Eleitor de Dilma não foi às ruas neste domingo

POR LEONARDO AVRITZER

As manifestações de rua que temos visto na última semana contra o governo e principalmente as manifestações que ocorreram hoje, em São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Brasília, entre outras cidades, são a expressão de um fenômeno que começou em junho de 2013: a pluralização e posterior polarização da mobilização social no Brasil.

Mais de um milhão de pessoas estão se manifestando neste domingo, dia 15, e elas parecem querer coisas diferentes: alguns querem o impeachment da presidente ainda que não entendam que o impeachment no presidencialismo é um ato administrativo em punição a malfeitos; alguns expressam indignação contra a corrupção; e outros querem sinceramente que o governo melhore a sua performance, principalmente, no campo da economia.

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Mas a pergunta central que merece ser feita hoje é: por que a classe média está se mobilizando e por que ela está polarizando a sociedade brasileira? Desde junho de 2013 estamos vendo uma ativação da mobilização de classe média no Brasil. As manifestações de então foram um divisor de águas na política brasileira. Convocadas inicialmente pelo Movimento Passe Livre elas cumpriram o papel de reabrir o campo da mobilização social no Brasil.

Se tomarmos os dados dos institutos de pesquisa sobre as manifestações de junho, foi a classe média quem delas participou, já que 43% dos manifestantes tinham ensino superior completo e 23% deles tinham renda superior a 10 salários mínimos, perfazendo um perfil típico de classe média.

Foi esta classe média, especialmente o seu setor de renda mais alta, que derrotou Dilma nas principais capitais do Sudeste, nos dois turnos da eleição – se tomamos os dados da pesquisa Datafolha de 10 de Outubro do ano passado que mostrou apoio de 67% ao candidato da oposição Aécio Neves por parte da classe média alta.

É essa mesma classe média que se manifestou hoje, a se julgar pelos locais e pelas cidades onde as manifestações ocorreram. Os protestos ocorreram em Copacabana, na praça da Liberdade, em BH, e na Esplanada, em Brasília, com forte presença dos atores acima mencionados. Ou seja, a classe média brasileira está se manifestando e ocupando o espaço do protesto social, um fato a princípio positivo. No entanto, a pluralização da participação social está se tornando rapidamente uma polarização da participação social, e esse fato é preocupante para todos os que prezam a democracia no Brasil.

Há claramente uma agenda negativa nas manifestações da classe média. Esta agenda implica em se manifestar contra setores da população brasileira, ou contra parte do eleitorado ou contra a maior parte das instituições em especial, a presidente.

Não tenho dúvidas que a presidente cometeu erros nos primeiros sessenta dias do seu governo, principalmente por não ter pactuado, comunicado ou negociado com os seus apoiadores e eleitores a mudança na política econômica. Apesar de ter anunciado, ainda durante a campanha eleitoral, a saída de seu ministro da Fazenda, Dilma não sinalizou para o seu eleitorado a mudança de curso na política econômica, algo feito quase imediatamente depois da vitória.

Concentração da insatisfação

Ao deixar de fazê-lo, ela tornou insatisfeitos os seus apoiadores e não conseguiu atrair os seus opositores, como ficou bastante claro hoje. Assim, a população brasileira tem fortes motivos para estar insatisfeita, mas ainda assim cabem três perguntas que podem nos ajudar a calibrar a relação entre os erros da presidente e os objetivos dos manifestantes.

A primeira pergunta é: qual é o perfil dos manifestantes que foram a rua hoje? A segunda é se foi o eleitor da Dilma quem se manifestou hoje.  E a terceira é se as manifestações e a insatisfação em relação ao governo justificam um pedido de impeachment. Ainda é cedo para avaliar quem foi as ruas no Brasil hoje, mas é possível fazer duas observações. A primeira é que, apesar de existir uma insatisfação ampla com a presidente, existe claramente um polo de concentração desta insatisfação no Estado e na cidade de São Paulo.

O tamanho das manifestações ficou entre 20 mil a 50 mil pessoas nas principais cidades do Sudeste e em Curitiba, mas elas adquiriram uma dimensão diferente na cidade de São Paulo, onde 1 milhão de pessoas segundo a PM  (210 mil segundo o Datafolha) se manifestaram, e no interior do Estado.

Desde 2013, há uma indisposição em relação ao governo e ao Partido dos Trabalhadores que se acentuou na cidade de São Paulo durante as eleições e continua até hoje. Esta intensidade de opinião negativa contra o governo atingiu o seu auge hoje, mas ela não se expressa da mesma maneira nas outras capitais do Sudeste, como Belo Horizonte e o Rio de Janeiro, onde as manifestações foram significativamente menores e não alcançaram 1% do eleitorado.

