O afeto que se encerra

Por Gerson Nogueira

O futebol há muito tempo deixou de ser uma brincadeira, um folguedo de fim de semana. Permanece assim para aqueles apaixonados pela boa e velha pelada entre amigos, que cultivam um rachão no campinho do interior. Ainda é possível ver isso quando se viaja para rincões mais distantes da capital. Aquele agrupamento de pessoas felizes correndo atrás de uma bola. Essa imagem é a essência do jogo.

Quando o futebol passou a movimentar fortunas, transformando humildes garotos em milionários da noite pro dia, ele começou a perder a graça – não para esses felizardos, obviamente. Mas deixou de ser empolgante e até ingênuo sob o ponto de vista dos que gostam de ver times jogando em busca de um triunfo, mas que não abrem mão de caminhos jeitosos para alcançar seus objetivos.

Os meninos ricos com o futebol continuarão a enriquecer mais e mais, juntamente com seus agentes e com os dirigentes que guardam as chaves dos cofres. Nós, pobres mortais que curtimos o jogo, temos que nos contentar em torcer para que novos meninos apareçam e joguem muito antes de serem cooptados pela fama e a fortuna.

Há exceções. Lionel Messi está podre de rico, mas joga uma barbaridade. Cristiano Ronaldo, idem. Neymar ainda é uma incógnita. Ainda não é um supercraque, embora já esteja em patamar acima dos operários da bola. Precoce, já tinha amealhado seu primeiro milhão de reais em sua estreia no time titular do Santos. É provável que a precocidade também o ajude como estrela internacional e ele logo atinja os píncaros da glória.

unnamed (13)Cheguei a este tema, tão controverso como vasto, em face de declarações de Renê Simões, ontem, ao ser apresentado como novo treinador do Botafogo. Bom de conversa, todo trabalhado nas teorias de autoajuda, Simões andava gramando certo ostracismo, depois de ter sido pioneiro no comando da Seleção Brasileira de futebol feminino.

Para Simões, futebol bonito é que conta como filosofia, mas o Botafogo precisa de objetividade e pragmatismo para voltar à Primeira Divisão. Falou pouco, disse tudo. É um alento para os botafoguenses do mundo inteiro – sim, somos muitos – saber que o novo comandante é apóstolo da vida prática e não vai se perder em viagens delirantes.

A dura realidade é que a Série B, mais do que a A, vive de transpiração e luta. Não há muito espaço para circunlóquios e firulas. Um jogo de Série B é marcado por chutes incessantes, fazendo com que a bola, coitada, não tenha um segundo de descanso. Jogadores precisam estar atentos, ligados na tomada, sem perder o foco – e a direção da bola, é claro.

Simões terá o árduo desafio de comandar a campanha do Botafogo para voltar à elite, tarefa das mais indigestas em ano particularmente equilibrado na Segunda Divisão. Além dos quatro que baixaram da Série A, o campeonato terá mais uns 10 ou 12 times na briga pelo acesso, como analisei há duas semanas aqui.

Particularmente, gostei de ver a menção de Simões ao afeto pelo bom futebol, aquele de antanho, quando a bola era tratada quase sempre com esmero e até deferências. Jogador de verdade não dava bico, nem tropeçava na redonda. Era comum ver autênticos casos de amor entre bola e boleiros.

Pelé, Garrincha, Nilton, Didi, Amarildo, Tostão, Rivelino, Gerson, Jair, Sócrates, Ademir da Guia, Dirceu Lopes, Maradona, Zico, Cruyff, Romário, Ronaldo, Zidane, Henry, Robben e os três citados lá no começo. Paro aqui para não encompridar muito a prosa.

Todos foram e são extremamente amorosos com a redonda, legítimos inspiradores do conceito de futebol como espetáculo. Simões sabe que não pode oferecer isso no Botafogo em 2015, mas foi afetuoso ao lembrar que ainda há a alternativa do bom e bonito.

