Empresariado, mídia, FHC: tudo a ver

BxlnLxqIYAEBosi

Por Ricardo Kotscho, no blog Balaio do Kotscho:

Para quem gosta, foi uma festa. A trinca formada pelo empresariado paulista, a mídia e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso está mais afinada do que nunca. Só falta combinar com os eleitores, que pensam exatamente o contrário.
Nesta segunda-feira, em mais um convescote tucano patrocinado pelo promoter empresarial João Dória Júnior, 602 empresários e executivos “de grande porte”, segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, antigo porta-voz do grupo, reuniram-se num almoço em torno de FHC na tentativa de criar uma “onda de razão” capaz de desencalhar a candidatura de Aécio Neves e leva-lo para o segundo turno.
O ex-presidente gastou seu latim e, depois de desancar o PT, como de costume, na sua autonomeada função de ombudsman da corrupção, deu conselhos ao seu candidato sobre como combater o inimigo: “Não sou marqueteiro, mas a dramatização é um modo de comunicação importante. A Marina respondeu à Dilma de forma dramática quando disseram que ela acabaria com o Bolsa Família. Por que o Aécio não pode fazer isso?”.
Aplaudido de pé três vezes durante o discurso e por mais de cinco minutos em cada uma delas, de acordo com a reportagem de Pedro Venceslau e Elizabeth Lopes, FHC citou até Roberto Jefferson, para concluir: “Não haveria o mensalão se não fosse o Roberto Jefferson. Em certos momentos, é preciso dramatizar para que a população sinta o que está acontecendo. O que está acontecendo na Petrobras é passível de uma indignação direta, porque exemplifica o que está acontecendo em muitos outros lugares”.
Sempre em busca de um delator e novas denúncias para mudar o cenário eleitoral desfavorável, o guru e eterno formulador dos tucanos não foi capaz de apresentar nenhuma proposta para melhorar o país – pelo menos, não li nada a respeito no registro feito pela caudalosa e imperdível matéria publicada na página A6 do Estadão, sob o título “Ao lado de tucanos, empresariado faz aposta em Marina”.
Pois é, apesar do esforço de FHC, o empresariado amigo já mudou de lado, segundo a pesquisa em tempo real feita entre os comensais pela Fundação Getúlio Vargas e pelo Lide, a sigla do “Grupo de Líderes Empresariais” comandado pelo promoter.
Como diria o Galvão Bueno, o jogo já esteve melhor para Aécio. Neste quinto almoço (olha o regime!) promovido por Dória Júnior só este ano, ao contrário do que aconteceu nos anteriores, antes da morte de Eduardo Campos e da disparada da ex-senadora, os empresários desta vez jogaram suas fichas na vitória de Marina Silva, em clara demonstração de que votaram mais baseados no desejo do que em fatos ao responder à pergunta sobre quem vai ganhar as eleições de 5 de outubro.
Marina Silva, que está derretendo nas últimas pesquisas, ganhou disparado de Aécio: para 53% dos donos da grana, ela vai derrotar o tucano, indicado vencedor por 35%. Apenas 12% apostaram na vitória de Dilma, que vem ampliando sua vantagem em todos os levantamentos.
Em março, Aécio era apontado vencedor por 56%; foi a 60%, em maio, disparou para 80%, em julho, e registrou 64 %, em agosto. Eduardo Campos tinha só 8% em julho e Marina foi a 19% em agosto, após a tragédia aérea. No palanque armado pelo Lide para FHC e Armínio Fraga, “o futuro ministro da Fazenda” de Aécio, ninguém parecia muito preocupado com o destino do ex-governador mineiro e presidente do PSDB.
Se não der para ser com Aécio, a trinca mostrou que não tem nenhum problema em adotar Marina. O importante, para eles, é só derrotar o PT. O país que se dane.
Vida que segue.