A segunda resposta é: parece não haver nenhuma evidência que o eleitor da presidente Dilma no último dia 26 de outubro tenha se manifestado neste domingo. Pelo perfil do manifestante de classe média que foi possível perceber nas manifestações, pelas regiões das cidades onde houve manifestações e pela concentração regional em São Paulo, todas as evidências indicam que o eleitor da Dilma não se manifestou.

As manifestações foram também muito pequenas nas principais capitais do Nordeste, como Salvador, Recife e Fortaleza, onde a presidente venceu as eleições com folga. Assim, sem diminuir a importância das manifestações, cabe ressaltar que elas são de uma classe média insatisfeita com o governo – centrada em São Paulo que votou majoritariamente na oposição. Nesse sentido, elas foram a manifestação de uma parte da sociedade brasileira.

A resposta para a terceira pergunta é a mais importante já que os manifestantes de hoje não apresentaram ao país nenhuma agenda. Eles querem a saída da presidente. Obviamente que não há nenhuma justificativa para o impeachment porque ele seria uma ruptura institucional que mudaria as regras do presidencialismo brasileiro, na medida em que poria na ordem do dia o impedimento de qualquer presidente mal avaliado daqui em diante.

Alguns países, como a Venezuela ou o Equador, introduziram essa lógica na sua democracia e ela se mostrou altamente perversa, porque se o impeachment pode ser um instrumento de oposição, ele passa a fazer parte do jogo político ou da política normal, o que é deletério para a democracia.

Como pensar então a democracia e a política brasileira após as manifestações deste domingo? Na minha opinião, é urgente uma agenda positiva por parte do governo, da oposição e dos manifestantes. No caso do governo, a presidente precisa utilizar urgentemente dos instrumentos públicos que o governo tem, principalmente, o CDES – conhecido como “conselhão” – para comunicar e pactuar tanto com a sua base, mas também com a maior parte do empresariado, as mudanças na economia.

Ampliar a base social de apoio para estas mudanças e pactuar os seus principais elementos e os seus limites temporais parecem ser os principais desafio do governo hoje. No caso da oposição e dos manifestantes, eles estão no dever de propor uma agenda institucional de mudanças que esteja centrada no combate à corrupção, que é uma necessidade e em uma preocupação com a melhoria da qualidade do sistema político.

A alternativa a uma agenda positiva é uma agenda de escalada das mobilizações pelos diferentes atores políticos que poderá jogar a democracia brasileira em uma dinâmica de desinstitucionalização muito perigosa. Este não é um presente que a democracia brasileira mereça no dia em que a retirada dos militares e a devolução do poder aos civis completou 30 anos.

(*) Leonardo Avritzer é cientista político, da UFMG.

21 comentários em “Eleitor de Dilma não foi às ruas neste domingo

  1. O eleitor da presidente reeleita nao foi à manifestação de ontem, tampouco foi a de sexta-feira.

    A verdade é que os números de ontem ficaram aquem tanto do entusiasmo dos organizadores, quanto dos temores dos defensores da presidente.

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  2. Nesta semana o diário carioca O Globo publicou dois textos que revoltaram muitos leitores e causaram polêmica nas redes sociais. A jornalista Maíra Streit escreveu artigo para a Revista Fórum comentando as declarações de Hildegard Angel e de Silvia Pilz. A primeira sugeriu a segregação dos moradores da Zona Norte da cidade como solução aos arrastões. A segunda debochou da população mais pobre que recentemente teve acesso aos serviços particulares de saúde. Streit lembra ainda de declaração infeliz da socialite Danuza Leão, que em sua coluna na Folha de S. Paulo escreveu que ir à Nova Iorque não tinha mais graça, já que poderia encontrar seu porteiro por lá.
    “Esses são exemplos clássicos de que o que incomoda a elite não é a perda de direitos, mas de privilégios. Em um mundo onde ser ‘VIP’ e obter exclusividades são o ápice do prazer aristocrático, a popularização do acesso a educação, saúde, viagens e bens de consumo deve ser mesmo um horror”, diz Maíra, que conclui: “Quanto a isso, só resta uma coisa a ser dita: acostumem-se… A tendência é piorar”. (Do 247)

    Por Maíra Streit, para a Revista Fórum

    Por aqui,i os principais privilégios que se vê nessa gente branca são, os de ter um carro importado (4×4), ser sócio da Assembleia Paraense e um casarão no Sal e mais, alguns casa em Miami.

