2014, a Copa que o Brasil já perdeu

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Por Thiago Arantes

O Brasil será o grande derrotado na Copa do Mundo de 2014. Esqueçam esquemas táticos, análises técnicas, convocações, gols ou arbitragem. A derrota não virá numa zebra nas oitavas de final contra a Bélgica, num duelo épico de quartas contra a Itália, numa semifinal angustiante contra a Espanha ou num Maracanazo reloaded contra a Argentina.
A derrota já veio. O Brasil perdeu a Copa de 2014.

O Brasil perdeu, leiam bem. O que vai acontecer com a seleção brasileira é outra história. Uma história que muda pouco o que realmente importa. O Brasil perdeu a Copa de 2014.
Um evento como a Copa é a chance de um país mudar, se redescobrir, sanar problemas e construir soluções, mesmo que seja sob a fajutíssima desculpa de “o que o mundo vai pensar da gente se não estiver tudo dando certo?”. Que seja, dane-se a pequenez da desculpa, desde que sejam construídas estradas, linhas de metrô, corredores de ônibus, elevadores, hotéis, e, vá lá, até um ou outro estádio.A Copa do Mundo é, para os tempos de hoje, o que foram as tais “Exposições Mundiais” no século 19. Era preciso se arrumar para receber visitas em casa.

325_38ef8f78-0e81-3d65-985b-36b4fd953cbfMas o Brasil hoje corre para retocar a maquiagem, empurra a vassouradas a sujeira para debaixo do tapete, tranca os cachorros pulguentos na despensa e manda a criançada dormir mais cedo, porque sabe como é criança quando chega visita, desanda a falar cada coisa…
Faltam pouco menos de dois meses para a Copa das Confederações, e o estádio da final não está pronto. Aquele estádio na Zona Norte do Rio, que foi erguido no lugar do Maracanã ao preço mirabolante de 1 bilhão de reais; e que terá de ser reformado para a Olimpíada.
(Aqui, um parêntese: todas as reportagens sobre estádios da Copa têm a obrigação de falar quanto custou e quem financiou a obra; isso é utilidade pública, antes de mais nada).
Faltam menos de dois meses para a Copa das Confederações e nenhum aeroporto teve reformas significativas concluídas. Pouco mais de um ano para a Copa do Mundo e os taxistas que falam inglês continuam a ser uma raridade, as placas de trânsito seguem indecifráveis para estrangeiros, os hotéis e vias públicas não vão dar conta do recado, obras de mobilidade urbana de Manaus, Brasília e São Paulo não ficarão prontas – umas foram canceladas, outras postergadas, todas custaram irreversíveis milhões e não é difícil adivinhar quem pagou a conta.

A um ano e dois meses do começo da Copa, o presidente do Comitê Organizador Local está cercado por denúncias, e não é para menos. José Maria Marin, o homem que gere a operação Copa do Mundo no Brasil, passou seus mandatos de deputado bajulando delegados ligados às torturas da ditadura, superfaturou a sede da CBF, negociou apoio na aprovação de contas da confederação dando cheques a seus eleitores.

Enquanto isso, o secretário-geral da Fifa, Jerome Valcke, diz que a organização da Copa do Mundo no Brasil seria mais fácil se o país fosse menos democrático e tivesse menos esferas de governo, legal é a Rússia, que tem um poder centralizado e menos palpiteiros.
A organização da Copa do Mundo seria mais fácil, monsieur Valcke, se ela estivesse nas mãos de gente diferente. De gente que não estivesse interessada apenas em sugar dinheiro do país com o benefício de isenção de impostos. A organização da Copa do Mundo seria mais fácil se ela fosse feita para, de fato, deixar o país com algumas pequenas vitórias em áreas que vão muito além do campo de jogo.
O Brasil de Felipão, de Neymar, de Ronaldinho ou Kaká, o Brasil pentacampeão, seja com volantes classudos ou brucutus, pode ganhar ou perder a Copa de 2014.
O Brasil de 200 milhões de pessoas, aquele que acordará no dia 14 de julho de 2014 para trabalhar, este sairá da Copa derrotado. Qualquer que seja o resultado da final. (Da ESPN Brasil)

18 comentários em “2014, a Copa que o Brasil já perdeu

  1. Ainda bem que Belém está fora desse mico. Quem está roubando milhões sabia disso e está pouco se importando. Bobo é o povo, que pensava num grande evento, em melhorias, em legado e coisa e tal. Nunca me iludi. Copa das Confederações? Vários amigos já comprararam ingresso para ver jogos em Fortaleza. Pergunta se eu me abalei. Pergunta se eu vou assistir um jogo in loco em 2014.
    Ah, e o Brasil corre altíssimo risco de perder no campo também. Tristeza.

