Longe demais do centro do mundo

Por Gerson Nogueira

A visão que os técnicos brasileiros têm do jogo é algo para ser revista com urgência; Quase sempre arrogantes, donos absolutos da verdade e sensíveis demais a críticas, todos – sem distinção – armam seus times com a mesma filosofia dos tempos de Oswaldo Brandão e Yustrich. O mundo evoluiu, as modernas plataformas tecnológicas facilitam a comunicação instantânea e o acesso fácil às diversas formas de conhecimento. Há, porém, um setor aparentemente inexpugnável e ele é guarnecido pela velha mentalidade dos que dirigem times no Brasil. 

unnamed (39)Os jogos semifinais da Liga dos Campeões da Europa, maior torneio de clubes do planeta, têm como duelistas três técnicos europeus e um sul-americano (argentino Diego Simeone). Na fase anterior, havia ainda Tatá Martino, do Barcelona, também argentino. Ouve-se a respeito disso o argumento de que ambos foram ajudados no futebol espanhol pela facilidade do idioma. Pode ser, mas não explica tudo. Vanderlei Luxemburgo foi muito atrapalhado pela gramática de pé quebrado na terra de Cervantes, mas certamente caiu em desgraça pela incapacidade de dar liga a um grupo de galácticos.
Para quem acompanha este começo de Campeonato Brasileiro em suas duas primeiras divisões não surpreende que os treinadores brasileiros se mantenham afastados dos principais centros. Equipes retrancadas, agarradas à cautela, proporcionaram exibições horrorosas, salvo discretas exceções. Na Copa Libertadores, os nacionais sucumbem diante de treinadores de agremiações modestas, sem história ou maior lustro.
León, Bolívar, Atlético Nacional, San Lorenzo, Lanús. Todos são times com estrutura bem definida, que desempenham uma estratégia clara em campo. Os brasileiros se notabilizam pelos cruzamentos para a área e a eterna esperança de um contra-ataque feliz. Ainda ontem à noite, na Colômbia, o apenas esforçado Atlético Nacional deu um sufoco no campeão continental Atlético Mineiro. Paulo Autuori, técnico do time mineiro, passou o jogo mordendo os lábios e sacudindo a cabeça, incapaz de ordenar uma mudança de atitude de seus jogadores diante da iminência de um gol inimigo – que, obviamente, acabou acontecendo.
Nossos astros, que gostam de ser chamados de professores, precisam urgentemente de reciclagem. Sempre é possível aprender mais um pouco.
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As contas que atormentam o Leão
Em meio a preocupações quanto à evidente queda de rendimento do time no campeonato, exposta na derrota perante o Independente em Tucuruí, um outro drama começa a inquietar a diretoria do Remo. Sem nenhum patrocinador privado, além do Banpará e do repasse da Seel (pois os valores da Big Ben foram adiantados até dezembro de 2014), o clube desdobra-se para manter em dia uma folha salarial que beira R$ 600 mil, puxada por quatro salários na faixa de R$ 50 mil e ao pacote emergencial firmado com Roberto Fernandes e sua comissão técnica.
Dos dos donos de maiores salários no elenco, apenas um se mantém como titular, o que provavelmente afeta o clima geral na tropa. Todos os contratos, diga-se, sem qualquer parecer do departamento jurídico do clube, o que significa certamente uma enxurrada de processos mais à frente.
Um grande benemérito, defensor da ousadia administrativa do presidente Zeca Pirão, avalia que a ele só falta uma voz moderadora, um conselheiro que recomende prudência nos momentos mais impulsivos. Com ironia, ele avalia que seria aconselhável que a lei da Fifa que impede o Barcelona de fazer novas contratações fosse imposta também ao Remo, livrando o clube de futuros dissabores.
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Uma repetição do caso Naviraiense?
A notícia começou a circular desde cedo, primeiro sob a forma de rumor, logo amplificado para boataria pesada. Finalmente à tardinha, o advogado Alberto Maia confirmou ao repórter a decisão de recorrer ao STJD reivindicando o título da Copa Verde (e consequente vaga à Sul-Americana 2015). Baseia-se na suposta perda de prazo pelo Brasília para registrar a reforma de contrato do meia Gilmar, autor do primeiro gol da decisão da última segunda-feira. O fato aparentemente guarda semelhança com o caso do Naviraiense, que, no ano passado, escalou contra o Papão um jogador também não inscrito regularmente junto à CBF.

