Por Paulo Nogueira, no DCM
Pulitzer, o editor húngaro-americano que inventou na segunda metade do século 19 o jornalismo como conhecemos, dizia que buscava no seu jornal “precisão, precisão e ainda precisão.”
Era, para ele, a virtude suprema de uma publicação. Sem ela, você não tem nada. Precisão. Fiz esta introdução para falar no caso Luciana Genro versus Veja, decidido na Justiça a favor sabemos de quem.
Os fatos, essencialmente, são os seguintes.
Luciana Genro montou um cursinho para jovens egressos de escolas públicas, o Emancipa. Gratuito. São 100 vagas por ano. É o tipo de ação que só poderia merecer aplausos. Mas para a Veja não.
Em 2011, o jornalista Otávio Cabral escreveu um texto sobre o projeto de LG. Cabral é aquele jornalista que publicou uma biografia de Dirceu com centenas de erros documentados e, recentemente, fez parte da equipe de Aécio na campanha presidencial.
Não foi um artigo. Foi uma acusação. O título já diz tudo: “Em nome do pai.”
A revista afirmava que o pai de LG, o governador Tarso Genro, a beneficiara na montagem do cursinho.
Segundo a Veja, o governo gaúcho cedera “gratuitamente” duas salas do colégio Júlio de Castilhos. A revista também afirmou que os professores, e Luciana era um deles, eram “bem-remunerados”.
Tudo isso para chegar à conclusão de que de filantrópico o cursinho – ou o “negócio”, como preferiu a Veja – tinha “muito pouco”.
O espírito de Pulitzer foi massacrado impiedosamente por Cabral e seus editores. Imprecisão, imprecisão e ainda imprecisão são as marcas do texto. Isto e mais uma desonestidade exuberante.
Para começar, Luciana Genro não foi ouvida. Não sabemos qual manual de jornalismo recomenda fazer uma reportagem sobre uma pessoa sem escutá-la, mas foi este que a Veja seguiu.
Luciana Genro trilhou o caminho habitual neste tipo de situação: processou a Veja, ainda em 2011. Teoricamente, era uma causa fácil. Alguns de seus argumentos.
- “A Secretaria de Educação não me concedeu nenhum privilégio como insinua a reportagem. A direção do colégio Júlio de Castulhos, assim como outras escolas estaduais, proporciona a execução de diversos projetos nas suas dependências. O Emancipa é um deles, e paga à escola 600 reais por mês pelas duas salas.”
- “Os professores não serão “bem remunerados” como maliciosamente diz a reportagem. Receberão 20 reais a hora aula. Como são apenas duas turmas, a média de remuneração de cada professor deverá ser por volta de 300 reais.”
O fecho da matéria afirmava que Luciana Genro tinha o objetivo de transformar os alunos em “cabos eleitorais para sua campanha a vereadora no ano que vem”. Quer dizer: em sua louca cavalgada, a revista enxergou em 100 alunos um intrépido exército de cabos eleitorais.
O que Pulitzer diria de uma coisa dessas? Bem, você pode imaginar.
Mas o editor da Veja publicou.
Em outubro passado, saiu, afinal, a sentença. A Justiça gaúcha julgou improcedente o processo. O blogueiro da Veja Felipe Moura Brasil disse o seguinte: “Felizmente ainda se faz justiça no Brasil.” Tem uma estranha noção de justiça este jovem velho.
O juiz Heráclito José de Oliveira Brito entendeu que a revista se limitou a publicar “fato presumido verídico”. Quer dizer: não importa se você publica mentiras acintosas, desde que o juiz considere que você partiu de um “fato presumido verídico”.
Estranho conceito de justiça este também. Significa, no fim, que você não tem que provar nenhuma acusação.
“Não há no texto guerreado qualquer acusação à prática de crime ou adjetivação à autora, não se configurando, assim, a alegada calúnia ou a injúria”, escreveu o juiz. “Tampouco logro encontrar na matéria cunho difamatório, tangenciando o texto a zona cinzenta do espírito crítico a personalidades públicas, essencial a uma imprensa livre.”
Quantas atrocidades são cometidas no país em nome da “imprensa livre”, Deus. O juiz conseguiu não encontrar “cunho difamatório” num texto que tentou destruir, criminosamente, um projeto que oferece educação suplementar gratuita a garotos saídos de precárias escolas públicas.
Um dia, esta história haverá de ilustrar a imprensa e a Justiça do Brasil de nossos tempos.
Não é possível que isso seja verdade. Alguém tem o número deste processo ou cópia da sentença? A título de liberdade de imprensa pode-se acusar qualquer um livremente.
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Dos três poderes, o judiciário é o único sem controle social. Eleições diretas para chefes do judiciário podem ser uma boa.
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Muito se fala de corrupção nas esferas do executivo e do legislativo. Mas, como fica o judiciário e seus deuses? (Ops!, não pode falar que eles não são Deus). O judiciário é, provavelmente, o poder mais corrupto do país, muito devido a falta de regulamentação e fiscalização devida dos “doutores” que muitas vezes não tem doutorado.
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Celira, a realidade da justiça estadual é totalmente diferente da federal. A ajufe, associação dos juízes federais, tem investido muito na capacitação de seus associados. Vários magistrados tem feito cursos de mestrado e doutorado, inclusive no exterior. É até difícil encontrar um juiz federal que não tenha, pelo menos, uma especialização. Ademais, o conselho nacional de justiça tem o projeto da escola nacional da magistratura e alguns tribunais tem as suas própŕias escolas, como as esmafes e a unicorp, no âmbito do trf da primeira região. Antes de falar sobre a complexidade desse poder, é necessário conhecê-lo com profundidade. E eu só estou citando a JF. E ainda há os demais ramos: trabalhista, militar e eleitoral, cada um com as suas próprias peculiaridades. Dá pra escrever teses e dissertações a respeito.
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