Por Ricardo Kotscho
2002, 2006, 2010, 2014.
Nas últimas quatro eleições presidenciais, a velha mídia familiar brasileira fez o diabo, vendeu a alma e foi ao fundo do poço para derrotar o PT de Lula e Dilma.
Perdeu todas.
Desta vez, perdeu também a compostura, a vergonha na cara e até o senso do ridículo.
Teve até herdeiro de jornalão paulista que deu uma de black bloc e foi sem máscara à passeata pró-Aécio em São Paulo, chamada de “Revolução da Cashmere” pela revista britânica “The Economist”, carregando um cartaz com ofensas à Venezuela.
Antigamente, eles eram mais discretos, mas agora perderam a modéstia, assumiram o protagonismo.
Agora, não adianta rasgar as pregas das calças nem sapatear na avenida Faria Lima. “The game is over”, como eles gostam de dizer em bom inglês.
Se bem que alguns já pregam o terceiro turno e pedem abertamente o impeachment da presidente reeleita Dilma Rousseff, que derrotou o candidato deles, o tucano Aécio Neves, por 51,6% a 48,4%. Endoidaram de vez. E não é para menos: ao final do segundo mandato de Dilma, o PT terá completado 16 anos no poder central, um recorde na nossa história republicana.
Só teremos nova eleição presidencial daqui a quatro anos. Até lá, os herdeiros dos barões de imprensa terão que esperar, se é que vão sobreviver aos novos tempos da mídia democratizada. Cegados pela intolerância, ainda não se deram conta de que não elegem nem derrubam mais presidentes. O país mudou, não é mais o mesmo dos currais midiáticos de meia dúzia de famílias, hoje abrigadas no Instituto Millenium.
Diante da gravidade dos acontecimentos nas últimas 48 horas que antecederam a votação, a partir da publicação da capa-panfleto da revista “Veja”, a última “bala de prata” do arsenal de infâmias midiáticas para mudar o rumo das eleições, não dá agora para simplesmente fingir que nada houve, virar a página e tocar a bola pra frente, como se isso fosse algo natural na disputa política. Não é.
Caso convoque uma rede nacional de rádio e televisão para anunciar os rumos, as mudanças e as primeiras medidas do seu novo governo – o que se tornou um imperativo, e deve ocorrer o mais rápido possível, para restaurar a normalidade democrática no país ameaçada pelos pittbulls da imprensa – a presidente Dilma terá que tocar neste assunto, que ficou de fora do seu pronunciamento após a vitória de domingo: a criação de um marco regulatório das comunicações.
No seu brilhante artigo “Dilma 7 X 1 Mentira”, publicado pela Folha nesta segunda-feira, o xará Ricardo Melo foi ao ponto:
“Além do combate implacável à corrupção e de uma reforma política, a tarefa de democratizar os meios de informação, sem dúvida, está na ordem do dia. Sem intenção de censurar ou calar a liberdade de opinião de quem quer que seja. Mas para dar a todos oportunidades iguais de falar o que se pensa. Resta saber qual caminho Dilma Rousseff vai trilhar”.
A presidente reeleita, com a força do voto, não precisa esperar a nova posse no dia 1º de janeiro de 2015. Pode, desde já, demitir e nomear quem ela quiser, propor as reformas que o país reclama, desarmando os profetas do caos e acabando com este clima pesado que se abateu sobre o país nas últimas semanas de campanha.
Pode também, por exemplo, anunciar logo quem será seu novo ministro da Fazenda e, imediatamente, reabrir o diálogo com os empresários e investidores nacionais e estrangeiros, que jogaram tudo na vitória do candidato de oposição, especulando na Bolsa e no dólar, e precisam agora voltar à vida real, já que eles não têm o hábito de rasgar dinheiro. Queiram ou não, o Brasil continua sendo um imenso mercado potencial para quem bota fé no seu taco e acredita na vitória do trabalho contra a usura.
O povo, mais uma vez, provou que não é bobo.
Valeu a luta, Dilma. Valeu a força, Lula.
Vida que segue.

Quer dizer que eu, que faço parte dos 48%, sou bobo, né, Kotscho e Nogueira?
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Muitíssimo provavelmente não haverá nem impeachment da reeleita, tampouco o tal marco regulatório dos meios de comunicação. E o discurso da vitória da presidente já sinaliza em tal sentido. Ali o mote foi a reconciliação, do retorno do clima da inimizade sob controle, cordial, às vezes, até. Há muito a perder de ambos os lados numa investida radical em direção a quaisquer destes dois objetivos. Sem contar que é infinito o telhado de vidro do tucanato nesta matéria que levaria ao impedimento da presidente. Num bem concatenado jogo de cenas, muito se falará, ameaçará, mas tudo será efetivamente deixado quieto.
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Impeachment? Esquece. O stf tem a maioria absoluta indicada pelo partido vermelho, que indicará mais 6 até 2018 (o próximo deve ser Adams). E com a eleição do molusco para 2018-2026, indicará outros. No marco regulatório, eu acredito em uma forma velada (no início) de censura. Depois, dependendo da situação, ela poderá ser ostensiva.
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Acusar sem provas não pode ser entendido como liberdade de imprensa. Nesse sentido, acusar sem provas é partidarizar a imprensa.
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De fato, Lopes. Mas, esta partidarização decorrente da acusação sem provas, fabricada, industriada, não é privilégio da chamada imprensa tradicional, a dita nova mídia também faz o mesmo. Esta, inclusive, tem se especializado em negar as provas que aparecem, como fez o Cafezinho que chegou a negar a existência de irregularidades na Petrobras, mesmo quando a própria presidente já admitira cabalmente que houvera feito um mal negócio em Pasadina porque fora induzida a erro pelo assessor.
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