A questão, agora, vai depender da análise e julgamento do STJD, caso a denúncia do vice-campeão da Copa Verde seja acatada pelo tribunal.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta quinta-feira, 24) 

23 comentários em “Longe demais do centro do mundo

  1. O que é mais intrigante, em relação ao pífio desempenho dos clubes brasileiros, é que torcedores e até a dita crônica especializada costumam sentenciar que o Brasil atualmente se ressente de craques. No entanto, quanto tem a oportunidade de ir jogar em outros clubes, nossos atletas mostram seu valor e comprovam estar totalmente equivocada a dita sentença. Basta ver como jogam Fernandinho pelo M. City e o William pelo Chelsea.
    Com efeito,enquanto grande parte dos componentes das manjadas mesas redondas repisam a quadrada especulação a respeito da utilização dos decadentes Robinho e Kaká, os dois citados anteriormente, o Felipe Coutinho(Liverpool), o Felipe Luís(A. Madri), o Miranda(A. Madri), o Leandro Castan(Roma) vão exercendo a titularidade absoluta nas equipes onde atuam e são ídolos das respectivas torcidas, o que mostra haver um tácito pacto de mediocridade estabelecido entre aqueles que compõe a inteligentsia do nosso futebol, salvo as honrosas exceções conhecidas.

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  2. Execelente tema Gerson. Em termos de comparação seria, para mim, o seguinte NBA (futebol europeu) NBB (futebol brasileiro). O primeiro é um espetáculo fantástico de se assistir, atraindo público que se quer gosta de futebol. O segundo é uma coisa bisonha feita exclusivamente para fanáticos por futebol.

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  3. Agora está virando moda no Paysandu, perderam ano passado para o Naviraiense correram para o tapetão, agora perderam para o Brasília querem correr para o tapetão. Porra, vai começar a série C, tem que reforçar o time.

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  4. Gérson, se me permite uma pequena correção, na verdade apenas o técnico do A.Madri ( Diego Simeone) dos que estão na semifinal da liga dos campeões, é do nosso continente, os demais são Europeus, Guardiola ( Espanha), Mourinho (Portugal) e Ancelotti (Itália).
    Abraços!

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  5. Verdade Thiago, bem observado. Ainda temos com relativo sucesso o argentino Bielsa e o chileno Pellegrini.
    E pensar que o Guardiola praticamente se ofereceu à CBF. Te dizer…

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  6. Quando assisto aos jogos da Bundesliga (certame alemão), Premier League (certame inglês), UCL, UEL e dos principais times espanhóis, a impressão que tenho é que assisto a um outro futebol, uma espécie de “futsal ampliado” tamanho o dinamismo, a velocidade, o alto índice de passes certos, a ofensividade e a compactação entre meio-campo, ataque e defesa. Há tempos defendo a tese do intercâmbio. Nossos “professores” não precisam de atualização. Devem ser é colocadoa de escanteio mesmo. Só assim talvez se reciclacem à fórceps.

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  7. O estranho é que apesar da capacidade reconhecida de alguns técnicos sulamericanos, estes não servem para o futebol brasileiro. Na Europa vez por outra um desponta, aqui no Brasil os dirigentes preferem fazer um rodízio sempre com os mesmos técnicos fracassados.

    Tata Martino é técnico do Barcelona que foi eliminado nas quartas de final pelo Atlético de Madrid.

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  8. É fácil fazer futebol num continente onde os times quase todos são centenários, tem estrutura de boa pra ótima, séries organizadas com patrocínios fortes etc…, o que dá aos artistas ( jogadores e técnicos ) condições boas de desempenharem seus papéis, não precisando principalmente o TECNICO armar um time não pra vencer e sim pra vencer pra que ele não perca seu cargo.

    Em resumo, podemos melhorar sim, mas vamos parar com esse complexo de vira lata de querermos nos equiparar a quem está longe de nós, porém, quando se deparam com uma SELEÇÃO BRASILEIRA se apequenam, pois esta, possue em todos os sentidos uma estrurura que faz frente pra eles, tantos que somos penta campeão de futebol, e se não fosse o Roberto Carlos, seriamos Hexa.

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  9. Pois é Felipe, não servem, porque lá eles não olham na panela e nem dormem pensando em agradar pra não apanhar de gangues organizadas.

