
POR ANDRÉ FORASTIERI, NO R7
Terry Pratchett é o segundo escritor mais lido da Inglaterra. É adorado, além de popular. Tive o prazer de publicar alguns livros seus, na editora Conrad. São muito imaginativos e engraçados. Não emplacaram comercialmente. Por quê? Não sei. Terry vendeu 85 milhões de livros planeta afora. Mas aqui no Brasil quem leu sua série Discworld virou fã.
Eu não sou. Incapacidade de ler fantasia. Nem O Senhor dos Anéis encarei, nem Philip Pullman, e muito menos Harry Potter. Dou preferência aos universos fantásticos dos quadrinhos, ou mesmo na pintura. Quando se trata de magia, ver é mais poderoso que ler… mas desta vez, trata-se de ouvir Pratchett.
Neste vídeo, ele defende o direito à morte assistida. Na Inglaterra é ilegal. Em outros países, como Suíça e Holanda, se não exatamente fácil, menos difícil. Porque deixar seu momento de morrer nas mãos do acaso? Por quê sofrer desnecessariamente?
Terry foi diagnosticado com Alzheimer aos 59 anos. Tem 65 hoje. Sua doença, e sua opção e a de muitos, foi o tema do programa de televisão. Em 2009, declarou que pretende optar pelo suicídio assistido, dependendo de como sua situação evoluir. Deu longo depoimento a respeito em 2010. O autor amado por tantos já tinha dificuldades para ler; a maior parte de seu texto foi dita por Tony Robinson.
Terry continua “escrevendo”: dita textos para um assistente, ou usa um software que captura sua voz. Li uns trechos essa semana. Enfrenta depressões e preocupações, mas continua galhofeiro, que bom. Ele é, afinal, o cara que em 1990 escreveu Good Omens (Belas Maldições), uma comédia sobre o Apocalipse, dando chance a um jovem co-autor chamado Neil Gaiman…
O ser humano está geneticamente programado a lutar pela vida até o último suspiro. Nossos antepassados fizeram de tudo para sobreviver, e nos repassaram o talento e a missão. Nosso DNA nos predispõe contra o suicídio. Justamente por isso é que o direito à morte assistida é importante. Na hora que mais precisarmos, precisaremos de ajuda.
Quem decide se e quando? Cada um, se quiser, se puder e se o governo deixar. O outro lado da moeda: dói sentir alguém querido se distanciando lentamente. Ainda que essa longa despedida seja muitas vezes necessária, e uma chance preciosa de doação. Cada minuto com quem amamos é tudo. Como abrir mão dos que poucos que restam?
Ouça. É difícil contestar os argumentos de Terry Pratchett. Espero que essa decisão nunca me apareça pela frente – e que eu morra aos 120 anos, de infarto fulminante, após uma longa noite de sexo, como reza a piada.
Mas se o destino não me sorrir assim, espero que eu tenha a opção, a consciência… e o direito legal, e o apoio, para partir para o lugar de onde vim.
Em inglês, com legendas, Terry Pratchett: O Direito de Morrer.