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  3. O min. Toffoli se ofereceu p integrar a turma do supremo que vai julgar os deputados indiciados na op lavjato, no dia seguinte teve audiencia com a pres Dil má, agora me pergunto: coincidencia ou conivencia?

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  4. Caro Oliveira, a julgar pela política econômica conduzida por Levy, seria de esperar que a classe média apoiasse a presidente Dilma em massa, uma vez que o ajuste fiscal era uma bandeira do PSDB na campanha apoiada pela mesma classe média. Assim é bastante visível que esse movimento acaba mostrando sua motivação / convicção golpista. Não é uma questão entre concordar ou discordar das medidas do governo, mas de exigir a troca de comando. Isso ocorre pelas eleições diretas, a cada quatro anos. Seria a hora de o PSDB elogiar a política econômica do PT pela primeira vez em muito tempo. Seria a hora de os ricos se aproximarem do governo. Seria a hora dos jornais do exterior, tão confiáveis, como o Financial Times, elogiarem o governo pelo acerto. Uma vez que o PT assume o ajuste fiscal e o eleitor de Dilma não se manifesta, deve ser por acreditar que tais medidas sejam mesmo necessárias e melhor que sejam feitas pelo mesmo partido que gerou empregos e renda em meio a crise internacional e só agora sente seus efeitos. Os ricos por aqui sonham sonha com a paridade do real com o dólar, para viajar e fazer compras no exterior, mesmo que isso massacre o pobre. Enfim, chegada a hora de a classe média se aproximar do governo, ela se decide por um golpe que só mostra birra, uma classe média emburrada. E sem noção. Isso é o coxinismo destilado, em estado puro.

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  5. Estive ontem na praça da republica e na passeata manifestando meu descontentamento com os políticos em geral nesse país.
    O que pude perceber ontem foi a presença de pessoas comuns do povo, que estiveram expontaneamente lá mostrando sua contrariedade com o que vemos hoje, o que me deixou muito contente pois não vimos nenhuma bandeira de partido politico ou sindicato tentando capitalizar o movimento expontaneo da sociedade que está insatisfeita com a condução política e econômica atual.
    Como não poderia deixar de ser o principal alvo dos protestos foram o Partido dos Trabalhadores e os seus principais líderes, Lula e Dilma.

    outra coisa que pude perceber foi a ausência do povão e da da classe estudantil na manifestação . A passeata estava composta basicamente por pessosas da classe média e acima de 25/30 anos, entre as quais eu me incluo.

    Agora tem um detalhe que me chamou mais a atenção: A grande maioria das pessoas que estavam no protesto e que eu tive oportunidade de conversar eram os antigos eleitores do PT, que votaram no Lula para a presidente, e estavam se sentindo enganada pois o Lula e o PT se apresentavam como uma esperança de uma política honesta e estadista. Ao assumir o poder o resultado é o que vemos hj.
    Talvez isso explique parte da revolta do povo com o atual governo.

    Mas no geral foi lindo: as ruas lotadas de pessoas protestando pacificamente por um Brasil melhor.

    Ps: a policia se comportou muito bem ontem, e a gente nota que estavam ali não para reprimir a manifestação, mas para proteger os manifestantes e a população em geral.

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  6. Ajuste fiscal no Brasil é aumento de impostos, vale lembrar que no Brasil a carga fiscal ja é uma das maiores do mundo, se nao a maior… Governo corrupto, nao ha como negar, o mensalao foi caixa dois e o petrolao? Ahh foi o Fernandenrique… Quadrilha montada p se perpetuar no poder e enriquecer a todos.

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  7. Sei que será publicado somente após passar o tema, mais vamos lá. Sou assalariado e sinto no bolso a dificuldade que (parece que) os escritores não sentem. Não fui a manifestação. Votei na Presidenta e me arrependi. Não sou da classe media e acho que mudar de opinião não me transforma em idiota nem golpista, apenas tenho família e sinto na pele as dificuldades.

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  8. O certo é que muita gente ficou com preguiça de ir nas manifestações pró e contra PT. Também certo é que a história sempre é a mesma: um partido quando é oposição apoia protesto e quando é situação, o condena. Politicagem.

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  9. concordo nação bicolor.
    tive a meesma impressão

    acrescento so que muita gente q troquei ideia lá não apoia o impichment da dilma por causa que o pmdb assumirá a presidência.