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  2. O próprio Romário já chamava a atenção para o que aconteceria e como está acontecendo, empresários ganhando turrões de dinheiros em obras faraônicas inacabadas. As cidades entregue as baratas e pior de tudo os aeroportos piores que muitas rodoviárias do exterior em nada foram modernizados!
    O caos previsto irá se concretizar!

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  3. E o culpado de tudo isso é o GOVERNO.

    É ele quem libera a maioria dos bilhões para a torrefação e é quem concede as isenções. E o pior é que o Valcke e demais, nunca estão satisfeitos, estão sempre querendo mais.

    E os 200 milhões de brasileiros, ou um pouqionho menos (bem pouquinho mesmo), não precisam esperar até 14 de julho de 2014 para contar as perdas da derrota. Desde agora já perdem em todos os setores da vida em que o GOVERNO deveria comparecer com estes milhões que ele entrega de mão beijada (ou não) para os insaciáveis organizadores da copa. Educação, saúde e segurança, à frente.

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  4. Parabéns Thiago Arantes, você disse tudo e um pouco mais, essa é a realidade do que se passa sobre a copa 2014, e digo mais, o legado que tanto falam, será o endividamento dos governos estaduais e prefeituras, que invés de pegar esse dinheiro através de empréstimo, investir em saúde e educação por exemplo, foram praticamente obrigados a construir bilionários estádios, em que os jogos são realizados e coordenados pela iniciativa privada. Vocês lembram da promessa de que os estádios seriam construídos com dinheiro da iniciativa privada? pois é, não cumpriram e ficar sem ninguém fazer nada, sem protesto, sem ação civil pública, sem nada.
    Pobre Brasil!

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  5. Simplesmente a Copa 2014 refletirá que somos um país corrupto que encobre seus problemas sociais. Seremos uma nação bastante envolvida pela paixão do futebol e feliz por alguns momentos. Estaremos ludibriados dos aspectos podres sobre os superfaturamentos das obras e o descaso com o que é básico para uma país que quer ser respeitado. O pior de todos os enganos momentâneos será a nossa esperança em uma das piores seleções da nossa história. Mas o Galvão Bueno e companhia cumprirão o seu papel global de disfarçar a verdade dos fatos. Sem qualidade na educação, saúde, moradia etc. Vamos fingir que somos o país do futuro.

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  6. Concordo com tudo, mas acrescentaria uma frase. Em se tratando de povo brasileiro, devo dizer que: O Brasil sendo campeão, o povo vai estar pouco se linchando se teve ou nao roubalheira, obras de urbanização, melhoras dos aeroportos, trens, hotéis, mobilidade urbana, etc… O povo quer saber e de comemorar e dizer ao Mundo, que o Brasil e Campeão, quanto ao resto, e o resto, por mais que critiquem, falem mal, mas todos vão para a rua comemorar e extravasar.

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  7. Se não der Brasil vou torcer junto com o Rocildo para a Argentina. Eu sabia que o Roça acha bonito as cores do Papão.
    Valeu Roça, vamos juntos torcer para a Argentina.

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  8. O Thyago estava fazendo o que nos ultimos quatros anos??? dormindo??? A Copa vai ser amanha.agora nao adianta quebrar as teclas e nem derrubar arvores,o conformomismo que assola o brasileiro permite umas quinhentas copas.
    Thyago esqueceu que vai haver legados. Corintians, Caprichoso e Garantido que o digam…Impressao minha, ou a ESPN nao vai transmitir os jogos da copa…

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  9. Se o tal Arantes(nada a ver com o Pelé, seguramente) acha que a Copa será um fracasso, entre outras coisas, porque os taxistas tupiniquins não falam inglês que ouça o dia inteiro aquela música do Silvio Brito “Tá todo mundo louco”, talvez descubra que todo ano o Rio de Janeiro abriga mais de um milhão de turistas só no carnaval, grande parte graças a esses taxistas monoglotas que os ajudam a passear.