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  10. A evolução do futebol europeu, é consequência da profissionalização, todos os grandes de lá, estão de parabéns, nós daqui teremos que copiar e praticar, senão, será falência total.
    Quanto ao adversário azulete, cada dia que passa mais eu lembro da música do Luiz Ayrão “BOLA DIVIDIDA”, a situação lá, está tal e qual, porém, a vida é mesmo assim, quem semeia vento, colhe tempestades, já dizia minha avó. eles assim quiseram; mas também dá prá lembrar da música do Luiz Américo, “O gás acabou, tem pouca comida acabou meu dinheiro, pagamento tá longe e ainda não pintou o 13º……” a fonte secou e aí, cadê os grandes investidores e patrocinadores que o visionário e competente diretor, prometeu, ou ainda o time é grande e tem nome e isso atrai investidores, cadê???? TUDO POTOCA!!! a iniciativa privada é rica porquê não é babaca, só investe onde existem possibilidades concretas e condições de auferir lucros, e GRANDES lucros, o que não é o caso do futebol azulete, só isso, conformem-se e aceitem a realidade.
    Quanto ao Grande Bicolor Celeste Amazônico, nada de falso pudor, em todas as competições existem Leis e Regulamentos muito bem estabelecidos, se alguém os quebra ou os vilipendia, sofrerá as sanções, ponto final, nós mesmos já fomos vítimas de tais Leis e Regulamentos, sofremos as sanções e as penalidades; se o atleta do Brasília foi inscrito de forma extemporânea, configura irregularidade facilmente comprovável e o prejudicado deverá sim buscar os tribunais visando reverter a situação em seu favor, agora como é caso interpretativo, mesmo havendo comprovação, não é parada ganha, o Causídico, em muito deverá desdobrar-se para fazer valer seus argumentos, há de convencer a Corte, tarefa sobremaneira, árdua.

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  11. Em relação ao campeão paraense, o papão se viu que o adversário tentou ou burlou a lei, tem que recorrer mesmo, isso não é vergonhoso, vergonhoso, é fazer as coisas erradas por baixo dos panos, se o papão fez tudo certo, que os outros façam também.

    Aos invejosos um abraço!

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  12. Parabéns ao Pirão, se o Remo tiver passando por situações difíceis mesmo, só há duas razões:

    O Gato comeu o dinheiro.

    Ou é isso que foi colocado na coluna, pois pra um time que sequer tem divisão, e monta um time com folha de 600 mil, e faz tudo o que ele, só podia dá nisso.

    O Parabéns é se a 2° for a verdadeira, demonstra o caráter do cidadão, o mais novo el louco do nosso futebol.

    Agora se for a primeira…rsrsrsrs…Chaveirinho, Rafael Moura e Heverton mandaram lembranças!

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  13. Ainda sobre o tema principal, Edson, concordo que a estrutura ajuda. Todavia, a grande diferença é a visão técnica e tática. Os jogadores no Brasil são formados em posições demarcadas, este futebol não existe mais. Nossa seleção ainda se destaca graça a duas coisas: nossos jogadores jogam na Europa, tendo adquirido esta mentalidade, e nossos jogadores ainda são bons (diferente de nossos técnicos).

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  14. – Em se tratando de futebol, somos tão arrogantes quanto os americanos costumam ser. Essa mentalidade só irá acabar quando o Brasil deixar de ser a seleção que mais ganhou Copas do Mundo. Quando esse longínquo e abençoado dia chegar, deixaremos de ser atrasados e arrogantes. Até em nosso “quintal” nossos técnicos levam traço de sul-americanos.

    – O CR tinha dinheiro de sobra no início da temporada. Onde ele foi parar? O gato comeu?

    – Acho difícil o PSC conseguir ser campeão nos tribunais, até porque é uma final de campeonato, diferente do caso Naviraiense em que era apenas uma partida de mata-mata.

    – Quem eram Oswaldo Brandão e Yustrich?

