Os protestos de ontem foram, declaradamente, contra o PT. Indiretamente (ou de forma subjacente, poderíamos dizer), são contra a esquerda. Esses são os alicerces, os elementos centrais. É a partir deles que tudo — inclusive a inclinação antidemocrática, cada vez menos tímida e disfarçada, de boa parte do processo — se ergue. Não se deseja, por ex, uma ruptura democrática a qualquer custo: ela tenta as pessoas porque é um modo de atingir Dilma e o PT. Isso é muito mais importante do que talvez pareça.
A partir daí, é possível fazer algumas constatações desagradáveis talvez, mas difíceis de contornar. Mesmo que com claro viés conservador e direitista (a proposta de resgatar velhos valores supostamente destroçados pelo petismo, por ex, é clara), as manifestações de 15 de março guardam mais semelhanças com as de 2013 do que muitos gostariam. Nas jornadas de junho, a insatisfação com o atual governo também estava presente: exigia-se (ou, ao menos, o núcleo mais politizado daqueles protestos exigia) uma guinada à esquerda por parte de Dilma e do PT. O que, como sabemos, não ocorreu.
Com o fracasso de suas tímidas iniciativas e de seu equivocado repúdio aos protestos de 2013, o PT alienou os que ainda nutriam simpatia ou respeito por ele, ao mesmo tempo que atraiu para si a indignação antes difusa de dois anos atrás. Um movimento que os setores à direita, nas suas mais diferentes formas, compreenderam e, de certo modo, souberam antecipar e, depois, direcionar.
O resultado: perdemos — nós, a esquerda — a disputa pelas consciências que em 2013 ensaiaram uma politização. Agora, elas pensam com o ideário conservador, que vê no PT um símbolo de toda a esquerda. E os protestos que pareceram um novo fôlego esquerdista agora se voltam, menos de dois anos depois, contra essa mesma esquerda, dispostos a esmagá-la. Porque é essa a associação feita de forma incansável pelos setores mais à direita: o PT é a esquerda, e a esquerda é o mal. E cada vez mais pessoas acreditam sinceramente nisso.
É por ter perdido essa luta que a esquerda, agora, vê-se confrontada com um grito cada vez mais alto por uma solução totalitária — que está nos protestos mas, não se enganem, vai muito além. Enquanto falham as esquerdas em propor um caminho para superar a falência de nosso atual pacto republicano, as alas conservadoras e de extrema-direita trazem a sua solução — simples, aparentemente fácil e de efeito supostamente imediato. E ganham adeptos. Não é surpresa: quem deveria propor uma alternativa democrática e de transformação (a esquerda) fracassa ao não fazê-lo.
Qualquer enfrentamento a esse cenário vai além de uma defesa simples, ainda que enfática e necessária, da legalidade do atual mandato de Dilma Rousseff. E certamente não passa por suspender, mesmo que temporariamente, as críticas à esquerda ao governo. Penso que é preciso, antes de tudo, um enfrentamento imediato e total da pseudo-alternativa antidemocrática — e, junto com essa oposição, um apontamento claro dos problemas inerentes ao atual modelo político brasileiro, e que corroem por dentro o mandato de Dilma de forma aparentemente irreversível. Em resumo, um esforço para a construção de uma alternativa democrática, que não rompa e não tolere rompimento com a democracia — luta que, e isso está mais claro do que nunca, precisa vir de fora do Executivo e de fora do Congresso. Ou alguém acredita mesmo que os nobres parlamentares possam (ou melhor dizendo, que desejem) promover uma reforma política realmente capaz de encarar o tamanho do desafio que se desenha?
Eis a encruzilhada da esquerda brasileira. A esquerda não é o PT: em muitos sentidos o repudia, ainda que vá se erguer ao lado dele caso a alternativa golpista seja de fato posta à mesa. Incapaz de identificar-se de fato com qualquer um dos lados em disputa, será preciso abordar a questão pelo lado de fora e, a partir daí, enxergar qual é a sua luta — não pelo PT, não contra o PT, mas pelos direitos fundamentais e pelas bandeiras históricas da esquerda, em um ambiente distante de qualquer arroubo fascista. Essa é a luta possível, e mais: essa é a luta que de fato interessa.
