O mico maior

Por Renato Maurício Prado

O maior vexame do Flamengo, na noite de quarta-feira passada, no Maracanã, não aconteceu dentro de campo, mas na tribuna. Lá, ao final da partida que selou a desclassificação rubro-negra na fase de grupos da Libertadores, o presidente Eduardo Bandeira de Mello resolveu bater boca com os torcedores que deixavam o estádio e quase iniciou um tumulto generalizado.

Os depoimentos que se seguem são os mais detalhados, entre vários que recebi sobre o assunto. Um episódio constrangedor que evidencia o descontrole e despreparo de Bandeira para lidar com a torcida e as críticas naturais após um fiasco como protagonizado nesta Libertadores.

“Renato, assisti ao jogo com o meu filho; chegamos com a bola rolando, não havia mais lugares e ficamos em pé na rampa de acesso ao setor inferior oeste. Um pouco antes de terminar a partida, vi o Bandeira de Mello com a família e, algumas cadeiras à direita, o Wallim.

Consumada a tragédia, fiquei observando as reações do presidente, que ficou de pé, olhando fixamente para o campo. Já estava cercado de seguranças, quando torcedores que saíam do nosso setor notaram a sua presença e começaram a xingá-lo pela derrota, falta de reforços, ingressos caros, etc…

Um destes ficou parado na rampa, o encarando, de longe. E Bandeira de Mello, ao invés de ir embora, como fez o Wallim, ficou apontando para este torcedor e, fisionomia transtornada pelo ódio, desandou a mandar o sujeito “tomar caju” (diversas vezes!), dizendo que ele era isso aquilo e aquilo outro. Uma cena absolutamente ridícula ainda mais para alguém que ocupa seu o cargo.

Tal destempero fez com que outros torcedores, revoltados, começassem a subir mais para perto dele, aumentando o tom das ofensas. Aí, um dos filhos do presidente e mais uma mulher que estava no grupo tentaram partir pra briga! Estavam também transtornados, gesticulando e xingando e acabaram levados embora pelos seguranças. Mas o próprio Bandeira não queria sair!

Todos que estavam por perto e não se envolveram na confusão, como eu, ficaram perplexos. Retrucar cobranças de torcedores com xingamentos grosseiros equivale a ofender a torcida inteira. E nessa noite 60 mil rubro-negros proporcionaram uma renda de R$ 3 milhões. Eu, pessoalmente paguei quase R$ 250 para estar com meu filho naquele setor. Ou seja, a torcida contribuindo como sempre, mesmo estando o time cheio de jogadores que nem sequer tem condições de vestir aquela camisa. Quando o Negueba vira salvação… Não era isso que esperávamos de um presidente. Após tanta incompetência e erros grosseiros, no futebol, essa diretoria ainda acha que está com a razão? “.

Nem uma senhora escapou

Outro depoimento sobre o mesmo vexame:

“Fui ao jogo e, assim como os 60 mil outros torcedores, estava confiante na vitória. Paguei R$ 160 pelo ingresso e minha cadeira ficava bem perto da Tribuna de Honra. Fim de jogo, chateado, fui saindo quando me deparei com um tumulto que vinha de lá, onde um homem descontrolado, falava vários palavrões, xingando todo mundo. Uma senhora que estava ao meu lado, espantada, ainda retrucou:

— O que é isso Presidente?

Nem posso falar para aonde o nosso Presidente mandou a torcedora… Fiquei paralisado: sabe qual a idade desta senhora? 72 anos. Lamentável. Faltou educação, respeito com o torcedor. Alguém deveria lembrá-lo de que é o presidente de um clube que tem 40 milhões de torcedores. Gostaria de saber se ele tratava os parceiros do BNDES assim”.

Castigo merecido

A verdade é que nem o Flamengo nem Botafogo mereciam a classificação. Montaram elencos fraquíssimos, queriam o que? A eliminação na fase de grupos, numa das edições tecnicamente mais fracas da Libertadores nas últimas décadas, dá bem a medida das suas gigantescas limitações.

O recado do Bagá

Ao apanhar os jornais na porta, pela manhã, me deparo com um papel de pão rabiscado com garatujas quase indecifráveis. Como conheço os garranchos da caligrafia do Bagá deu pra traduzir:

“Chefia, parte da turma do arco-íris, que estava rindo à toa com a eliminação do Mengão, já murchou a orelha e enfiou o rabo entre as pernas, após seguir o mesmo caminho. Já os demais… Bem, os outros não foram aqueles que acabaram rebaixados DE NOVO no Brasileirão do ano passado? Pouco importa que um deles tenha escapado (como de hábito) graças ao tapetão… Não têm condição de rir de ninguém a não ser de si mesmo. Fui!”

2 comentários em “O mico maior

  1. Nem acho que os elencos sejam tão fracos assim, embora o Flamengo tenha conseguido a proeza de formar um time mais forte pro campeonato regional do que pra Libertadores. Afinal, Luís Antônio e Marcio Araújo não foram inscritos pra competição continental e o material humano à disposição de Jaime perdeu consideravelmente com esses dois desfalques.
    Mas Fla e Bota tinham algo em comum: trouxeram dois símbolos do anti espírito competitivo da competição. Elano e Jorge Vagner passeavam no gramado e evitavam quaisquer eventuais divididas, certamente, porque, como dizia Fio Maravilha, suas respectivas contas bancárias já estavam devidamente multiplicadas.
    Para que não seja entendido que Elano e Vagner foram os maiores responsáveis, faça-se as devidas referências aos treinadores dos dois times cariocas. Com efeito, esses foram os verdadeiros responsáveis pelas posturas adotadas por suas equipes. Lembro que no primeiro jogo do Fogão, no Maracanã, comentei aqui neste blog a respeito do imenso espaço que dava pro adversário, defeito jamais corrigido resultando disso a principal causa da eliminação alvi-negra.
    Com o rubro-negro não foi diferente. No jogo da desclassificação, passou o jogo todo sendo marcado em seu campo e marcando o adversário a partir do grande círculo. A impressão que dava é que fazia isso porque Elano, Leonardo Moura e André Santos não tinham pique pra realizar uma marcação capaz de incomodar o adversário. Também pagou caro por sua crônica apatia e, mais uma vez, fez tudo diferente daquilo que anunciou, novamente. Logo, não por acaso passaram pela competição. Passarinhando.

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