Por Gerson Nogueira
Em situação aflitiva para tentar conseguir classificação à próxima fase, o Papão tem que vencer o Crac-GO em Catalão no próximo sábado e ainda torcer por uma combinação de resultados no grupo A da Série C. Para tanto, é natural que se entregue com afinco aos preparativos para a rodada decisiva. Só não precisa exagerar. No treino da manhã de ontem, na Curuzu, o goleiro Paulo Rafael e o volante Ricardo Capanema partiram para um corpo-a-corpo que nada teve de tático. Foi pancadaria mesmo.
O goleiro tomou a iniciativa dando um chute nas pernas do volante, que estava meio distraído ao lado do gramado. Surpreendido pelo golpe que é o preferido de Anderson Spider Silva, Capanema tentou sair da defensiva, mas Paulo Rafael foi mais ágil na esquiva. No instante seguinte, outros jogadores interferiram, apartando a briga.
Ninguém soube ao certo o motivo da agressão de Paulo Rafael ao companheiro de time. Deve ter sido algo muito grave, capaz de tirá-lo do sério e do foco que o jogo de sábado exige. Deixou de lado todos os princípios de boa convivência e partiu para cima do volante como fazem os encrenqueiros de rua. As imagens que já correm o país, com óbvia repercussão negativa, mostram que ambos iriam se engalfinhar caso a turma do deixa-disso não chega junto.
Triste espetáculo, que denuncia a instabilidade emocional dos atletas brigões e sinaliza problemas que rondam o elenco bicolor. Algumas outras situações já apontavam para divisões no elenco. Depois da partida contra o Treze-PB, na segunda-feira, o técnico Mazola Jr. disparou recados cifrados, que aparentemente tinham como alvo os jogadores Charles e Héverton. Antes dele, Vica havia colocado o dedo no suspiro, acusando de chinelinhos os chamados “nativos” do elenco. Parece que tinha razão.
Curiosamente, a confusão de ontem colocou frente a frente dois jogadores nativos que sempre demonstraram bom entrosamento. É claro que brigas são relativamente normais no ambiente do futebol, onde a competitividade produz muitas vezes estragos na convivência diária. Um conflito isolado não pode ser visto como revelador de uma crise profunda, mas o problema aqui é saber se o embate entre Paulo Rafael e Capanema não é sintoma de fissuras ainda mais profundas dentro do elenco. Para o bem de todos, espera-se que eventuais diferenças pessoais não estejam influindo na produção do time.
O afastamento sumário dos encrenqueiros é a providência mais salutar no terreno da disciplina, mas priva o Papão do menos pior de seus atrapalhados goleiros.
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Dirigentes defendem ideia de jerico
Cabeça de dirigente é território que ninguém desvenda. Os do Remo acabam de validar essa velha tese. Com a ideia de ampliar para 10 o número de times participantes da fase principal do Parazão eles também confirmam o apoio ao pior dos cenários para o futebol paraense.
Alguém precisa explicar aos cartolas que quantidade de clubes não significa lucratividade maior, pelo contrário. A dupla Re-Pa continuará a arcar com o ônus de um campeonato deficitário, que só consegue arrecadar algum dinheiro em jogos que envolvem um dos dois titãs. Daí a surpresa pela posição oficialmente defendida pelos azulinos.
Socializar a miséria não é o caminho mais inteligente, mas os principais interessados em salvar financeiramente o campeonato são os que mais insistem na teimosa opção de inchar o torneio. Que pelo menos não fiquem reclamando de prejuízo quando a competição mergulhar naqueles intermináveis jogos sem torcida nas arquibancadas.
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Dewson e as pedradas do preconceito
Em mais uma atuação segura, tanto no lado técnico quanto no disciplinar, o árbitro paraense Dewson Fernando Freitas da Silva começa a colher as pedradas típicas do preconceito contra nortistas. Depois de ter sido criticado injustamente por Vanderlei Luxemburgo após o clássico Fla-Flu, pequena parte da mídia radiofônica e televisiva contestou sua firme aplicação do cartão vermelho em Robinho (do Santos), depois de vergonhosa simulação em lance na área do Botafogo, no jogo de anteontem no Maracanã.
A jogada aconteceu aos 39 minutos quando o Santos vencia por 3 a 2. Robinho se estatelou na área, tentando cavar pênalti, mas Dewson não foi na onda teatral. Com aquela marra de jogador superestimado que sempre foi, o santista tentou peitar Dewson ao ser expulso (recebeu o segundo cartão amarelo), empurrando, soltando palavrões e chamando-o de maluco.
Dewson já é um dos melhores árbitros brasileiros e por isso tem sido escalado para jogos importantes, tanto nas séries A e B quanto na Copa do Brasil. Que continue assim.
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De volta aos bancos escolares
Quando a CBF reúne árbitros, técnicos e jogadores para explicar mais uma vez as nuances da regrinha do pênalti a gente descobre o motivo da derrocada do futebol no país, oficializada com aquela surra de 7 a 1 para os alemães na Copa do Mundo.
O país do futebol parece mesmo inapelavelmente dominado pela ignorância, a ponto de um conceito absolutamente claro sobre o que é ou não uma penalidade máxima suscitar interpretações tão desencontradas.
Pior ainda é descobrir que o especialista da Fifa escalado para esclarecer os brasileiros é ninguém menos que Jorge Larrionda, uruguaio que aprontou tantas e tantas maracutaias em jogos da Taça Libertadores.
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Direto do Twitter
“Queria essa raça e essa gana pra ganhar jogos e não pra cobrar o esmalte que sumiu.”
De Edson Amaral, irritado com as cenas de pugilato na Curuzu.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 03)