Retorno de Dunga não é revolução, mas retrocesso

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Por Cosme Rímoli

O novo técnico da Seleção já está contratado. Será anunciado às 11h, na próxima terça-feira, na sede da CBF. Os jornalistas já foram convocados para a entrevista coletiva de apresentação. Ou seja, tudo se sacramentou. Resta apenas saber quem será o substituto de Felipão. A rádio Jovem Pan, a revista Placar e o jornal Extra garantem. Gilmar Rinaldi teria acertado o retorno de Dunga. Nome surpreendente. Tanto quanto um empresário coordenar todas as seleções brasileiras.

Tudo rapidamente caminha para uma incrível mudança de cenário. José Maria Marin e Marco Polo del Nero não querem nem pensar em treinador estrangeiro. Nacionalistas, acreditam que o país conquistou cinco títulos com treinadores brasileiros e não seriam eles quem entregaria a Seleção a alguém que não nasceu por aqui.

As candidaturas dos dois favoritos ao cargo estão se desmanchando. Desde que o Corinthians não quis renovar seu contrato, dezembro de 2013, Tite ficou na espreita. Foi para a Europa, se ‘reciclar’, aprender como os grandes treinadores do mundo preparam os times, as seleções. Esperava usar esses métodos novos na CBF.

A espera tem sido em vão. Desde que Felipão foi demitido não recebeu nenhum contato. A garantia vem da própria família de Tite. E mais, pessoas que trabalham com o treinador garantem ser verdade. Cansado do desprezo por parte de Marin, o técnico já deixou vazar. Ele autorizou Gilmar Veloz a conversar com a Seleção Japonesa. Muito embora, o mexicano Javier Aguirre, tenha deixado tudo certo com o comando do time oriental. Seria uma última manobra para a CBF reagir.

Muricy Ramalho já cortou essa expectativa de Seleção. Seguindo o seu estilo, tratou de encerrar as especulações. Deixou transparecer que não ‘teria saco’ para comandar o Brasil. Até porque as coisas deveriam ser feitas de acordo com o que ele pensa. Ou seja não se submeteria às exigências de Marin e de Gilmar Rinaldi. Quer autonomia e independência que a CBF não deseja dar.

Marin quer um treinado que seja um funcionário subalterno. Que se adapte às exigências do presidente ao cargo. Não o contrário. Não há mais espaço para ‘estrela’ mandando na Seleção.

Wanderley Nogueira é um repórter com 44 anos de credibilidade. Não é polêmico. Nem faz questão de brigar para antecipar notícias. Trabalha na rádio Jovem Pan e na TV Gazeta há décadas. Ele está garantindo que Dunga já assinou até contrato com a CBF. Situação estranha. Não é típica da carreira de Wanderley. Bancar de forma tão intensa algo que os colegas não têm indícios.

Gilmar Rinaldi é, ou foi, empresário por 14 anos. Mora em São Paulo. Várias e várias vezes nos últimos anos foi figura constante nos programas de Wanderley. O laço de amizade entre os dois é enorme. O repórter da Jovem Pan já vem escrevendo sobre Dunga desde sexta-feira.

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A lógica indica que Gilmar não deixaria o amigo passar por ridículo. Já teria no mínimo o corrigido. Dito que não há negociação alguma. Muito pelo contrário. Hoje, Wanderley já crava a negociação. A revista Placar e o jornal Extra são menos intensos, mas garantem que o caminho para o retorno de Dunga está aberto.

O grande entrave para a volta de Dunga não existe mais. Na África do Sul, o treinador fechou a concentração para a imprensa brasileira. Inclusive para a Globo, situação que nem Felipão conseguiu enfrentar. Luciano Hulk, Mumuzinho, Patricia Poeta fizeram o que desejaram durante a Copa do Mundo.

Dunga teve uma discussão lamentável com o apresentador global Alex Escobar em plena coletiva na África. O xingou em plena coletiva. Situação bizarra. Mas que foi resolvida. Em novembro de 2012. Depois de dois anos e cinco meses. Ele e Escobar marcaram até tomar um café de reaproximação.

