Por Bruno Secco, do Bayern a Secco
Talvez você não saiba, mas Neymar, principal jogador brasileiro na atualidade e que hoje brilha no Barcelona, já teve grandes chances de atuar no Bayern. Se dependesse de Pep Guardiola, hoje ele seria um bávaro. Esta é uma história que, na época, pegou fogo nos bastidores do Gigante da Baviera, mas que poucos sabem.
Perto do final do ano de 2012, quando Karl-Heinz Rummenigge e Uli Hoeness, então presidente de nosso clube, já tinham ciência de que Jupp Heynckes, nosso então treinador, pensava em se aposentar, ambos começaram a estudar os perfis daqueles que poderiam assumir o seu lugar, e chegaram à conclusão de que Pep era o cara para a vaga.
Começaram-se os contatos e, em janeiro de 2013, Rummenigge viajou à Nova York, onde Pep passava seu ano sabático com a família, para finalizar o acordo. Àquela época, ambas as partes já sabiam que a negociação terminaria com um final feliz, tanto que Guardiola já aprendia alemão por algumas semanas.
Na última viagem de Rummenigge a NY (muitos cravam que foi em 13/1/2013), um dos primeiros pedidos de Guardiola ao nosso CEO foi a contratação de Neymar. Guardiola queria contar com o jogador quando ainda era técnico do Barcelona, mas, por não sentir mais que poderia motivar seu elenco a vencer e por sentir que seu ciclo naquele clube havia acabado, não realizou seu desejo – realizaria se permanecesse no Barcelona, já que desde o final de 2011 existia uma “garantia” (não digo “pré-contrato” pois é um termo ilegal aos olhos da FIFA) de que Neymar iria do Santos para o Barcelona.
Desde o anúncio oficial da contratação de Guardiola, em 16 de janeiro de 2013, o nome de Neymar começou a ser veiculado ao Bayern, com mais intensidade quando ficou confirmado que ele iria rescindir com o Santos. Sem saber daquela “garantia” do Santos ao Barcelona – que veio à tona como um escândalo -, muitos cravavam que a joia do futebol brasileiro iria para o nosso clube.
Vicente Cascione, um dos mais conceituados advogados brasileiros, ex-deputado federal por São Paulo (dois mandatos) e ex-presidente do Conselho Deliberativo do Santos (de 1981 a 1982), dava como certa a negociação. Em 12 de maio de 2013, 13 dias antes da final da Champions League (onde nos sagraríamos pentacampeões), o advogado publicou uma nota no seu site confirmando a suposta contratação.
“Revelo esta notícia em primeira mão para vocês. Já está fechado. Neymar já está contratado pelo Bayern de Munique. Não estou especulando, a informação é indesmentível. A partir de agosto deste ano, o jogador fará parte do elenco do clube. Portanto, o seu destino, como muitos noticiavam, não será a Espanha. Nem Barcelona. Nem Real Madrid. Ele vai para a Alemanha. Quem duvidar aguarde para conferir.”
Embora muitos dessem Neymar como certo no Gigante, pouquíssimos sabiam que a negociação já havia melado desde quando Guardiola havia solicitado a contratação de Neymar. Pouquíssimos mesmo, nem pessoas de dentro do Bayern já tinham essa confirmação. Era assunto somente entre o então futuro treinador e a alta cúpula do clube.
Ao pedir Neymar, Guardiola recebeu uma resposta negativa. Não pelo fato de o jovem não atender às expectativas do clube, muito pelo contrário, seria um grande reforço. Mas o fato de ele ser brasileiro prejudicou (pra não dizer “acabou”) com quaisquer chances de conversas.
Calma, o Bayern não é um clube xenófobo. Alguns brasileiros já fizeram sucesso na Baviera, como Zé Roberto, Paulo Sérgio e o grande Giovane Élber. Porém, uma experiência extremamente negativa com Breno, em 2011 (quando ele colocou fogo na sua casa), fez o Bayern acabar com qualquer especulação envolvendo contratações de brasileiros que joguem aqui. Perceba que, desde os problemas com Breno, o Bayern jamais contratou um brasileiro diretamente do Brasil. A ordem, caso queira contratar jogadores daqui, é que antes eles já tenham uma experiência na Alemanha – casos de Rafinha, Luiz Gustavo e Dante.
Não podendo mais contar com Neymar, Guardiola quis um jogador que possuísse as mesmas características do brasileiro: jovem, inteligente, versátil, com bom toque de bola e chute. E, claro, que estivesse habituado à Alemanha. Foi aí que surgiu o nome de Mario Götze.
Pep estava tão obcecado em contar com um atleta que atendesse a estas características citadas acima que o Bayern, sem pestanejar, pagou a alta multa rescisória de nosso camisa 19 junto ao Borussia Dortmund, que era de 37 milhões de euros (cerca de R$ 110 milhões), se tornando assim a primeira contratação da “Era Guardiola“. Ambos começaram a trabalhar juntos desde julho de 2013 e, pouco mais de um ano depois, conquistaram juntos seis títulos.
É claro que, se o Bayern quisesse investir na contratação de Neymar, provavelmente esbarraria naquela “garantia” do jogador feita pelo Santos ao Barcelona, mas, no final das contas, deixou estar. O que ficou é a seguinte pergunta: será que, caso o Bayern fosse pra cima e Neymar hipoteticamente estivesse “descomprometido”, ele daria certo jogando conosco? Só não digo que esta é uma pergunta que ficará “para sempre sem resposta”, pois Neymar ainda tem mais uns 15 anos de carreira. Mas, por hora, ela fica no ar.