4 comentários em “Empresariado, mídia, FHC: tudo a ver

  1. Bem que este trecho (abaixo) poderia ser adotado pelos Trabalhadores, vejamos: “O importante, para eles, é manter-se no poder. O país que se dane.” Nas minhas palavras, vamos contar todas as mentiras possíveis como: inflação sob controle, crescimento de 0,9% (a previsão internacional é de 0,3%), o petróleo é nosso e o fim do bolsa família. Pois, como Maquiavel, tudo vale para manter-se no poder, inclusive abraçar Sarney, Collor e Maluf.

    Curtir

  2. Faz-me rir Gusmão. Eu não faço parte dos 15 porcentos. Eu faço parte dos três porcentos da população que suspeitam da naturalidade/ normalidade com que se vê os desmandos e asneiras (pegue o discurso proferido pela mesma na ONU ontem) da atual mandatária, seu respectivo partido e aliados.

    Camarada, sou de origem pobre (digo pobre mesmo de caminhar e morar sobre pontes) e, melhor do que muitos, sei reconhecer a importância de determinados programas implantados na gestão dos trabalhadores (em que pese nunca ter precisado deles, até o momento, para ter sucesso – hoje estou cursando doutorado na UFPA e sou bem empregado), todavia, não sou cego ao ponto de dizer que o Brasil caminha bem (economicamente) com esta mandataria. Basta ir ao supermercado e ver que os preços desdizem todas as asneiras ditas pelo Mantega… Mas o bolsa está aí. É um belo cabresto eleitoral e uma boa jusficativa para fazer falso terrorismo em frente a TV e continuar no poder.

    Curtir

  3. Gusmão, também sou de origem pobre e assim como você também passeei por estivas durante os anos da infância e da adolescência. Por isso mesmo, nunca vou me posicionar contra um programa social do governo. Sabe?, os governos da Europa gastam muito dinheiro com seus desempregados, proporcionalmente até mais que o Brasil, e isso não é assim visto como assistencialismo. No Brasil, quem ajuda os pobres é logo taxado de populista e quem desenvolve programas sociais, de assistencialista. Mas não é chamado de socialista. Qual é o termo que designa aquele que determina políticas opostas, como as adotadas por FHC? Não há. Mas ele é tecnicamente(?) chamado de liberal. Veja bem, é um discurso de poder, imposto por quem escreve a história. Isso é uma apropriação da produção filosófica produzindo a legitimação de uma retórica liberal. Termos como “populista” e “assistencialista”, são alcunhas produzidas por quem é contrário às ideias socialistas, para ridiculariza-las, estigmatiza-las. Vargas é tido como o pai dos pobres até hoje, mas isso tido como um título ridículo, dado pela oligarquia brasileira, como se essa mais legítima de apoio governamental que o povo. Observe bem, o oposto de política social, endereçada ao povo é a política liberal, endereçada à elite econômica, como quem terceiriza o desenvolvimento nacional. Essa proposta neoliberal é apostar nos ricos, tidos como impulsionadores da economia. O socialismo vê a força de trabalho do proletário como a principal força da economia. Apostar num viés liberal nunca funcionou a favor do pobre no Brasil e um governo socialista, ao menos, diminuiu os efeitos nocivos de há muito sobre os que mais necessitam. Funciona mais ou menos assim: As políticas públicas quando voltadas aos mais ricos, uma política liberal, trazem alguma prosperidade quando o dinheiro é investido na cadeia produtiva, gerando emprego ao longo de toda essa cadeia produtiva, mas o dinheiro está investido aí, na produção, não no povo. Ao menor sinal de crise, o pobre está desprotegido. Quando as políticas públicas se voltam aos mais pobres, o investimento é no povo, que consome o que é produzido pela mesma cadeia produtiva. A diferença é que os produtores disputam a preferência do consumidor, para ter receita, enquanto a preferência do consumidor é secundário numa política liberal, já que o produtor tem apoio do governo para produzir, e não necessariamente criar emprego e renda nessa condição. Note, liberais concentram renda, socialistas, a distribuem.

    Curtir

Deixar mensagem para celira Cancelar resposta