“Se um dia voltasse à Seleção não cometeria os mesmos erros”, disse antes de voltar ao batente.

Só então o treinador voltou a trabalhar. E não foi nada além do que razoável no Internacional. Ganhou o Campeonato Gaúcho. E foi demitido em plena disputa do Brasileiro. Após quatro derrotas seguidas. O time estava na 11ª colocação. Foram 53 jogos, com 26 vitórias, 18 empates e nove derrotas.

Dunga convocou mal para a Copa. Não acreditou na juventude de Neymar e Ganso. Bancou Kaká, apesar de o meia disputar a Copa com o joelho precisando ser operado. Apostou que conseguiria controlar o explosivo Felipe Melo. Enclausurou a Seleção na África. Seu mérito foi tirar o máximo da equipe contra adversários fracos, desestruturados. Venceu a Copa América, Copa das Confederações e a Copa América.

Nada de inovações táticas sob seu comando. Um 4-4-2 tradicional. De muito combate por parte dos seus atletas. Time ortodoxo. Voltado principalmente para os contragolpes em velocidade. E de marcação forte.

Sua demissão foi quase unanimidade nacional. Desde então, só voltou a trabalhar no Internacional, clube em que é um dos maiores ídolos da história. Mesmo assim, saiu pela porta dos fundos, demitido. Sua saída aconteceu em outubro de 2013. Nenhum grande equipe ou seleção o procurou. A não ser empresários representando a Venezuela. Está sem trabalhar há nove meses.

Por coincidência, seus telefones estão desligados. Amigos no Sul garantem que ele esteve os últimos dois dias em São Paulo. Onde mora Gilmar Rinaldi, seu companheiro em campo inclusive na conquista da medalha de prata olímpica em 1984, em Los Angeles. Em conversas nos últimos dias, os dois teriam acertado o retorno à Seleção. Com a certeza de que Dunga aceita viajar para a Europa buscando se reciclar, buscar o ‘mais moderno’ à Seleção.

CBF anuncia Gillette como sua nova patrocinadoraLimitando o cenário de treinadores a apenas brasileiros, Marin e Marco Polo caíram em uma armadilha. As opções são muito poucas. A ponto de Dunga ser o favorito a assumir o Brasil de novo. Deixou Tite e Muricy para trás. Isso não é revolução em lugar nenhum do mundo. Seria a contrarrevolução. Mas com Marin, tudo é possível. Se não der certo o seu retorno, em quem o Brasil vai apostar? Em Ricardo Teixeira?

Se for confirmado o furo de Wanderley, a escolha será um retrocesso. Dunga não tem o perfil tático para revolucionar a Seleção Brasileira. É um grande motivador, a exemplo de Felipão. Na Copa da África do Sul ele conseguiu deixar seus jogadores tão ou até mais despreparados psicologicamente para disputar a Copa. O time afundou quando tomou o empate contra a Holanda. E em seguida a virada, sendo eliminado nas quartas.

22 comentários em “Retorno de Dunga não é revolução, mas retrocesso

  1. Gilmar deve ter acertado com Dunga a “comissão” sobre as convocações. Bem ao nível Marim e Del Nero, não se pode esperar nada de novo senão muito papo furado e faz de conta. É preciso mais pressão popular para intervir politicamente no esquema das empresas que mandam no futebol.

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  2. Ao ler notícias sobre a volta de Dunga à Seleção, uma palavra não saiu de minha cabeça: retrocesso. A mesma do título do texto acima. Resta saber agora o porquê de nunca findar no comando da seleção a dinastia de técnicos gaúchos truculentos e retranqueiros como Dunga, Mano Menezes e Felipão, com a expectativa ainda da escolha de Tite, que agora parece remota. Já a escolha de Gilmar Rinaldi como dirigente de futebol da Seleção, lembra a fábula que fala da raposa tomando conta do galinheiro.

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  3. Os dirigentes que comandam os destinos da seleção estavam entre a cruz e a espada ou colocariam alguém no comando que batesse de frente com a globo ou colocariam alguém que iria abrir as pernas pra poderosa plim plim, optou pela primeira alternativa. Quanto ao futebol que a seleção irá jogar, isso será apenas um detalhe.

