Por Gerson Nogueira
No começo, parecia que a zaga do Papão iria se redimir das últimas jornadas infelizes. Até fechou o primeiro tempo invicta no Couto Pereira, ajudada pela confusa atuação da dupla ofensiva do Coritiba. Zé Love corria muito e Kêirrison se atrapalhava nas jogadas. Mas, de tanto insistir, o time paranaense acabou chegando ao gol aos 42 minutos. E o gol nasceu em jogada aérea, que virou o principal aleijão da zaga bicolor. No segundo tempo, mais um cochilo em cruzamento para a área e surgiu o segundo gol.
O Coritiba não jogou tudo o que podia, andou claudicando na metade do primeiro tempo e depois dos 20 minutos do segundo, mas foi sempre superior. Sem grande esforço, dominou o meio-de-campo e se posicionou na intermediária do Papão, cujos volantes e meias erravam todas as tentativas de saída para o jogo.
Única figura lúcida do time, o volante Augusto Recife se desdobrava para ajudar na cobertura dos zagueiros e distribuir os melhores passes para os atacantes Pikachu e Ruan. Marcos Paraná e Rafael Tavares só eram notados pelos erros de posicionamento e finalização, como na bola preciosa que Tavares matou de canela diante do goleiro Vanderlei.
Zé Love, que era o mais insistente dos atacantes do Coxa, conseguia faltas seguidas junto à área pela simples menção de chutar. Nem precisava se esforçar muito, bastava se aproximar e esperar o bote de Éverton Silva e Zé Antonio. Numa dessas, a bola foi cruzada na área por Dudu e o próprio Zé Love desviou no canto direito do gol de Douglas.
Justiça se faça. Pelo lance, ninguém pode culpar o goleiro. Se alguém falhou foi a linha de defesa, que não esboçou movimento no lance. Como já virou maldição desde a retomada dos jogos no segundo semestre, bola na área do Papão é quase certeza de gol. O baixinho Zé Love subiu na frente dos zagueiros Charles e Reiniê, que nem tentaram atrapalhar. Ficaram olhando e torcendo.
No segundo tempo, com a entrada de Dênis (em lugar de Rafael Tavares), o Papão acordou. Por 12 minutos apenas, mas tempo suficiente para assustar a defesa do Coritiba como não havia feito durante toda a primeira etapa. Ruan e Pikachu perderam chances claras para marcar.
Com o craque Alex em campo, o Coritiba cadenciou o jogo e passou a investir em lançamentos para os atacantes abertos pelas pontas. Kêirrison continuou centralizado e acabou fazendo o segundo gol, desviando cruzamento que partiu da direita, depois que Robinho venceu a marcação e os pontapés de Everton Silva. Para variar, outro gol de cabeça. E a zaga acompanhando tudo com os olhos, de novo.
O Coritiba ainda teve outras pontadas, principalmente com o arisco Élber e em cobrança de falta por Alex que o goleiro Douglas defendeu bem. Para surpresa geral, o Papão voltou a despertar da letargia nos 10 minutos finais. Essa súbita reação quase levou ao gol, com Héverton (que substituiu Ruan) e Dênis.
A tentativa de reação veio muito tarde, esbarrando ainda na boa presença do goleiro Vanderlei e na falta de pontaria dos atacantes. Vica escalou o time que considera mais confiável, mas parece estar esquecendo de treinar posicionamento de zagueiros e saídas rápidas em contra-ataque. Pikachu, Ruan e/ou Dênis só terão melhor rendimento ofensivo quando o time conseguir sair corretamente depois de retomar a bola.
Não é hora de invenção. O futebol é simples e assim deve ser praticado.
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Conversa de técnico sob fritura
Quando desce a lenha nos “chinelinhos”, provavelmente se referindo a jogadores que se lesionaram depois das três primeiras partidas sob seu comando, o técnico Vica repete um mantra que outros treinadores já repetiram na Curuzu, com maior visibilidade para Arturzinho e Mazola.
Ao atribuir aos jogadores a maior parcela de culpa pelas derrotas seguidas, Vica procura tirar o peso da responsabilidade de suas costas. É óbvio que o problema está em campo, mas quem deve montar o time é o treinador. Até aqui, talvez até por desconhecer o potencial dos atletas disponíveis, ele não chegou nem perto de estruturar uma equipe.
Fez mudanças que deram mais dinamismo ao meio-campo, mas desprotegeram a defesa. Com dois meias pouco efetivos (Marcos Paraná e Rafael Tavares), a zaga é condenada a ficar no mano-a-mano com os ataques adversários. Isso piora muito quando enfrenta um time forte e rápido, como foi o Coritiba na maior parte do tempo.
Caso consiga resistir até o jogo contra o Crac no próximo domingo, pela Série C, Vica precisará fazer uma completa depuração no elenco. Depois do que disse à Rádio Clube depois do jogo, deixou o ambiente ainda mais carregado na Curuzu.
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De mal a pior, até nas promessas
A mídia paulistana, naquele afã de sempre em descobrir cracaços – como Fernandinho, Willian e agora Kêirrison, que ontem jogou contra o Papão – já começa a soltar foguetes para o zagueiro Gil, do Corinthians. Segundo seus defensores, o grande mérito do becão é ser um emérito rebatedor de bolas. Traduzido do boleirês, significa que o dito cujo é especialista em dar chutão. Um Dante menos cabeludo, digamos assim.
Vai mesmo muito mal o futebol brasileiro no departamento da esperança.
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Direto do blog
“O torcedor tem que meter na cabeça que Vandick e Papelin, que formaram esse elenco, não montaram pensando em ir tão longe na Copa do Brasil. Ainda estão montando o elenco pra Série C. Pensem… Sinceramente, no jogo de volta colocaria o sub-20 pra jogar contra o Coxa e acabaria de ‘brincar’ de Série C, antes que seja tarde. Chega de pensar só em dinheiro.”
De Cláudio Santos, apontando os limites do elenco do Papão para disputar duas competições.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta sexta-feira, 01)