O Papão abre nesta quarta-feira (18), às 21h30, a sua campanha na Copa do Brasil 2015. O compromisso contra o Águia Negra-MS, em jogo de ida pela primeira fase, está cercado de expectativa pela importância da competição. O técnico Dado Cavalcanti (foto), mesmo avaliando as dificuldades a serem enfrentadas, garante que o grupo bicolor está preparado para encarar e tentar vencer o time sul-matogrossense. A novidade na equipe, além da manutenção do zagueiro Marquinhos, é a estreia do centroavante Souza, que deve ser lançado ao longo da partida.
“Sabemos que o jogo de hoje não será fácil. Sabemos que o forte do nosso adversário é o conjunto, pois eles já jogam juntos há um bom tempo, muito próximos um do outro e vamos enfrentar este adversário no campo deles, um campo pequeno com gramado alto, que pode fazer com que o jogo fique mais truncado ainda, mas estamos preparados”, garantiu. O comandante bicolor ressalta que a missão não será fácil e prega respeito ao adversário desta noite. “Nós fizemos um trabalho de recuperação dos atletas, na base da conversa tentamos corrigir e melhorar nossa equipe para que possamos entrar forte neste jogo”, explicou Dado.
VANTAGEM
O Paysandu pode se classificar à próxima fase caso vença o Águia Negra por dois ou mais gols de diferença. Se isso não ocorrer, o segundo confronto será no dia 1º de abril, no estádio da Curuzu, em Belém, às 20h30. (Com informações do DOL)
O governo decidiu ceder a um apelo dos clubes de futebol e resolveu manter em 240 meses o prazo para que os times possam refinanciar as suas dívidas com a União. A decisão foi anunciada na tarde desta terça-feira (17) após reunião de ministros e líderes da base aliada na Casa Civil em que fecharam o texto da medida provisória que reforma o futebol brasileiro.
O governo defendia que a dívida dos clubes fosse parcelada em até 180 meses uma entrada de 10% sobre a dívida de cada um. Dados extraoficiais utilizados pelo Planalto indicam passivo de R$ 4 bilhões, a maior parte com o INSS e o FGTS.
A MP foi um dos temas discutidos em um café da manhã com com o vice-presidente Michel Temer, os ministros Aloízio Mercadante (Casa Civil), Pepe Vargas (Relações Institucionais) e Hilton, e líderes da base aliada na Câmara. Segundo interlocutores, o Ministério da Fazenda finalizou o texto na manhã desta terça e por isso não houve tempo hábil para apresentar a proposta aos deputados.
Reportagem da Folha de S.Paulo desta terça mostra que o texto estabelece que os presidentes de clubes passarão a ter mandato limitado em quatro anos, prorrogável por igual período. Estarão, ainda, sujeitos à responsabilização civil e criminal em caso de gestão temerária.
A agremiação que aderir ao Refis (programa de refinanciamento) e não honrar as parcelas do programa, ou contrair novas dívidas junto ao poder público, pode ser até rebaixada de série. Na visão do governo, somente uma penalidade dessa natureza é capaz de fazer com que clubes entrem na linha.
O que menos ajuda o Remo a esta altura do pagode é ficar se lamuriando pelo que deixou de fazer ou pelo que não soube ganhar. Um exemplo: viúvas azulinas de Mazola Jr. cornetam que a caminhada de volta à Série D seria mais tranquila sob a batuta do marqueteiro treinador.
Está aí um troço que nunca se irá saber, pois Mazola está no Botafogo de Ribeirão e o Remo é comandado por Zé Teodoro, um técnico muito mais credenciado e vencedor. Num esporte cheio de variáveis como o futebol, não significa que Zé vá dar jeito na situação azulina, mas fatos são fatos – e precisam ser ditos.
Na verdade, o dilema remista é bem mais profundo do que esses bate-bocas inócuos de mesa de bar ou resenhas de escritório, que costumam decretar bobamente que os males do clube passam por “ciúme de homem” ou vaidade excessiva entre a cartolagem. Ciumadas são normais, seja em ajuntamentos masculinos ou femininos. É claro que não respondem pela sinuca de bico em que o Remo está metido há uma década.
Sim, porque o Remo está sem vencer algo realmente relevante desde o Campeonato Brasileiro da Série C em 2005. E naquela época havia muita desavença internas. Ainda assim, com esforço de alguns poucos e aquela faísca de sorte que segue os vencedores, o time derrotou todos os obstáculos, inclusive suas próprias limitações.
