O arbítrio e a prepotência

Por Lúcio Flávio Pinto – http://lucioflaviopinto.wordpress.com//

O grupo Liberal de comunicação se considera acima da lei, acima da sociedade e acima de tudo mais. Faz o que quer, o que lhe dá na veneta. Como rasgar a constituição, a lei maior do país, o que fez neste final de semana simplesmente inacreditável.
Ciente de que o juiz Marco Aurélio Castelo Branco determinou a suspensão da divulgação da última pesquisa do Ibope, que seria feita pela TV Liberal na noite de sábado, 27, e pelo jornal O Liberal na edição de domingo, que circula ainda na tarde de sábado, a empresa concebeu um plano inédito na história da imprensa paraense, talvez brasileira e, quem sabe, mundial.
A decisão – em caráter liminar, ou seja, de imediato – do juiz foi publicada no site do Tribunal Regional Eleitoral às 19,29 de sexta-feira. A responsável pela contratação do Ibope e pela divulgação dos resultados, a TV Liberal, foi notificada às 22,47 da mesma sexta-feira. No direito eleitoral, a partir desse momento a pesquisa estaria suspensa até a apresentação de recurso contra a decisão e o seu acolhimento.
Para surpresa geral, o jornal circulou no sábado, já atrasado em relação ao horário normal desse dia, com edição dupla. No cabeçalho, dizia que a edição era referente tanto ao sábado quanto ao domingo. A razão para esse fato insólito era a manutenção no parque gráfico de O Liberal. Na edição antecipada saiu a pesquisa do Ibope, impugnada pela coligação que apoia a candidatura de Helder Barbalho ao governo do Estado e suspensa por determinação do juiz eleitoral, que se convenceu dos argumentos da petição.
O Liberal sustenta que a paralisação das máquinas é fato verídico. Argumenta também que apenas a emissora de televisão foi notificada, deixando livre o jornal, que decidiu publicar os dados da pesquisa porque a TV Liberal tem razão social distinta e não forma um grupo econômico com o jornal.
Nenhuma das alegações resiste ao confronto com os fatos e com a legislação.
Até a noite de sexta-feira não havia notícia sobre a tal da manutenção no parque gráfico do jornal. Foi só a partir da divulgação da decisão do juiz Marco Antonio que essa história começou a circular. Foi iniciativa tão súbita que apenas dois cadernos de publicidade, os que já estavam fechados, puderam rodar, além dos cadernos de edição antecipada, como o Troppo. As datas das páginas internas saíram desencontradas. E as máquinas continuaram a funcionar normalmente, tanto que o Amazônia circulou no domingo, mas sem divulgar a pesquisa, já então vetada novamente por outra decisão do juiz.
No direito eleitoral, que acompanha os fatos reais no momento mesmo em que eles ocorrem dada a dinâmica do processo eleitoral, que é diária, a publicação de uma decisão gera imediatamente seus efeitos. E na justiça eleitoral forma-se o grupo econômico no momento em que os veículos agrupados sob a mesma direção e propriedade são cadastrados para todos os efeitos do processo eleitoral, incluindo-se a realização e divulgação de pesquisas. Logo, todas as alegações do grupo Liberal são infundadas.
Talvez neste momento, sob o impacto da gravidade do que fez e alguma reflexão mais ponderada de conselheiros mais adestrados do que os que estiveram no fogo da manobra da madrugada de sexta-feira para sábado, alguém naquela casa se tenha dado conta do tamanho do absurdo perpetrado.
Um indicador disso foi a nota de abertura da coluna Repórter 70 da edição de hoje, atacando anonimamente a empresária beta Mutran, esposa do também empresário Délio Mutran. O crime de Beta, que era socialite com permanente nas colunas sociais de O Liberal? Ter feito uma reunião de apoio à candidatura de Helder Barbalho. A família dela é amiga de longa data da família do senador Jader Barbalho. Por isso foi acusada de enriquecimento ilícito e outras referências venenosas do jornal.
Os Maiorana se contemplam no espelho como Zeus na terra do tucupi e da maniçoba. Esse mundo vai perdurar ou está com seus dias contados? Às instituições e à sociedade cabe responder.

3 comentários em “O arbítrio e a prepotência

  1. Não há novidade nenhuma. Na terra do “sabe com quem está falando?” sempre foi assim… É claro que isso não legitima a forma abusiva com a qual esse poder é utilizado, mas a perspectiva para um futuro próximo, digo, pelos próximos 20 ou 30 anos, não é de mudanças significativas neste contexto. Torço para que a lei sempre saia vencedora, pelo bem da maioria.

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  2. Muito dinheirão que devia ser usado na educação, saúde, segurança, enfim, nas prioridades do nosso estado, não chega.

    Por isso que o desespero é tremendo.

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