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  4. Impressionante a sina da seleção escolher treinadores que se repetem como farsa. Vicente Feola, campeão em 1958, voltou pra dar vexame em 1966, colhendo a pior colocação em 56 anos; Carlos Alberto Parreira, que nos tirou de uma espera que já durava 24 anos, em 1994, voltou em 2006 de forma tão patética que até desmentia a imagem, ao dizer que o Ronalducho não estava acima do peso e agora o Felipão, campeão em 2002, que voltou pra levar a mais acachapante tunda de toda a nossa história em copas do mundo. Como Dunga não foi campeão, talvez sua volta signifique apenas a vitória dos gananciosos domadores midiáticos diante de uma outrora fera.

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  5. Ainda não consigo crer. O trabalho do Dunga foi melhor do que o do Felipao. Mas, também contou com melhores jogadores em um momento técnico melhor, com mais tempo e melhores condições de preparar a Seleção. Mas, de fato seu retorno não significaria nem sequer uma tentativa de avanço. E se o Dunga realmente já foi amestrado aos interesses da RG, como sugere a crônica, a situação fica ainda pior. Tomara que tal “furo” não se confirme. E se ele já assinou contrato, tomara que seja para alguma outra missão, ligada à Seleção, mas longe do comando do time principal. Ainda aposto que seja algo assim.

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  6. Fato ou factoide? Ainda estou embasbacado com essa notícia. Será que ele vai continuar ou será técnico apenas até o final do ano? Se continuar, será mesmo um retrocesso. Inovação nunca irá vir de uma CBF que é comandada por Marins, del Nero e armação ltda.

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  7. Daqui a um tempo, amigo Antônio, muitos vão entender que o “pobre” do Felipão foi tão vitima dessa safra escassa, como nós torcedores.

    O Dunga, ou seja quem for, vai ter essa dificuldade.

    Vamos torcer pra que surja novos bons talentos.

    E isso é o principal desafio da equipe de trabalho, em conjunto com os clubes, principalmente, a ajuda da imprensa também.

    Ou será que tem gente que quer que um técnico estrangeiro venha pra cá treinar o 3° goleiro pra agarrar penais? ooooooooooooo, te dizer!

    Aliás o técnico alemão, tbm era muito questionado.

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  8. É Verdade, o técnico alemão e a própria seleção alemã eram muitos questionados pela torcida e pela imprensa. Aliás, o time e o tecnico holandês também eram criticados, e os próprios argentinos. Mas, vexame mesmo só a Seleção brasileira, técnico e jogadores deram.

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  9. Elenco é importante e sempre temos, mas é fundamental treino e entrosamento. A Alemanha não tem melhor elenco que o Brasil, mas tinha conjunto. Ai está a diferença.

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  10. Dunga simplesmente sumiu. E o sumiço tem haver com um certo contrato que ele teria acertado com a Venezuela,se for verdade o cara quebrou um acordo , para voltar para a melhor boca de todas.
    Com Dunga ou não , nada vai mudar , e não há ninguém interessado nisso.

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  11. Aos amigos Edson e Antônio Oliveira,

    Sobre a safra de jogadores: a safra não é das melhores, mas nada justifica o placar de sete em uma semifinal. Tal placar é prova clara da falta de preparo técnico e tático do Felipão e sua comissão, todavia o problema não se resume a Felipão, todos os técnicos do Brasil são sofríveis, basta acompanhar os jogos do brasileiro.

    Ainda sobre safra de jogadores: safra não cai do céu amigos, ela, como sementes, são plantadas para serem colhidas. Aqui no Brasil espera-se o acaso, na Alemanha (na reportagem da ESPN e SPORTV) fica claro o trabalho da federação em conjunto com os clubes em descobrir os talentos e a lapidação desses. O objetivo do trabalho não é lucrar com jogador, o que acaba ocorrendo naturalmente, mas valorizar o futebol enquanto esporte.