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  15. Amigo Celira, tocastes num ponto muito interessante NBA, por lá, bem diferente do futebol brasileiro, toda a cota de patrocínio da liga americana de basquete é dividida por igual entre os participantes, e mais, os destaques da liga universitária americana são sorteados entre as agremiações para participarem do campeonato profissional. Os demais patrocinadores privados dos times americanos de basquete é que contribuem com a diferença entre esta ou aquela equipe. No Brasil, digamos assim: 100 milhões para o Flamengo, 90 milhões para o S. Paulo, Palmeiras, Santos e Corinthians. 80 milhões para o Fluminense, Vasco e Botafogo, e para os “sem expressão” 1 milhão!, logo, a disparidade é imensa e os plantéis sulinos nem sempre os vencedores (Rio- São Paulo) é que ficam com a maior fatia do bolo!

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  16. Excelente, a coluna de hoje, Gerson, sobre a incompetência dos técnicos brasileiros ! Já disse, aqui, e repito: não vejo mais a MÍNIMA GRAÇA em ver jogos do Brasileirão, desde já 4 anos… Meu interesse ficou só para o PSC e Brasil, em Copa do Mundo ou C. Confederações.

    Muito bem notado, Celira e Daniel.

    Sobre o PSC, a Série-C já CHEGOU e a lesma do Vandick parece-me que ainda NÃO aprendeu a duríssima lição do ano passado… Falta-lhe mais visão e ousadia, diria eu.

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  17. Eu só queria saber uma coisa, quando os defensores da turma de fora se referem a um futebol de 1° grandeza, quero crer que se refiram aos grandes clubes europeus, pois se for todos, pera lá…

    Ontem assistir poucos minutos de Sevilla x Valencia, e ví um peladão daqueles, e um técnico de gravata vermelha que parecia animador de circo.

    E quem fazia uns lampejos pelos dono da casa, era o Vargas, que recentemente vestiu a gloriosa camisa gremista

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  18. Em geral o Brasil nunca foi mesmo um celeiro de grandes técnicos. No Brasil o que deu sempre aos montes foi craque, muitos craques, gênios com a bola nos pés. Além de outros muito bons jogadores que não chegam a ser craques mas que são capazes de formar em qualquer clube do exterior e se dar muito bem. São desnecessários exemplos de jogadores tanto de uma estirpe, quanto de outra.

    Atualmente tem caído o nível de nossos jogadores. O Brasil não tem produzido craques em profusão como antes produzia, mas mesmo assim muitos dos jogadores que nem amarrariam a chuteira de um Rivelino, por exemplo, são considerados diferenciados e valorizados ao extremo e com razão no exterior.

    Aliás, o Brasil, via de regra, foi campeão sob o comando de técnicos de capacidade questionável e efetivamente questionada, louvando-se sempre na categoria de seus jogadores, sempre à base de seus jogadores diferenciados.

    Outra coisa, por incrível que pareça, na época em que o Brasil produzia craques em larga escala, seus clubes não obtiveram muitos campeonatos mundiais, cujos títulos, no mais das vezes, eram obtidos por times europeus. Noutras palavras, à medida que o nível da produção de craques veio caindo, o nível da conquista de títulos mundiais foi aumentando.

    Ou seja, o futebol jogado nos campeonatos estrangeiros, principalmente na europa, ao longo da história, parece ser mais organizado e melhor desenhado taticamente que o jogado no Brasil, tendo levado vantagem no mais das vezes nos confrontos diretos entre os clubes. Estando mais ou menos equilibrado quando se trata de Seleções, especialmente com aquelas mais tradicionais na disputa dos títulos.

    Em suma, seguindo, em parte, a trilha de alguns que aqui já comentaram, entendo que o problema do futebol brasileiro, mais propriamente do campeonato brasileiro, inclusive no que diz respeito às exibições horrorosas, não está na baixa capacidade e falta de reciclagem dos treinadores, mas, sim, no trabalho desenvolvido pelos dirigentes, empresários e agenciadores de atletas, inclusive na organização dos campeonatos. Sem descartar, é claro, ainda que numa medida inferior, esta entre-safra de craques que já vem se alongando demasiadamente.

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  19. Quanto aos investimentos dos dirigentes azulinos, já nem sei mais o que dizer, a não ser que que temo que o Remo mais uma vez vai pagar o pato. Afinal, o pagamento do salário não está atrelado ao êxito no gramado. Quer dizer, se não ocorrer nada de positivamente diferente, não demora, depois do tradicional corpo mole dos atletas decorrente do atraso salarial, vai chegar o momento da Justiça do Trabalho aplicar aquela sangrada no patrimônio do Clube do Remo que também já é tradicional.

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