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  10. Lopes, nestes últimos dias tenho lhe notado se deixando vencer, ainda que moderadamente, por aquela característica algo intolerante que marca o discurso pró governo. Dia desses utilizou o termo “ridículo” que é um tanto desqualificatório, para se referir a uma comparação que vc supôs que eu fiz entre a presidente e dois de seus noveis aliados; hoje adota o pejorativo “coxinismo” para generalizar pejorativamente a procedência daqueles que discordam do governo. Enfim, tomara que vc nao abandone aquela linha qualificada que sempre adotou nos seus comentários a favor do governo, apoiados em Marx, Foucault, Adorno etc, e passe a adotar àquele discurso clichê e violento comum à maioria dqueles que produzem e reproduzem a propaganda surrealista do governo.

    Pois bem, feita a minha reclamação, passemos ao que é mais importante: os fundamentos de seu comentário e a minha opinião sobre eles.

    Por primeiro, parodiando um clássico, cumpre dizer que há muito mais entre os brasileiros e os brasileiros, do que a vã polarização pt/psdb ou l u l a/fhc. A nomeação do Levy só agradou àqueles que vêm sendo agradados desde que o Brasil foi descoberto há mais de 500 anos.

    Depois, é importante consignar que protesto na rua contra o governo, é da essência da democracia; bem assim que o impedimento de governante tem previsão constitucional e na lei, e, que, portanto, se verificado em concreto que o governante incidiu nalguma das hipoteses figuradas na Constituição e na lei, o impedimento constituirá legítimo cumprimento constitucional e não golpe.

    Aliás, nao excede lembrar que não existe nenhum processo de impedimento da presidente tramitando, e que quem vai decidir se o processo vai ser instaurado e começar a tramitar, ou não (e isso se ele for requerido seriamente), e o fará com base em motivos legais e constitucionais, são as autoridades competentes e não o protesto nas ruas.

    Aliás, muitos de nós sabemos disso muito bem, que a via eleitoral é a mais efetiva para proceder com a troca de governantes, pois gritamos diversas vezes “fora fhc!” em inúmeras manifestações e incontáveis protestos, mas ele só saiu no limite da sua possibilidade de ficar, ao final de seu segundo mandato. Enfim, só conseguimos “depô-lo” pelo voto.

    Outra coisa, acho muito difícil que alguém do povo, da massa do eleitorado que reelegeu a presidente, massa esta que todos sabemos de quem era majoritariamente composta, esteja de acordo com: a) os sucessivos aumentos na tarifa de energia; b) os sucessivos aumentos no preço dos combustíveis; c) com o aumento generalizado na inflaçao (que já era alta) aque estes aumentos setoriais acarretam; d) com o aumento da carga tributaria e seus reflexos na inflacao; e) como o sacrifício nos direitos tralhistas e previdenciários; f) com os bilhoes que são destinados aos carteis e àqueles que os viabilizam, e com a miséria destinadas às bolsas; g) com o sacrifício da saúde; h) com a anarquia na segurança; i) com a tristeza na educação, etc, etc, etc.

    Enfim, de minha parte, creio que ninguém tem motivos para elogiar um país que se encontre numa situação desta. Creio também agora concordando parcialmente com você, que, de fato, de fato esta onda de reclamacoes, manifestacoes e protestos, revelam que há muita gente emburrada neste país.

    Todavia, divergindo um tantinho de você, creio firme que Por isso que acho que há sim muita gente emburrada no país, quem está emburrado neste país está muito longe de ser a classe média, que reclama a falta de retorno dos elevados tributos que paga.

    Também acredito com a mesma firmeza, que os emburrados não sao aqueles outros que mesmo não sendo classe média, porque também pagam elevados tributos, tambem reclamam do governo.

    Finalizando, estou certo, ainda, que, com maioria de razão também nao estão emburrados aqueles poucos que há mais de 500 anos efetivamente governam este país, (e, logicamente, seus parentes, amigos, aliados e agregados), eis que além de estarem enriquecendo pelos ‘séculos e séculos amém’, ainda encontram aqueles quem, mesmo estando sujeitos a todos aqueles deleterios efeitos que referi nas alineas do paragrafo setimo supra, ainda encontrem razão para defedê-los fervorosamente.

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  11. O que eu pude perceber do manifesto de ontem aqui em Belem, é que tinha muita gente que acabou de chegar de Miami (duas familias amigas minha inclusive). Mais. Depois da passeata todos foram para os melhores restaurantes da cidade. Tudo isso é sinal que a crise econômica está muito ruim para a classe média. É muita hipocrisia meus amigos, uma amiga minha, que nunca soube o que é pegar um ônibus, psdb doente, tem raiva de pobre, estava lá ontem, hoje conversando com ela, perguntei por que ela foi a manifestacao, respondeu por causa do estelionato eleitoral da Dilma, perguntei, mas voce nao votou no Aécio? A Dilma não está fazendo o ajuste fiscal que o Aecio ia fazer.
    Esses manisfestantes de ontem quero ver se eles vão pra rua no final de semana de julho. Vao fazer passeata no Sal, com certeza.