Desde então, o que fez o clube? Desfez elencos a cada seis meses, trocando de técnicos em espaço ainda menor de tempo. Abandonou a política de revelar jogadores e garimpar reforços regionais. Naquele time de dez anos atrás, pontificavam peças genuinamente paraenses, como Landu, Magrão, Marquinhos Belém e Márcio. Não eram peças questionadas, eram titulares.
A rotina do clube tem sido a de abrir mão dos bons valores, quase sempre de graça ou a preço de banana. São raros os casos de bons atletas revelados (Deus sabe como…) que foram aproveitados. Parece repetitivo, mas está aí a raiz de todos os problemas. A cartilha é obrigatória: todo time que luta contra a falta de patrocínio e as dificuldades normais das competições deficitárias precisa investir tudo na formação de jogadores.
De 2010 pra cá, o Remo já perdeu muita gente que poderia ter pelo menos significado lucro para os cofres do clube. Cicinho, Tiago Cametá, Betinho, Héliton, Rodrigo e Jonathan saíram de graça. Roni, Alex Ruan, Igor João e Sílvio são as exceções no time atual, embora até mesmo Roni quase tenha saído no final de 2014. E ele é simplesmente o melhor atacante surgido no Baenão nos últimos anos.
É esta realidade que o Remo precisa encarar de frente e fazer o possível para não repetir erros tão absurdos e recorrentes. Para tanto, a nova diretoria precisará, além de vitórias em campo, contar com o apoio de conselheiros e colaboradores realmente engajados no projeto de recuperação do clube.
O primeiro passo é evitar as contratações amalucadas, de veteranos como Zé Soares e Leandrão, que só interessam aos empresários sabidos que rondam os clubes mal administrados. A partir daí, caberá ajustar as despesas, evitando gastar mais do que pode e esforçando-se para produzir receita, a partir da apaixonada torcida.
Quando isso tudo estiver encaminhado, o Remo poderá enfim olhar para jogos como o desta noite contra o Cametá com a serenidade necessária para entender que sua real grandeza. Isso significa que não pode jamais se comportar como um combinado formado às pressas e sem compromisso para ir conhecer as belezas do Baixo Tocantins. Grandes clubes são confiantes e se impõem sempre, joguem aqui ou na Indochina.
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O apito ainda é dos mais espertos
Robinho, com aquele cartaz de não ter ganho nada como atleta de fama internacional, forçou um árbitro fraco a marcar pênalti inexistente contra o Londrina, ontem à noite. O árbitro Paulo Salmázio acompanhava o lance, como todo mundo no estádio, percebendo que a bola bateu no ombro do zagueiro. Robinho gritou pedindo o pênalti e o apitador convenceu-se em questão de segundos de não ter visto o que viu.
Milagres da reflexão forçada.
Robinho, então, sem o menor pudor, foi lá e mandou a bola para as redes. Um pequeno assalto à verdade dos fatos, mais um neste país em que os fatos e a constatação das verdades são atirados nas lixeiras em nome da esperteza que satisfaz a fome imediata.
Enfim, vida que segue.
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Manto bicolor remete à glória dos anos 40
Com um uniforme que resgata a estética da gloriosa camisa envergada pelo Esquadrão de Aço do período de 1939 a 1947, responsável pelo pentacampeonato e a histórica goleada de 7 a 0 sobre o maior rival, o Papão está de roupa nova.
Para quem estranhou o azul mais fechado nas tradicionais listras verticais, a explicação é simples: o primeiro uniforme resgata o azul royal utilizado nos anos 40. O azul-celeste atual foi abraçado definitivamente a partir da década de 60.
Do Brasil todo, torcedores de outros clubes aplaudiram a beleza do novo manto bicolor, atestando o acerto da Puma no design escolhido. Aplausos mais do que merecidos e correspondentes à grandeza da festa que teve Viviane Araújo como garota-propaganda, anteontem à noite.
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Dewson barrado no Re-Pa
Ao contrário do que se imaginava, o Re-Pa do dia 29 pelo Parazão não terá arbitragem local. A pedido do Papão, encaminhado na tarde de ontem à federação, o trio Fifa deverá ser de outro Estado. Curiosamente, o paraense Dewson Freitas não estará no comando, se prevalecer a vontade dos dirigentes.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quarta-feira, 18)