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  10. Estranho, estranho… A Copa traz mesmo a marca dessa derrota do povo, sim, até aí tudo bem. O estranho é que no Brasil a denúncia de um J. M. Marín é sempre função da exposição da mídia e de algum interesse contrariado… A denúncia no Brasil nunca vem porque é o povo a vítima, mas porque alguém queria um naco e levou coisa alguma. Qual a motivação (real) para um texto que, embora bem escrito e factual, não trará resultados práticos para o povo? Dado que o jornalismo no Brasil (Gerson, me perdoe), há muito tempo, é visto por muitos, e cada vez mais pessoas, como mero informe publicitário, onde as matérias pagas predominam, onde os interesses do povo são pano de fundo de histórias escabrosas, sarcásticas às vezes. O que deve ocorrer durante a Copa é mais que previsível: a Globo vai mostrar festa e mais festa, um estrondoso sucesso, enquanto a concorrência vai se apegar às reportagens policiais e ao terror. A imprensa brasileira não é só politizada, é partidariamente política.

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  11. Eis aí outra verdade, há sempre um componente de despeito nas críticas d’alguns trabalhos da espn quando se trata de brasileirão e copa do mundo, não perdem uma chance de desdenhar daquilo que não pode ou não conseguem comprar. Já quando o assunto é Copa do Brasil para a emissora do Trajano tudo sempre parece andar no melhor dos mundos. Mas, esta postura, assim dizendo, comprometida da espn, não é capaz de apagar o fato de que a prioridade do GOVERNO quando se trata de grandes investimentos está bem distante do que é realmente essencial.

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  12. Manchete do JN, quando a seleção for desclassificada na Copa: Tragédia verde-amarela – Brasil está fora da Copa. Outras serão: o Sonho acabou ! Depois, irão fazer análises e análises, começando com a pergunta: O quê aconteceu com nossa seleção ?! Aí, aparecerão técnicos, ex-técnicos, nacionais e estrangeiros, e jogadores e ex-jogadores, nacionais e estrangeiros, e torcedores nacionais, todos para dizer o quê já se sabe.

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  13. Creio que muito antes de a bola rolar nos gramados das 12 (doze) cidades que sediarão os jogos, a Copa já modificou o cenário político da nação. Curiosamente, uma sucessão de fatores culminaram pelo estabelecimento de um clima de indignação e consequente protagonismo político fora do comum, no cidadão.

    É que o povo tem acompanhado a urgência dos preparativos para o evento, que envolve a construção de uma infra-estrutura, incluindo reformas de estádios de futebol; modernização de Aeroportos; construção de auto-estradas, etc. Tudo para se garantir o atendimento das demandas do superaquecimento do turismo, evitando os embaraços da deficiência dos serviços públicos pré-existentes.
    Os meios de comunicação passaram a divulgar o conceito de “Padrão-FIFA”, quando referiam-se às exigências que a Fédération Internationale de Football Association (FIFA) tem feito quanto aos projetos arquitetônicos dos estádios, que tem exigido o emprego de vultosos recursos. Diante da incoerência de termos Escolas de Educação básica sem a mínima estrutura para o seu bom funcionamento; Hospitais Públicos que são verdadeiros depósitos de gente moribunda, onde o paciente entra com uma doença e sai com outra, vários setores da comunidade passaram a questionar a flagrante inversão de prioridades.
    Alguns chegam a posicionar-se contra a Copa apontando essas incoerências como razão que justificariam a impropriedade do emprego de tantos recursos em um evento onde a maioria dos cidadãos brasileiros sequer terão condições de participar, em detrimento das deficiências existentes nos serviços de Saúde; Educação; Transportes, etc que permanecem sem solução.

    Em seu site Oficial, a FIFA afirma ter como missão “construir um futuro melhor”, buscando liderar pelo exemplo e direcionar a força do futebol e a influência que possui sobre o esporte e sobre os seus parceiros para produzir mudanças positivas na sociedade e no meio ambiente, daí o conceito do “padrão-FIFA” que a meu ver, se constitui no maior legado que a Copa do mundo de 2014 deixa ao povo brasileiro.

    Só podemos entender melhor as manifestações públicas que passaram a ser notícia no cotidiano da imprensa nacional e internacional ao percebermos que o povo assimilou esse legado. Deseja e com razão, Escolas Padrão-FIFA; Hospitais Padrão-FIFA; Aeroportos e Rodoviárias Padrão-FIFA, enfim, um Brasil Padrão-FIFA. Saiba mais Em: http://celsojardim.blogspot.com.br/2013/07/o-legado-da-copa-do-mundo-de-2014.html

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