do tribunal de contas pelo chefe do executivo, por exemplo… A lei é o principal motivo para manutenção do desmando que vemos no serviço público e isso sempre foi fator decisivo para o desempenho pífio das variadas instituições públicas. O PSDB é central nisso porque estabeleceu esse fisiologismo durante os oito anos de FHC, como forma de perpetuação no poder. Deu errado. Mas a herança está aí, cobrando seu preço. É preciso ampla reforma legal das estruturas do estado, para combater esse mal da ineficiência do serviço público que tem como consequência a corrupção, independente da bandeira partidária e o PT tem que entender isso. E a Câmara também, mas será que eles querem?…
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