Por Gerson Nogueira
Nos três atos do jogo de ontem, pode-se dizer que o Paissandu decepcionou no primeiro, mas foi vibrante e guerreiro nos instantes finais do segundo. Preservou as esperanças de conquista até a série de penalidades, quando as incertezas e tensões acabaram prevalecendo. O Brasília levantou a taça com méritos e um futebol às vezes surpreendente.

Mazola Junior entrou com um time cauteloso demais, preso à marcação e esfriando até o ânimo da torcida alviceleste, em maioria no Mané Garrincha. Confiando na vantagem do empate, o Papão não saía do joguinho de enceradeira no meio-campo e travava nas subidas ao ataque.
Mais ainda: deixava de explorar as fragilidades de marcação do adversário. Com o passar do tempo, o Brasília se posicionou melhor em campo, avançou Mateuzinho e Fernando, pressionando as laterais do Papão. Providência de duplo efeito: ganhou campo e oportunidades seguidas de cruzamento, além de inibir as subidas de Djalma e Aírton.
No caso de Djalma, o prejuízo do Papão era maior, pois a ele caberia botar em ação a velha dupla com Pikachu, responsável por inúmeras vitórias conquistadas pelo corredor direito. Ambos, por sinal, jogaram muito abaixo do que costumam mostrar.
Teve ainda a jogada isolada em que Zé Antonio recebeu livre pela esquerda e desperdiçou a chamada bola do jogo – talvez do título. Bateu sem direção, diante do goleiro, tendo Pikachu e Lima a esperar o passe na pequena área.
O segundo ato do espetáculo começou com a expulsão de Charles e o gol (de Gilmar, de pênalti, aos 39 minutos). O lance nasceu de desatenção total da defesa e da saída estabanada do goleiro Mateus, driblado pelo atacante Clécio.
Quando veio o segundo tempo, ainda com a zaga desarvorada pela ausência de seu melhor beque, o time começou fraquejando. Uma arrancada sensacional de Fernando pela direita entortou dois marcadores – Aírton levou uma finta de treino – e a bola chegou limpa para a conclusão tranquila de Alekiton, desmarcado à altura da marca do pênalti.
Só com a entrada do moleque Leandro Carvalho foi possível ver em campo a velha flama bicolor. Mesmo isolado pela esquerda, criou situações perigosas, quase sempre levando a melhor sobre a dura marcação do Brasília.
Os donos da casa buscavam controlar o jogo e desperdiçaram dois bons lances de área, mas, em raro contra-ataque, Lima poderia ter mudado a história da final com o gol anulado pelo bandeirinha, aos 33.
No final, quando tudo parecia perdido, Leandro acertou um disparo rasteiro e sem defesa, recolocando o Papão na disputa. Por oito minutos seguintes, o Brasília se arrastou em campo, mas os bicolores preferiram administrar e aguardar as penalidades.
Na série de cobranças, os erros dos bicolores podem ser avaliados como acidentes de trabalho. Lima parece ter errado a passada ao avançar para a bola, indicando ao goleiro onde iria botar a bola, e Héliton bateu no canto errado. Acontece.
Grande jogo, com momentos heróicos, como deve ser uma decisão. (Fotos: CADU GOMES/DF)
Direto do blog
“Dentro das limitações foi um jogaço, desses em que as duas torcidas têm que aplaudir ao final. Eu achava que o Brasília iria fazer 3×0, mas o Paysandu superou minhas expectativas. Quando Lima pegou a bola e se preparou, sério, eu falei pra minha esposa – tá muito nervoso, e ela – quem não está? Quando ele partiu sem velocidade e deu aquela paradinha estranha, certamente não treinada, eu disse – ih, perdeu! Não deu outra. Os caras do Brasília correram sempre atrás nos pênaltis e controlaram os nervos. Parabéns pra eles. Amigos bicolores, encarnação faz parte. como diz o Claudio, isso é apenas futebol. E vamos todos nos unir e torcer pelo mesmo time daqui a quarenta dias, onde a decepção e o choro podem ser infinitas vezes maiores!”.
De Maurício Carneiro, bicolor naturalmente triste mas sem perder a ternura jamais.
(Coluna publicada na edição do Bola/DIÁRIO desta terça-feira, 22)
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