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Hesitações atrasam ainda mais o Leão

A diretoria do Remo segue fazendo mistério e adiando a divulgação do nome do novo técnico da equipe. O tempo está passando, o clube perdeu um mês nas escaramuças eleitorais e corre o risco de adentrar 2015 ainda sem um treinador. O elenco, em consequência disso, está incompleto e mesmo a garotada que deve ganhar chance segue sem orientação ou treinamento para o Parazão.

O campeonato começa no dia 1º de fevereiro justamente com a estreia do Remo diante do Parauapebas, no estádio Evandro Almeida. Os demais clubes, incluindo o Parauapebas, estão formados e vêm jogando, o que já representa uma grande vantagem em relação ao campeão paraense de 2014. Se Zé Teodoro resiste às investidas do clube, o bom senso recomenda que se busque de imediato uma alternativa. Sob pena de botar em risco a campanha no Estadual.

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Direto do blog

“O maior problema do Remo, para mim, nunca foi o técnico ou os jogadores, mas a mais absoluta falta de visão gerencial de futebol dos muitos que tomaram a responsabilidade de tocar o futebol azulino. A escolha de técnico local ou de fora redunda num comportamento profissional para os técnicos de fora, e outro aos locais. Sinomar e Guerreiro não tiveram a mesma liberdade dada a RF, por exemplo, sobre contratações e método de trabalho. As coisas são mais limitadas aos locais. Galvão e Cacaio seriam, sim, ótimas opções ao Clube do Remo, dadas as circunstâncias”.

De Lopes Junior, analisando os erros da gestão do Remo no futebol em 2014.

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Idas e vindas do mercado boleiro

Ao que parece, o Papão decidiu não perder mais tempo negociando com o jovem atacante Ruan, repentinamente valorizado pelos quatro jogos finais na Série C. A visibilidade que o jogador teve este ano certamente seria amplificada na Série B. Por isso, soa esquisito que apresente tantas exigências para permanecer no clube. A diretoria age bem em seguir em frente, liberando-o e partindo para contratar um substituto.

Bruno Veiga, que resolveu ficar, não perdeu a chance de citar um suposto interesse de outros clubes, “inclusive da Série A”, para fazer média com a torcida. Ora, defender o Papão é uma excelente oportunidade profissional, não podendo ser encarado como mero gesto de gratidão.

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Até a volta

A coluna entra em breve recesso, com retorno previsto para meados de janeiro. Descanso merecido para os leitores e baluartes aqui no Bola, embora os comentários continuem no blog e redes sociais. Vou aproveitar para mergulhar nos livros, de política a rock’n’roll, sem esquecer lançamentos recentes da praia esportiva.

(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 18)

21 comentários em “O afeto que se encerra

  1. Boas férias, amigo Gerson, e merecidas, de sua conceituada coluna..

    Amigo, Lopes Júnior, não se dá tempo a um incompetente…Se o Charles e Sinomar não fossem demitidos, o Remo não conseguiria, sequer disputar uma série D… Valtinho, em 2005, se não sai a tempo, o Remo jamais seria campeão brasileiro…. Entenda isso… Agora, claro, é só a minha opinião.

    Cacaio, Fran Costa …. Olha, Precisamos saber a grandeza que possuem Remo e PSC, gente..

    Ruan, seu empresário procura quem pague melhor a ele… Assim como Bruno Veiga, no que penso que estão completamente certos..

    – Jhonatan, renovou contrato com o Remo, 2º informações… Entrou em acordo com o Pedro Minowa..

    Pra que, não sei…. É um reserva, caríssimo

    É a minha opinião

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  2. Sobre o Botafogo, nesses tempos de vacas magras talvez fosse interessante o Fogão trazer o Seedorf de volta pra ser um jogador referência, acho melhor que apostar no Loco Abreu.
    Ainda acredito no Ruan no Paysandu quando ele sentir que o mercado não bem assim vai pedir arrego.
    O vício é uma coisa que está no sangue, mesmo de férias certamente o GN estará aqui conosco, mas de qualquer maneira, bom descanso com moderação!