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  12. Pois é, caro Oliveira, apenas me apropriei de termo comum, não quero “baixar o nível” da discussão, mas usar uma linguagem mais comum, apenas isso. No mais, tenho visto uma intolerância muito grande com quem diverge do modismo anti-petista. Vi no UOL uma foto de um cidadão de uns 40 anos de bicicleta, e uma camisa vermelha no ombro, e, na mesma foto, um garoto de uns 20 e poucos anos gritando ferozmente, este com aquele… Existe intolerância de parte a parte, com certeza. Existe uma frase, ainda que não goste muito de usar frases feitas, mas esta cabe bem neste contexto: “o grito é o último recurso de quem já não tem argumento”. Isso se chama opressão, isso me deixou indignado. É a tradicional truculência oligarca, do mais natural jeito de ser da elite brasileira. O protesto em si, verdade seja dita, é constitucional. O protesto é plenamente válido e saudável para democracia. O golpismo está em aceitar que o protesto possui a representatividade da maioria dos brasileiros (não possui) e que Dilma teria cometido crime de responsabilidade (não cometeu). Vejo que é como se se buscasse a legitimação de um processo ilegal para transformá-lo em legal. Está na constituição federal que todo o poder emana do povo, como está que ele o exercerá pelo voto, e não por manifestações de rua. O clima é profundamente hostil a quem de esquerda, como se a esquerda fosse a culpada dos quinhentos anos de atraso do país. Não é. A reação das elites nacionais até que demorou, mas veio, e veio com força. Acredite, depois de quinhentos anos de experiência, depois do enforcamento de Tiradentes, do massacre da cabanagem e dos alfaiates, da guerra do Paraguai e de Canudos, da ditadura militar, sei que a pior coisa que poderia acontecer agora é a volta das mesmas elites ao poder. Considero até inevitável que a velha elite retome o poder um dia, mas tentarei retardar isso o máximo que puder.

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  13. Manisfesto tranquilo para contrariar os petistas que imaginavam muitas turbulências. É o povo manifestando a sua vontade e sim com a participação de muitos eleitores que votaram na Dilma. Contam outras que outros protestos virão, se pensam que cairá no esquecimento.

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    1. Kkkkk.. Pesquisas dos próprios tucanos indicam que o artigo do professor Leonardo Avritzer está correto, Fernando. Estavam lá nas ruas de S. Paulo os inconformados com a derrota em outubro. Passaram-se 4 meses e meio mas ainda dói um bocado. Normal.

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  14. Morando bem próximo à Praça da República, vi de minha janela as manifestações dos dias 13, sexta, e 15, domingo. No domingo, alternava a janela com a TV ligada no programa Esporte Espetacular da Rede Globo. Nesse programa, havia a interrupção a todo momento para mostrar imagens dos protestos, nas cidades onde eles ocorriam pela manhã, numa espécie de “esquenta” para a manifestação vespertina em São Paulo. O entusiasmo do apresentador global e o esforço em fazer o chamamento da população para as ruas, mesmo que de maneira camuflada, era perceptível aos mais atentos. A lição que fica ao governo é que ele está perdendo a batalha da comunicação para a grande mídia e precisa urgentemente constituir canal para se comunicar com seus eleitores. Uma pergunta que não quer calar: por que nas passeatas de domingo no RJ, em Salvador e em São Luis não aparecem ou raramente aparecem negros nas fotos de jornais e revistas e nas imagens de TV, quando sabemos que a população majoritária dessas cidades são de negros (foram as portas de entrada dos escravos no Brasil), geralmente constituintes das camadas mais pobres e habitantes das periferias dessas cidades(dos morros, no caso do RJ)?

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    1. Amigo Miguel, foi um massacre do poderio midiático da velha imprensa impondo sua plataforma política (que absurdo…), que se resume a tirar do poder a presidente eleita e empossada há dois meses. O governo tem poucos meios, a não ser pela regulamentação da mídia, para mudar esse quadro. Caminhamos para um regime democrático dominado e controlado pelos grandes grupos de comunicação, capazes de pegar em armas se necessário quando seus interesses são contrariados. O corte recente de parte da verba publicitária da Globo desencadeou a ira da Vênus Platinada. O super esquema de cobertura mostrado no domingo, com links ao vivo de 10 capitais, com chamadas ao longo da programação, dão bem a medida desse esforço pra retaliar o governo. Em qualquer democracia realmente séria e sólida um grupo de comunicação jamais teria todo esse poder.

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