    Sobre Dunga: fez um trabalho melhor que Felipão com um grupo limitado (o grupo de Dunga não era melhor nem pior do que o de Felipão), mas, depois da vergonhosa derrota e participação razoável as duras penas (Brasil caiu para sétimo do ranking mesmo com a semifinal) na copa. Esperava-se que o Brasil quisesse reestruturar o futebol e, consequentemente melhorasse seu jogo, com Dunga e principalmente com Gilmar isso será inviável, Gilmar foi apenas um goleiro razoável e tem um trabalho pífio nos bastidores do futebol, nunca trabalhou para o bem do futebol (vide Adriano imperador que era empresariado por ele), trabalha apenas para seu bolso.

    Bom domingo aos colegas do blog e vamos Papão!!!

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  12. Desculpem-me pelo texto sofrível… No celular não costumo a revisar ortografia e coesão. Cansei de sair da página, perdendo todo o texto, na tentativa de revisar outros escritos. Espero que este texto esteja, pelo menos, coerente.

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  13. Amigo Celira, a péssima safra não responde integralmente pelos 7 a 1. Mas, pelo menos uns quatro gols estão vinculados a ela. Os demais estão atrelados ao desequilíbrio psicológico, à defasagem tática, e à voracidade deletéria da cbf que lenta e gradualmente trouxe o futebol brasileiro até esta etapa constrangedora, pra dizer o mínimo. E o excelente time da Alemanha, com sua respectiva preparação de longos anos, capitaneada por dirigentes competentes e comprometidos com a evolução do futebol não tem nada a ver com nada? Ah, claro que tem. Mas, contra times de verdade, formados por jogadores verdadeiramente bons e bem preparados, inclusive psicologicamente, só é suficiente para vencer de 1 a 0. Ah, e ganhar a copa também. Goleadas só em arremedos como Brasil e Portugal.

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  14. Eu não daria tantos gols a safra ruim. Penso que temos alguns bons jogadores. Inclusive estes são titulares em seus times. Agora se Felipao não escalou e armou o time corretamente é outra história. Vejamos:

    Davi Luiz é bom zagueiro
    Thiago é um bom zagueiro
    Dante (que jogou muito mal) é um zagueiro razoável
    Miranda bom zagueiro, não foi convocado.

    Luiz Gustavo é bom volante.
    Hernane é bom volante de saída. Foi pouco utilizado.
    Fernandinho é bom volante de saída.

    Oscar é meia de destaque no Chelsea.
    Wilian é meia de destaque no Chelsea.

    Everton Ribeiro poderia ser convocado.
    Kaka tinha espaço na safra (experiência).
    Robinho tinha espaço (experiência).
    Ganso (se trabalhado e recuperado pelo técnico) ou Ronaldinho pela experiência.

    O Brasil deveria ter jogado com três volantes contra a Alemanha e deveria ter tirado a referência no ataque. Se tivesse feito isso a goleada não teria vindo. Felipao ignorou. Achou que poderíamos fazer um jogo parelho. Eles tem mais qualidade, todavia cansamos de ver times inferiores tecnicamente igualar e vencer jogos na base de uma boa arrumação tática.

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  15. A história recente mostra que os técnicos que assumem após a copa não chegam a próxima, vide Falcão, Mano e outros; são vitimados pelos maus resultados em jogos amistosos que não valem nada e até mesmo as eliminatórias, quando não tem tempo de uma preparação adequada e brigam com clubes pela liberação de alguns jogadores. Observem que o Muricy rejeitou duas vezes o convite, justamente por conhecer a brevidade no cargo do técnico que assume nestas condições. O Mano fez todo o trabalho de peneira, após o fracasso de 2010, mas quem foi à Copa foi o Felipão.

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  16. Aliás, é exatamente na coesão w coerência do seu texto que busco amparo para ancorar minha divergência: todos os que você cita amigo Celira, você sempre os qualifica SÓ de bons jogadores, o que realmente são. Valendo ressaltar que a maioria deles não experimenta a traqiilidade de ser titular absoluto e incontestável em seus clubes, nem mesmo o Neimar que é nosso craque.
    (…)

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