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  3. Eu sempre achei que o maior erro dos dirigentes que passaram e tem presidido o Paysandu e querer montar um time para o Parazão e outro para o Brasileiro. Seria tão simples montar um time para o Brasileiro tendo o Parazão como uma forma de entrozar a equipe e ai no final do Parazão descartava os que não serviam e encaixava as peças de reposicao, tenho toda certeza que com o dinheiro que Remo e Paysandu ganham so no Parazão dar para montar uma equipe tranquilo com folha acima dos C$ 600.000 mil.

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  4. Amigo Gerson e camaradas do blog,

    Ruan começou bem no PSC, depois teve uma contusão séria, retornando, mais tarde, para brilhar no final da competição.

    Sobre mante-lo ou não, digo apenas o seguinte, para mim, Ruan é melhor jogador tecnicamente, mais completo e mais interessante na construção de um elenco do que Bruno Veiga, pois permite maior variação no esquema, ja que cai pelas pontas e sabe comportar-se como homem de área.

    Bruno Veiga, diferentemente, é um jogador esforçado e que só joga com espaços de contra ataque, tanto que, na final da C, quando não foi oportunizado o contra ataque, Veiga sumiu da partida.

    Para finalizar, espero está redondamente enganado sobre o meu Paissandu, mas pressinto que Maia e C&A – Roger, com todo respeito ao ser humano que ele é, parece achar que ele é o cara que inventou a roda no futebol quando se fala em formação de plantel – são extremamente comprometidos com o clube, mas estão adotando uma política financeira kamikazes, em outras palavras, é o velho preceito da vara, ela estava inclinada demais para a gastança de dinheiro, agora está inclinada demais para a contenção de despesa… Penso que nem oito nem oitenta e oito para dar certo no futebol.

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  5. Bom descanso ame boa leitura amigo Gerson. A partir de amanhã também estarei em recesso, só retornando dia 5 de janeiro 2015, e o livro eu já estou lendo, a biografia do robert plant, muita geniosidade desta lenda do rock.

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  6. Mazola Junior, apesar de “gênio”, está sem clube até agora. Lombardi, Ruan e Bruno Veiga não arranjaram clube e estão se leiloando, visivelmente. Apenas o zagueiro Charles é que parece ter aproveitado a exposição na série C. Os demais atletas não chamaram a atenção das outras equipes. Um aviso de que o nível da série C não pode ser usado como parâmetro para a segundona. Dirigentes querem montar um time para o estadual e outro para a série B. Quando isso funcionou?

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  7. Eu nem vou esquentar como o Maia vai montar esse time, só vou esperar.

    Só digo uma coisa, quem monta plantel de 500 mil, provavelmente sem estrela pra chamar torcedor pro estádio, depois não venha reclamar de rendas fracas.

    Salario de 20 mil hoje no Brasil é só pra quem pode, mas pro mercado da bola que tá sem controle, é um dos mais baixos.

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  8. Depois de tudo que passamos, veremos novamente o mesmo filme de terror. Não acredito no que leio e escuto a respeito do Paysandu. Essa história de formar um time pro Paraense e outro pra série B não dá certo, já que os melhores jogadores estarão contratados por outras equipes. Vamos parar de brincar de série B. Essa economia será ilusória!!

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  9. Será que 2015 repetirá o triste fim de 2013? Pelo andar da carruagem iremos dar com os burros n’água. Tomara que eu e milhões de amigos bicolores estejam enganados pois pelos comentários só os “inteligentes” não vêem que montar doiss elencos durante os campeonatos nunca deu certo!
    Ao amigo Gerson, Boas Férias.

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  10. Contratados certos pelo Papão:
    Andrey, William Alves, Thiago Cametá, Dão, Jonatan, Rogerinho.
    Possíveis:
    João Carlos, Raul, Rafinha, Lombardi e ainda Ruan.
    Bruno Veiga fecha amanhã.
    Anotem e cobrem depois.

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