POR GERSON NOGUEIRA
Emoção do princípio ao fim. Teste para cardíacos. Foi assim, com todos os ingredientes tradicionais, que o Re-Pa de sábado se desenrolou. A correria habitual foi mesclada com alguma organização de parte a parte, mas no fim das contas prevaleceu a objetividade e a gana de vencer. O resultado do tempo normal forçou a disputa em penalidades e deu tintas dramáticas à decisão da vaga. No final, um duplo triunfo remista, comemorado (dentro e fora do estádio) como se fosse título de campeonato.
Sob a necessidade de descontar a diferença, o Remo entrou com uma escalação ofensiva e se lançou ao ataque desde o começo, confundindo um pouco entre urgência e afobação. Ratinho e Bismarck, encarregados da armação, esqueciam-se da função e iam se juntar a Roni e Rafael Paty no ataque, embolando tudo.
Com 2 a 0 a seu favor, estabelecido no primeiro jogo da semifinal, o Papão entrou mais assentado em seu campo, saindo de vez em quando para tentar chegar ao gol. O problema é que, sem Pikachu, Jonathan e Rogerinho, o time foi bem menos agressivo do que deveria.
O Remo rondava mais a área e levava perigo, apesar dos erros de articulação. Roni, principalmente, era o atacante mais acionado e se destacava por tomar a iniciativa, driblando sempre em velocidade e levando vantagem sobre os marcadores, principalmente o improvisado Ricardo Capanema como lateral-direito.
Dado Cavalcanti não conseguiu montar o meio-de-campo ideal para as circunstâncias da partida. Precisava aliar proteção à defesa, sem abrir mão de rapidez na saída. Augusto Recife, normalmente eficiente na ligação, foi envolvido pela pressão ofensiva azulina. Radamés não fazia nem uma coisa nem outra. A inesperada escalação de Leleu parece ter confundido a própria equipe.
Do outro lado, Dadá se destacava como condutor da meia-cancha, exercendo a dupla função de volante e organizador. Fez isso bem na maior parte do jogo. Coroou sua participação com um golaço quase ao final do primeiro tempo, quando o jogo ainda era bastante disputado nas intermediárias.
Recebeu a bola perto do meio-campo, avançou alguns metros e disparou um arremate perfeito, que foi cair na gaveta esquerda de Emerson. Antes de entrar, a bola ainda resvalou no travessão. Um gol bonito e raro. Boleiros brasileiros raramente arriscam chutes de longa distância temendo o erro e a vaia. Dadá sempre tenta, nem sempre acerta, mas desta vez acabou premiado.
O primeiro tempo terminou com a disputa em aberto, pois o Remo estava mais animado e o Papão ainda mantinha a vantagem de um gol.
As emoções previstas para a etapa final se confirmaram plenamente. Os remistas voltaram com todo ímpeto, entusiasmados com a possibilidade de provocar a série de penais ou até a vitória por três gols de diferença.
Esse otimismo foi se desvanecendo aos poucos, à medida que o jogo avançava. Em parte porque o Remo não conseguia furar o bloqueio defensivo do Papão, em parte porque Dado finalmente acordou e mexeu no meio (primeiro com Leandro Canhoto, depois Carlinhos), equilibrando a batalha por ali.
Cacaio foi mais feliz nas mudanças, principalmente nas apostas em Val Barreto e Sílvio, que tornaram o Remo praticamente só ataque nos instantes finais. A essa altura, Bismarck já se configurava em peça fundamental do lado azulino, pela habilidade nas manobras e o constante perigo nos avanços em diagonal rumo à área.
Apesar da natural apreensão das duas torcidas nas arquibancadas, o jogo ficou sensacional, pois cada erro significava risco real de gol.
Para o Papão, as coisas pareciam se encaminhar para um final feliz, pois o domínio remista no segundo tempo não se traduzia em gols. Contida na defesa, a equipe de Dado tentava administrar e quase não se arriscava mais no ataque.
Num desses raros momentos, permitiu que Roni roubasse a bola junto à linha lateral. Este acionou Bismarck, que lançou Val Barreto em combate direto com Willian Alves. O atacante avançou e bateu forte, o goleiro Emerson rebateu e o garoto Sílvio empurrou para as redes. Aos 42 minutos, quase já desenganado pelos médicos, o Remo revivia para encarar as fortes emoções das penalidades.
Como é natural, o time que havia forçado a série extra parecia mais confiante. E isso se confirmaria depois de dez cobranças. O Remo converteu cinco e o Papão fez quatro. Carlinhos mandou no travessão. O último penal foi batido por Levy, que havia entrado no segundo tempo. O chute saiu alto, quase batendo no travessão, num último susto para a galera azulina.
Sob descrença quase geral, o Remo conquistou a classificação com muito esforço, transpiração e determinação. Méritos para Cacaio, que em poucos dias conseguiu dar um norte ao time que parecia trôpego sob o comando de Zé Teodoro. Além do aspecto motivacional, fez com que peças antes rejeitadas voltassem a ter utilidade (e como) para o time.
Alex Ruan, Igor João, Ratinho e Ilaílson foram redescobertos e tiveram papel fundamental na arrancada final. Ameixa e Sílvio foram incorporados, correspondendo plenamente. Como um retrato dessa mudança de propósitos, o Remo terminou o clássico com sete jogadores nativos. Dos demais, todos já estavam por aqui no ano passado e estão familiarizados com o clube.
Por fim, vale destacar a voracidade do time azulino em busca do objetivo. Faminto, conforme a velha profecia de Neném Prancha, segundo a qual é preciso lutar pela vitória como se ataca um prato de comida. E o fato é que isso só seria possível com um time quase todo caseiro.
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Confiante, galera do Papão foi maior
A renda no estádio Jornalista Edgard Proença, de R$ 491.063,00 (com 21.861 pagantes), pode ser considerada decepcionante para a importância do jogo. Com ingresso a R$ 30,00 e tempo bom, o público previsto era de, pelo menos, 30 mil pagantes. Nas arquibancadas, novo triunfo alviceleste – o terceiro seguido. Com a confiança na conquista da vaga de finalista, o Papão conseguiu botar o dobro de torcedores no Mangueirão. (Fotos: MÁRIO QUADROS/Bola)
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Um roteiro já desenhado para as finais
Com datas ainda sujeitas a mudanças, as finais da Copa Verde terão um roteiro mais ou menos parecido com o do ano passado. O representante paraense faz o primeiro jogo em casa e decide a sorte lá fora. Em 2014, o Papão venceu por 2 a 1 em Belém, um escore apertado que permitiu ao Brasília igualar em casa, provocando a disputa em penalidades.
Diante desse exemplo, os remistas sabem que precisam para construir uma vitória folgada, sem sofrer gol do Cuiabá. Tarefa difícil, considerando o equilíbrio técnico das equipes, mas que pode ser facilitada pelo fervor da massa torcedora nas arquibancadas.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta segunda-feira, 20)