DO BRASIL247
A atriz Fernanda Torres botou a cara na janela e gritou: sou artista, burguesa, mas não defendo o impeachment de Dilma”. E arrematou: caso ela saia, quem nos garantirá um futuro melhor? Pergunta. A atriz, uma das mais destacadas humorista da sua geração, filha de Fernando Torres e Fernanda Montenegro, é uma exceção em seu meio.
Não por pensar assim. Mas por defender seu ponto de vista. Claro que ela o fez na França – posto que no Brasil, a mídia corporativa a qual conhece, não lhe daria voz. Mas a mídia que ela desconhece fará por ela. Não pelo conteúdo do que disse – e com o qual concordamos. Mas pela sua coragem. E somos assim: essencialmente e elegantemente transgressores.
No texto Fouché, ela traça um paralelo com a Revolução Francesa.
“Sou artista e burguesa, mas não defendo o impeachment”, afirma. “Os franceses deceparam a cabeça de Luís 16, enfrentaram uma década de horror e acabaram nas mãos de um general que se autocoroou imperador. Quem nos garante um futuro melhor? Dilma está longe de ser Luís 16, mas a insatisfação popular, o isolamento, a corrupção, o revertério climático e a ruína de sua base partidária guardam paralelo com as desventuras que levaram o rei à guilhotina.”
Ela alerta, ainda, para a onda antidemocrática que se forma no País. “A oposição estava lá, não há dúvida, e também uma direita saudosa da ditadura, cujo crescimento preocupa não apenas no Brasil”.
E afirma que o maior adversário da presidente foi a propaganda usada na campanha eleitoral de 2014.
“A campanha eleitoral que levou Dilma à reeleição é, hoje, seu maior inimigo. O feijão voando do prato dos menos favorecidos, a garantia de que não elevaria os juros e nem deixaria o trabalhador pagar pelo desajuste econômico vêm, agora, cobrar o preço da propaganda”, diz ela. “Existe, de fato, um erro de comunicação por parte do governo, mas ele não está no abandono da militância nas redes, como afirma estudo recente, mas, sim, no fato da reeleição ter obrigado o Planalto a adiar ajustes que deveriam ter sido feitos ao longo dos últimos anos.”
Por fim, ela questiona: “Se Dilma não resistir a quem estaremos entregues?”

Síndrome do medo com a convivência política atual.
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Ferdinando, há um pouco de razão no seu comentário. Existe mesmo uma reginaduartização das ideias. Prevalece hoje em dia uma ideologia apartidária e apolítica, que não tem objetivos e fundamentos específicos, apenas se propõe a ser do contra. Por isso mesmo se pode dizer que seja uma política do medo, baseada apenas na eterna desconfiança burguesa que sempre houve sobre a ideologia socialista. Ao negar os partidos políticos, consciente ou inconscientemente, abre-se mão de uma união para a luta, de uma representatividade que pudesse fortalecer o lado do proletário nesse embate constante de classes. O isolamento do indivíduo, pelo qual consegue a elite dominar o proletário, não curiosamente ou acidentalmente, tem atrapalhado porque uma massa heterogênea e desinteressada do discurso político só sai às ruas para repetir o medo provocado pelas elites, como sempre. Segundo Marilena Chauí, o medo de certa classe média, especialmente a que ascendeu da pobreza à classe média durante o governo do PT, evidentemente, tem medo de retornar à condição anterior, de pobreza. Provavelmente esses temerosos cidadãos, desinteressados da política e dos rumos do poder, apolíticos e apartidários, constituem a massa que não quer exatamente mudanças na política que os levou ao novo patamar social, mas na concepção das políticas que agora lhes dê blindagem contra crises. Talvez pensem numa espécie de bolsa classe média, contra crises do capitalismo… O problema é que contra crises não há garantias de que todos sairão com seus bolsos ilesos.
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